Coluna

Uma taça de vinho e um passeio de Opala

15/12/2020 20:31
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Agora há pouco recebi o resultado do meu teste para Covid-19. Deu negativo. Por isso me sentei correndo para registrar como alguém se sente ao tirar um elefante de cima dos ombros.
Estou com aquilo que, até fevereiro, chamávamos serenamente de virose. Fazia-se piadas sobre o diagnóstico: virose era um termo genérico que, desconfiávamos, os médicos utilizavam para todos os males que incluíam alguns sintomas bem banais: coriza, dor de cabeça, dor no corpo, fraqueza etc. Eu tive esses sintomas e, como não estamos mais em fevereiro, mas sim neste período especial chamado de pandemia, fiquei preocupada.
A família insistiu para que eu fizesse o teste. Fiz em um laboratório particular que, para entregar o resultado, demorou tempo suficiente para fazer de mim uma pessoa mais humilde, confusa e sofrida.
No que foi que errei? Onde poderia ter tido contato com o maldito coronavírus?
Mesmo agora que sei que não é “ele”, ainda me pergunto como posso ter sido contaminada por um vírus qualquer, se vivo praticamente em lockdown há dez meses. Será que ando descuidando do álcool gel?
Então é virose, mas não a corona-virose, também chamada de Covid-19. Os sintomas diminuíram e, além do mais, estou muito aliviada. Dá vontade de sair para comemorar. Opa! Não dá. Então a comemoração se limitou a uma taça de vinho no almoço.
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Isso me lembrou um episódio vivido na época da faculdade. Naquela época, batíamos papo pelo telefone fixo sob os olhares reclamões do resto da família, que também queria usar a linha. Em um desses papos, meu colega Claudio se queixava que estava entediado, um pouco deprimido, e eu o convidei a ir até a minha casa. Quando ele chegou, não parecia entediado. Ao contrário. É que no caminho entre sua casa na Conselheiro Carrão e a minha, na Visconde de Guarapuava, um motorista fechou o Opala que o Claudio tinha emprestado do pai e provocou um pequeno acidente. Foi sem consequências, mas parou o trânsito, deixou o outro motorista muito nervoso e exigiu que meu colega controlasse a situação. “Sabe que estou me sentindo melhor agora?” – Ele me disse, todo sorridente. “O susto me fez me sentir mais vivo.” E para comemorar que tudo estava bem, fomos dar uma volta de Opala.
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Nós somos assim. Não vicejamos totalmente na paz e na tranquilidade. Precisamos de sustos e choques para abrir os olhos.
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Cadê o Opala, Claudio? Hoje é dia de dar uma volta para comemorar.
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Meu pensamento agora está com quem recebeu o diagnóstico positivo. Ele não é uma sentença de morte. Quanto mais a pandemia avança no tempo, mais eficiente vai se tornando o protocolo de tratamento. Mas continua sendo muito assustador. Estamos juntos! Estamos em guarda!