
Meus alunos gostam muito da minha aula nº 8: Como elaborar análise das tirinhas e charges?; eu também fico bem serelepe enquanto peço que colem no caderno as tirinhas e as charges reproduzidas, porque tenho a oportunidade de mostrar aos jovens uma variedade de exemplos, encontrados nas revistas, jornais e livros, do talento indiscutível da turma que trabalha com os traços, as cores e a crítica inteligente sobre os fatos da vida ou mesmo de pura fantasia.
Olhe ai a tirinha que saiu hoje na Gazeta do Povo; é mais uma produção do Benett, mas aqui você poderá ver a do Paixão e a do Tiago Recchia, igualmente poderosas no estilo e nos objetivos temáticos.

Não sei se você acompanhou …
A Folha de S. Paulo publicou uma reportagem( 19/5) contando tim-tim-por-tim-tim sobre a atitude do governo estadual paulista com relação à obra em quadrinhos contendo palavrões e conotações sexuais que entrou nas escolas públicas. O governo mandou recolher o livro didático, porque reconheceu a falha na seleção do material. Foram 1215 exemplares. O Paulo Ramos e o Waldomiro Vergueiro trocam em miúdos a pendenga, no artigo ” O Óbvio: quadrinhos não são só para crianças” (exclusividade p/ assinantes); eles declaram com veemência que é preciso olhar criticamente o fato e analisar a repercussão obtida; temem as generalizações e as costumeiras críticas preconceituosas em relação aos quadrinhos.
Eu recomendo aos fãs dos quadrinhos e aos interessados nos temas educacionais a leitura do comentário dessa dupla, mas também que os leitores não percam a mira no que realmente interessa: a adoção inapropriada desses quadrinhos em livro didático.

Gosto e trabalho profissionalmente com a maioria dos gêneros literários, mas sou fã escancarada do talento dos cartunistas, contistas e cronistas; penso, entretanto, que há um componente imprescindível para que qualquer texto chegue às mãos das crianças: a adequação cognitiva, a maturidade para assimilar isto ou aquilo que as mãos dos professores apresentam em sala de aula. A pressa na entrega das informações que demandam amadurecimento cognitivo não gera bons resultados, nunquinha. Convém atentar com cuidado às eventuais restrições feitas equivocadamente ao gênero – o quadrinho adulto – nos livros distribuídos aos escolares da terceira série do ensino fundamental.
Nem anjinhos e nem capetas!
Permitir ou não que os quadrinhos e charges com conteúdo sexista ou direção que avilte o imaginário infantil são (des)preocupações da família, da escola e da sociedade, instâncias que teoricamente desejam uma cabeça boa para a piazada normal, que vive a infância em brincadeiras e apropriadas alternativas de lazer, inclusive com os gibis espalhados pelo quarto ou na sala, hábito que alimenta indiscutivelmente o gosto pela leitura.
Direção segura na infância faz falta
Quem é adulto equilibrado discerne o que lhe convém ler, mas as crianças precisam de direção segura – e mesmo os cadernos jornalísticos que publicam tiras ou charges pouco apropriadas aos pequenos leitores devem ficar atentos, porque ao contrário de disseminar a leitura desse gênero fazem uma associação com o ignóbil, o chiste abusado e a insolência disfarçada em risos e insultos descabidos.
É preciso cuidado e bom senso, sempre
Na maioria das vezes os jornais e revistas entram nas casas pelas mãos dos adultos. Eu, sinceramente, não gostaria de surrupiar o caderno que sempre trás tirinhas nos jornais que assino, porque o conteúdo eventualmente seja impróprio aos pequenos leitores que costumam frequentar as minhas aulas de leitura e redação – e você, se tivesse filhos , irmãos e alunos ainda crianças tomaria essa atitude? Eu, infelizmente, já escondi alguns suplementos de um grupo de alunos e até da minha filha (quando ela tinha menos de 10 anos), ao perceber incoerências e inapropriações nas tirinhas. Fui elevada à categoria de censora, mesmo a contragosto, mas escondi o caderno babão e o suplemento sexista com a consciência bem tranquila.
Quer escrever um pouco sobre o assunto?

Proposta 1 – Examine exemplos de dois quadros das tirinhas que provocaram a retirada do material escolar pelo governador paulista; exponha objetivamente as suas impressões sobre a retirada desse material didático. Lembre-se: argumentar exige clareza expositiva. Opine com equilíbrio; fuja dos jargões, das expressões chulas ou argumentos destituídos de lógica. Lembre-se: não está em questão o indiscutível talento do autor, mas sim a inadequação da tirinha no interior de um livro escolar.
Proposta 2 – Elabore um comentário depois de analisar a filosófica charge do Pancho; veja se a declaração – O mundo não está perdido ainda. Existe a velha e honesta pomada vick vaporub... – seria compreendida pelas crianças da terceira série do ensino fundamental; correlacione os itens necessários para que uma tirinha ou charge seja apropriada aos pequenos leitores.
Na série de textos comunente presentes nas provas dos vestibulares concorridos as tirinhas e as charges dizem um alô certeiro, portanto, não deixe de examiná-las regularmente, prezado vestibulando. Olhe abaixo a dupla de links bem bacanas; clique e divirta-se:
> Salmonelas – o Benett está hoje bem do jeito que a escola gosta; confira.
> O Blog dos quadrinhos – o Paulo Ramos, um dos autores do artigo indicado , lá em cima, apresenta ótimas dicas e comentários sobre o divertido mundo dos quadrinhos.
Até a próxima!



