
Trabalho há décadas com a redação e tanto aprecio o escrever que estabeleci com ele a mais extrema familiaridade; não passo um dia sequer sem redigir algo. Quer exemplos? Elaboro instruções para as minhas oficinas, escrevo bilhetes domésticos, faço uma anotaçãozinha aqui e ali nos cadernos dos meus alunos, respondo e envio comunicados pela internet e também pelo celular , redijo cartas manuscritas à minha mãe, produzo e encaminho comentários para as seções os leitores dos jornais, escrevo para os blogs ou ainda preparo mais um capítulo para outro livro. Jornalistas e escritores também vivem essa intimidade com as palavras expressas no papel. Experimente ler o que Cristovão Tezza comenta hoje, na Gazeta do Povo, sobre o tema – e se tiver disposto a analisar o assunto examine o que declaram os leitores atentos na Coluna do Leitor na mesma edição do jornal.
Eu sonho com esta pátria plenamente alfabetizada e que a redação deixe de ser um exame classificatório à universidade, mas o temor que a escrita exerce sobre os brasileiros é desproporcional , sobretudo quando presenciamos a conversa solta, que rola nas situações presididas pela oralidade. Na conversa ao telefone, no papo amigo e nas ocasiões de descontração oral a maioria de nós ganha aplausos na desenvoltura, na facilidade de expressão. A fala é para nós semelhante a um cavalo sem arreios, mas a escrita, convenhamos , precisa ser concatenada, mirar objetivos e vencer desafios circunstanciais. Escrever é estabelecer, atribuir sentidos e disposição às palavras; exige, além da reflexão sobre determinado tema, o conhecimento dos recursos textuais e a mira no interlocutor para que as palavras saiam por ai dançando e estabelecendo as suas conveniências comunicativas.
Profissionalmente são inúmeras as ações ligadas à escrita que até organizei um ABC da Redação. Quer conhecê-lo? Pois comece examinando o nosso Alfabeto, ora acrescido, depois do Acordo Ortográfico, das letras K, W e Y. Comento frequentemente com os meus alunos que toda a escrita começa com a reflexão temática, mas é com esse jogo bem divertido de juntar as letras para formar as sílabas, organizar as palavras, compor as frases, os períodos e os parágrafos que a produção de textos acontece ilimitadamente. Confira algumas amostras.

A – Adequação é a palavra de ordem na escrita; é preciso ajustar o atendimento dos propósitos comunicacionais; se o texto exige linguagem formal, pois o atendamos e se ele prevê descontração lingüística lhe ofereçamos a linguagem coloquial, por exemplo.
B – Burilar é aperfeiçoar o estilo e nada melhor do que treinar a escrita e afastar todo elemento que nela apareça para desvalorizá-la; tome aqui as gírias, as redundâncias e o vocabulário chulo e grotesco.
C – Coesão e Coerência são duas expressões recorrentes na escrita; quem desatende a necessidade de nexos na redação deixará de fora a coerência com toda a certeza; é necessário conhecer e explorar todos os recursos coesivos (as conjunções, os pronomes relativos, as preposições, a pontuação, etc.).
D – Diversidade lingüística é uma possibilidade na redação; está ligada sempre ao atendimento do interlocutor; é possível utilizar dos níveis da linguagem para ajustá-los aos interlocutores correspondentes. Veja a linguagem presente nos livros voltados ao público infantil ou juvenil; são ajustados à compreensão lingüística dessa fatia de leitores.
H – Habilidades são requisitadas durante a escrita; não é de hoje que interpretar com segurança as informações, traduzir alegorias e articular recursos textuais para concatenar as idéias em um texto são exigências imprescindíveis na redação.
I – Interlocutor é para quem devemos atentar invariavelmente na escrita; todo texto representa um ato de linguagem e a figura de quem lê o que escrevemos é fundamental para ajustar as intenções do que se escreve.
J – Jargão lingüístico na redação deve ser utilizado entre aspas, pois é uma derivação do léxico; termos técnicos de determinada profissão são utilizados como gírias. Quer alguns exemplos? Os encontrados no vocabulário jurídico, nos textos de economia, nas locuções esportivas, entre outras, muitíssimo variadas.
L – Liberdade de expressão é uma conquista fabulosa em nosso país; expressar as idéias de modo claro e objetivo e com liberdade para discordar ou concordar de algo é sensacional. Por exemplo,na correção dos textos opinativos nunca estará em apreciação a sua opinião, mas sim a estrutura textual utilizada para veiculá-la.
M – Morfologia é conhecimento decisivo na composição de um texto; identificar formas das palavras e saber escolhê-las para dar sentido às nossas idéias é uma aliada da autonomia com a escrita. Verbos, pronomes, conjunções, interjeições, substantivos, adjetivos e outras categorias alimentam as frases e quem sabe articulá-las nunca terá dificuldades de expressão.
N – Nomenclaturas são necessariamente presentes na rotina de quem escreve; quer um exemplo: recursos textuais, desinências indicativas de gênero, número e grau, sinais de pontuação, recursos coesivos, figuras de linguagem, etc.
O – Ortografia não é um grande obstáculo durante a escrita, no entanto, escrever desafiando as convenções ortográficas não deve ser uma prática. Será conveniente rever as regras convencionadas para não ser corrigido nesse quesito.
P – Pontuação é domínio sempre em destaque para quem escreve; dificilmente alguém redigirá bem se não souber utilizar os sinais que marcam as pausas na escrita. Tenho insistido com os meus alunos para que adotem outros sinais na redação, porque a maioria fica apenas na vírgula, nas aspas e no ponto final. Por que não se diversificar o uso dos sinais? Travessão, parênteses, reticências, dois pontos; pontos de interrogação e de exclamação fazem a dinâmica expositiva das idéias.
Q – Qualidade textual é decorrente do conhecimento dos elementos de texto e de intenso exercício com as palavras; quem escreve qualitativamente é porque treinou muitas vezes a expressão das idéias no papel ou mesmo na tela do computador.
R – Rascunhar é uma atitude; deve ser adotada por quem deseja êxito no produto final do seu trabalho de escrita; vale como um esboço; é uma espécie de texto sujeito às alterações convenientes.
S – Situar o leitor é fundamental quando se escreve e a escolha dos tempos verbais, das adjetivações, do gênero textual, entre outros elementos do texto são pistas fundamentais ao interlocutor.
T – Tematizar significa analisar um assunto com aprofundamento; pode-se realizar uma tematização sobre, por exemplo, a violência, práticas de cidadania, vantagens e desvantagens da escrita online, etc.
U – Unidade textual significa a coordenação das partes de um trabalho com a escrita. Devem estar articulados, por exemplo, a introdução o desenvolvimento e a conclusão, caso contrário a unidade expositiva estará comprometida.
V – Vocabulário é um elemento que reflete a apreensão de significados de quem escreve; é sinônimo da intelecção ou grau de inteligibilidade; é um item de destaque na redação e também na oralidade.
X – Xenofobia é a aversão às pessoas e elementos estrangeiros; na redação manuscrita expressões de origem estrangeira devem ser destacadas entre aspas e apenas utilizadas quando não se contar com elemento correlato em língua portuguesa – e na escrita online devem aparecer em itálico para marcar a diferença léxica.
Z – Zelo com a unidade de sentidos na redação é o que você deve manter durante a escrita. Concatenar idéias e expressá-las através da escrita exige cuidadosa atenção aos elementos estruturais, próprios da numerosa tipologia textual. Quer exemplos: não rasurar, manter o texto legível, qualificar o vocabulário trocando expressões repetidas por sinônimos, atentar à pontuação e à concordância entre as palavras, além de outros recursos textuais apropriados à escrita nota 10.
Infelizmente ainda não consegui encontrar expressões ligadas à redação que sejam iniciadas pelas letras K e Y; ambas foram recentemente incorporadas ao nosso alfabeto. Caso você conheça ou tenha uma sugestão, por favor, não hesite em compartilhar o seu achado comigo.

São ilimitadas as possibilidades para formar palavras, parágrafos e textos
Sugestões de escrita
1- Examine os informes sobre as alterações ortográficas recentemente adotadas pelos países de língua portuguesa. Atente às críticas e produza um resumo dessas observações sobre o assunto. Não esqueça de mencionar a fonte, a idéia principal e as secundárias; limite-se a 10 linhas.
2- Organize uma lista de temas, uma espécie de A B C, a partir da leitura da primeira página de um jornal e escreva, ao menos, um parágrafo de 5 linhas para cada assunto tratado nos textos – e se ficar interessado nesse jogo divertido de ampliação do campo semântico que tal organizar glossários específicos? Quer alguns exemplos? De letras de música, de bandas de rock, de itens ligados aos estudos da Física, de lugares interessantes para visitar, de comidas, de amigos, etc.
Até a próxima!



