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Bacalhau espiritual é feito todo na panela, mas finalizado no forno. Sai com a casquinha crocante e deliciosa.
Bacalhau espiritual é feito todo na panela, mas finalizado no forno. Sai com a casquinha crocante e deliciosa.| Foto: Anacreon de Téos

As pessoas às vezes confundem e deixam para comer bacalhau no domingo de Páscoa, quando, na verdade, é o prato oficial da Sexta-feira Santa. Afinal de contas é a data limite para o consumo de carne vermelha – segundo o preceito das religiões cristãs, católica, especialmente. A partir do Sábado de Aleluia (da malhação de Judas) a carne já está novamente liberada e o almoço de domingo, de acordo com a tradição, é celebrado com cordeiro.

Então vamos combinar assim. Publico agora uma receita de bacalhau para ser servida na sexta-feira e mais pro fim de semana – na sexta mesmo – já providencio opções para fazer o cordeiro de domingo. E assim podemos manter a tradição.

Embora a grande maioria faça a receita mais popular do bacalhau – aquele com batatas, cebolas, tomates, azeitonas e ovos cozidos, que praticamente o à Gomes de Sá -, o peixe proporciona versões incrivelmente saborosas e muito distintas entre si. Pode ter as postas confitadas ou feitas na brasa. Pode ainda ser feito em lascas ou desfiado e finalizado de diversas maneiras. Entre as receitas mais conhecidas estão a do Bacalhau ao Zé do Pipo (com maionese) e a do Bacalhau à Lagareiro (com os ingredientes básicos e destaque para batatas ao murro), mas também é popular a versão de Bacalhau à Pereira Ignácio (com ovos mexidos). E não dá para desprezar

Mas ainda tem outra que me encanta e tenho certeza que também deverá conquistar o cozinheiro que se atrever a fazê-la neste dia santo. É o Bacalhau espiritual, que, dizem, leva este nome por ter um sabor tão leve e delicado, “que nos leva aos céus!”

E o que é mais interessante: tem veia francesa, na base de combinação de ingredientes da “Brandade de morue”, que tem origem no século XVIII, na região da Occitânia. Teria sido a condessa Almeida Araújo, que nos anos 40 comandava o restaurante Cozinha Velha, do Palácio de Queluz, quem buscou a receita e a recriou, dando o toque português à combinação, já que não havia conseguido os itens da receita francesa. A diferença básica para a brandade, que tem a batata em purê para fazer a “massa”, é que no Bacalhau espiritual essa função é do pão, que, embebido em leite, faz o mesmo papel.

E agora uma boa notícia para os bolsos e bolsas: o prato rende muito, justamente pela diversidade de elementos que se somam ao bacalhau para compor a mistura derradeira. A receita de hoje dá para seis pessoas, com sobras. Se não houver comilões, dá para oito – e com 1kg de bacalhau.

Não é uma receita exata, hoje há variações, algumas até com catupiry, embora todas girando em torno da composição da massa. Mas gosto muito dessa aqui, que ousa até incluir algumas folhinhas de coentro, que (atenção aos que odeiam a erva) não marca pelo próprio sabor, mas contribui muito para a química final.

Vamos à receita?

Bom apetite!

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