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Dólar alto dificulta importações, mas pode beneficiar as empresas locais
| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Em abril, quando o dólar pela primeira vez deu indicativos de que caminharia para a casa dos R$ 6, a paranaense Klabin se viu desafiada a “nacionalizar” a produção de um item essencial no combate à pandemia da Covid-19: o álcool em gel. Em parceria com o Senai e uma empresa de cosméticos, a Apoteka, conseguiu desenvolver um substituto ao carbopol, principal insumo usado na gelificação.

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Embora não seja um processo complicado, a produção de álcool em gel se tornou cara por conta do excesso na demanda e, sobretudo, pelo dólar alto – o carbopol usado no Brasil é todo importado da China.

O espessante criado, extraído da madeira, tornou-se mais do que uma solução emergencial. Abriu uma nova oportunidade de negócio para a empresa, já que logo se descobriu que ele poderia ser aplicado em fórmulas da indústria cosmética e até na produção de papel – principal ramo da gigante dos Campos Gerais.

“Temos um enorme potencial de extração de novos produtos a partir da nossa principal matéria-prima, as árvores de florestas plantadas. A utilização da nanocelulose na produção de álcool em gel reitera as inúmeras possibilidades de fonte renovável que temos pela frente”, destacou em comunicado Francisco Razzolini, diretor de Tecnologia Industrial, Inovação, Sustentabilidade, Projetos e Negócio de Celulose da Klabin.

Até janeiro deste ano o dólar era negociado poucos centavos acima dos R$ 4. Em maio, chegou a bater nos R$ 5,89. Somente durante a crise do coronavírus, a moeda norte-americana subiu 25%. A flutuação cambial importa porque ela é fundamental no custo de empresas com cadeia internacionalizada de produção – que exporta itens ou que importa. Se no primeiro caso os empresários estão estourando champanhe, graças à competitividade que seus produtos ganham com o real desvalorizado, no segundo, a realidade é de apreensão. E, claro, elevação de custos.

Montadoras de veículos como a Volkswagen, instalada em São José dos Pinhais, já fizeram reajustes nos preços para suportar a alta. Pudera, dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) indicam que em 2019 a indústria automotiva brasileira importou cerca de US$ 13,2 bilhões em peças e componentes. Em um carro básico, mais de um terço desses itens vêm de fora. Nesse cenário, qualquer impacto cambial é sentido.

Para amenizar estas altas e não assustar o comprador, muitas empresas estão optando por buscar fornecedores internos. O que abre uma boa perspectiva para o setor produtivo nacional. Dono de uma empresa que fornece componentes para indústria automotiva da linha pesada (caminhão, tratores e colheitadeiras), Nelson Hubner diz que viu os pedidos de cotação de seus produtos aumentarem nas últimas semanas. “Eu não tinha preço para competir antes. O comprador [de componentes] estava trazendo tudo da China”, diz o proprietário da Hubner Componentes e Sistemas Automotivos.

Para ele, o dólar alto ajuda a corrigir uma defasagem na indústria brasileira. “Antes, estávamos importando de trator a pão de ló. Isso é absurdo. Agora [a alta cambial] irá viabilizar o setor produtivo nacional e até abrir espaço para algumas exportações. Nessa paridade de cinco para um (US$ 1 equivalendo a R$ 5), acabou aquilo de o cara importar tudo e só montar aqui, enquanto a indústria brasileira ia morrendo aos poucos”, critica.

Hubner diz que isso é bom não só para seu setor, o metal-mecânico, mas para a economia como um todo, já que dá força sobretudo às pequenas e médias indústrias. “Milhares de empresas, a maioria familiar, vão ser beneficiadas. As grandes companhias geram impostos, mas são as pequenas e médias que empregam”, defende.

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