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“Filhas, soframos com amor!”
(Madre Leônia, 26.jul.1975)
Faz 50 anos, mas eu lembro como se fosse hoje. Na manhã de 17 de julho de 1975, eu morava com meus pais em um apartamento alugado na Alameda Barão de Limeira, região central de São Paulo. O lugar era tão pequeno que eu dormia na sala, em um sofá bicama. Meu pai me acordou e disse:
— Paulo, acorda! Estamos indo pra maternidade, o nenê vai nascer.
Abri os olhos e me levantei, arrastando um cobertor de flanela. Dei bom-dia a minha mãe, que estava sentada diante da mesinha da sala, com sua imensa barriga de grávida.
— Tá frio, né, filho?
Nosso apartamento ficava no primeiro andar, sobre uma lavanderia. A janela da sala dava para um galpão dos fundos que, aos meus olhos de menino, era imenso.
Meu pai me ergueu diante da janela da sala e passou a mão sobre o vidro embaçado. Então, para minha grande surpresa, vi que o galpão estava branco, como se tivesse caído uma tempestade de gelo. Ali sempre circulavam os gatos da vizinhança, mas naquela manhã não se via nem sinal deles. Estavam todos escondidos do frio.
— Isso é a geada, Paulo.
Horas depois, minha irmã Fernanda nascia no Hospital São Camilo.
Na manhã seguinte, em Londrina, a muitos quilômetros do nosso pequeno apartamento, um repórter chamado Jota Oliveira também acordava. Levantou-se, foi até a janela, passou a mão pelo vidro embaçado, colocou os óculos e viu.
A relva estava inteiramente coberta por um manto de gelo, e o repórter sabia o que significava aquilo: era a geada negra, aquela que destrói até mesmo a raiz dos pés de café. Tanta beleza, mas tanto sofrimento.
Na rua, algumas crianças brincavam de pisar na grama e ouvir o barulhinho do gelo quebrando sob os pés. Mas, para outros 900 milhões de pés — os pés de café plantados no Norte do Paraná —, aquele gelo não era de alegria, era de morte.
Na noite de 17 para 18 de julho de 1975, a geada negra destruiu completamente a economia cafeeira de Londrina e região. A cidade, antes conhecida como Capital Mundial do Café, assistiu a um êxodo rural de proporções bíblicas, com mais de um milhão de lavradores e suas famílias sem trabalho do dia para a noite.
A história de Londrina registra ao menos estes dois milagres: o primeiro foi nascer no meio da floresta, em plena crise de 1929; o segundo foi renascer depois da geada.
Eu jamais poderia imaginar que, 50 anos depois daquele acontecimento trágico, Londrina seria a cidade da minha vida. Renascida das cinzas, a antiga Capital Mundial do Café deixa uma lição para os dias que o Brasil está vivendo.
A geada negra de 1975 destruiu as raízes e congelou as seivas de quase um bilhão de cafeeiros. Trata-se de uma imagem perfeita para o que acontece em nosso país hoje.
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Estamos sendo governados por uma elite criminosa cujo objetivo é destruir completamente a alma e as fontes vitais da nação brasileira
O abismo em que estamos sendo mergulhados não é somente de natureza fiscal, econômica ou política. Trata-se de algo muito mais profundo: eles querem aniquilar o nosso espírito, submetendo-nos à ditadura da mentira, do ódio e da vingança. Infelizmente, ainda são poucos os que entendem a gravidade desse fenômeno. Espero que meus sete leitores estejam entre eles.
Por isso eu digo mais uma vez: a saída deste abismo não se dará pela via política, mas pela via espiritual. Não precisamos de uma revolução, nem de uma eleição, mas de uma ressurreição.
Vamos renascer depois dessa grande geada.
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Conteúdo editado por: Aline Menezes




