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Caro mestre J. R. Guzzo,
Neste sábado, acordei com a triste notícia da sua morte. Iríamos, eu e o meu amigo Jorge Serrão, fazer um programa sobre o professor Olavo de Carvalho, e resolvemos estender a homenagem a você. Em 2013 e 2015, tive a alegria de ser recebido pelo Olavo na Virgínia, mas infelizmente você partiu antes que eu pudesse conhecê-lo e manifestar pessoalmente minha admiração pelo seu trabalho. Faço-o por meio desta carta.
A saudosa professora Maria Helena Vianna ensinou-me no primeiro dia de aula, em 1989, as seis perguntinhas básicas a que toda matéria jornalística deve responder: Quê? Quem? Como? Quando? Onde? Por quê? Mais tarde, aprendi com o grande Carlos Lacerda que há uma sétima e fundamental pergunta a ser respondida pelo jornalismo: E daí?
Você, Guzzo, ao longo dos seus 82 anos de vida e 64 de imprensa, notabilizou-se por responder com maestria à sétima pergunta do lead — que corresponde à essência da notícia.
Tendo iniciado sua carreira no antigo “Última Hora”, você foi uma testemunha participante de todos os grandes momentos da história do país nas últimas sete décadas. Como diretor de redação da revista “Veja” de 1976 a 1991, transformou-a na maior publicação do país, com recorde de vendagens.
Certamente, você conhecia a famosa frase de George Orwell: “Jornalismo é aquilo que alguém quer que não seja publicado; o resto é publicidade”. Pois foi exatamente a partir desse incômodo provocado pelo verdadeiro jornalismo que se iniciou a derradeira e — por que não dizer? — mais heroica fase de sua trajetória profissional.
Em 2019, a revista que você engrandeceu se apequenou ao censurar a publicação de um artigo sobre o Supremo Soviete Federal. Mas você se tornou maior ainda, fundando a revista “Oeste” e sendo acolhido como colunista aqui na “Gazeta do Povo”. Uma de minhas maiores honras profissionais deste cronista de sete leitores é ter o nome perto do seu na lista de colaboradores do jornal.
Nos últimos seis anos, Guzzo, você foi um guerreiro incansável em defesa da liberdade de expressão e no combate à ditadura judicial socialista que se implantou em nosso país. Em todos os seus artigos — escritos em português impecável e clareza meridiana — você desmascarava e enfrentava os tiranos do Regime PT-STF.
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A essência do seu trabalho estava em uma virtude cada vez mais rara na grande mídia: a coragem moral
A palavra coragem deriva do latim coraticum e quer dizer “aquilo que vem do coração”. Aqui não se trata do coração como sinônimo de emocionalismo barato, mas sim do termo em seu sentido clássico: o de centro da consciência. Você escrevia com o coração nas mãos, ou seja, com absoluta sinceridade intelectual e humildade diante dos fatos.
A coragem, como explica Santo Tomás de Aquino, não é apenas uma ação, mas a bravura que se origina em um coração forte e uma alma fiel. A covardia, ao contrário, deriva de coda — cauda, rabo. É a atitude dos que têm o rabo preso e servilmente colocado entre as pernas, como os animais amedrontados. É claro que, em um país governado por covardes, você incomodava muito — e vai fazer muita falta.
Mas eu tenho boas notícias, Guzzo. No dia seguinte à sua partida, multidões de brasileiros foram às ruas para deixar claro que não vamos parar, nem precipitar, nem retroceder. A força do seu coração, mestre, vai inspirar e motivas as nossas lutas. Seu coração parou de bater no sábado, mas no domingo estava pulsante nas ruas do Brasil.
Que Deus o receba em Sua infinita misericórdia.
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