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“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos.”
(Jo 15, 13)
O homem, dizia Chesterton, é o único animal capaz de se comportar como um santo ou como um demônio. Podemos ser como São Maximiliano Kolbe, que deu a própria vida para salvar um pai de família em Auschwitz, ou como Rudolf Höss, que comandou a morte de 1 milhão de prisioneiros, em sua maioria judeus, no mesmo campo.
O frei polonês Maximiliano Maria Kolbe (1894-1941), cuja memória a Igreja celebra nesta quinta-feira, 14 de agosto, é um dos santos católicos mais importantes de nossa era.
Filho de operários poloneses, Raimundo Kolbe era um menino levado. Aos 12 anos de idade, depois de uma travessura, sua mãe lhe disse:
— O que vai ser de você, menino?
Raimundo se impressionou tanto com aquela pergunta que resolveu ir à igreja e repeti-la em oração à Virgem Maria. Numa experiência mística, o menino teve uma visão da Virgem com duas guirlandas de rosas na mão. As rosas brancas representavam a pureza; as rosas vermelhas, o martírio. A santa pediu que Raimundo escolhesse entre as duas coroas. Ele abraçou as duas — e assim começou uma trajetória marcada pela devoção e pela luta incansável em favor da fé.
Entrou para o seminário franciscano com apenas 13 anos e adotou o nome de Maximiliano Maria Kolbe, tornando-se sacerdote ainda muito jovem.
Kolbe criou um apostolado mariano intitulado “Milícia da Imaculada”, que existe até hoje em vários países, inclusive o Brasil. Para divulgar a fé católica entre o maior número de pessoas, fundou um jornal — o “Cavaleiro da Imaculada” — que chegou à incrível tiragem de um milhão de exemplares.
Com espírito empreendedor, construiu perto de Varsóvia, a capital polonesa, uma sede apostólica denominada Niepokalanów — a Cidade de Maria. Lá funcionavam a redação do jornal e de mais 17 publicações menores, além de uma estação de rádio. Kolbe também era um praticante de radioamadorismo, um meio de comunicação fundamental em situações de guerra ou catástrofe.
Nos anos 30, Maximiliano Kolbe levou seu apostolado para o Japão, criando, na cidade de Nagazaki, o Mugenzai-no-sono — Jardim da Imaculada. Em agosto de 1945, quando os americanos lançaram a bomba atômica sobre Nagazaki, o convento franciscano erguido por Kolbe permaneceu em pé.
A história mais conhecida de Kolbe, no entanto, está relacionada àquela coroa de rosas vermelhas. Em 1941, ele foi preso pela Gestapo e levado ao campo de concentração de Auschwitz, situado em território polonês.
Os nacional-socialistas consideravam seu trabalho profundamente subversivo e perigoso para o regime. Em julho do mesmo ano, em punição pela fuga de um prisioneiro, os nazistas “sortearam” dez pessoas para morrer de fome e sede numa cela. Kolbe, que não estava entre os escolhidos, ofereceu-se para morrer no lugar de um operário que tinha mulher e filhos.
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Testemunhas relatam que Kolbe passou 14 dias dentro da cela da morte cantando e orando com os outros nove prisioneiros condenados. Aquela foi a sua última missão: conduzi-los à vida eterna
Duas semanas depois, quando os guardas do campo abriram a cela da morte, Kolbe estava milagrosamente vivo, ao lado de três prisioneiros. O padre polonês foi executado com uma injeção de ácido carbólico. Conta-se que o prisioneiro estendeu o braço a seu carrasco e morreu olhando-o nos olhos. Era uma quinta-feira, 14 de agosto de 1941 — há exatos 84 anos.
Maximiliano Maria Kolbe foi canonizado em outubro de 1982, na Praça de São Pedro, por um conterrâneo, o Papa João Paulo II. Entre a multidão que acompanhou a cerimônia, estava Franciszek Gajowniczek, o operário cuja vida foi salva pelo santo. Na ocasião, Gajowniczek recordou-se:
“Eu só podia agradecer com os meus olhos. Fiquei atordoado e mal conseguia compreender o que estava acontecendo. A imensidão daquilo: eu, o condenado, iria viver e alguém, de forma voluntária, ofereceu a sua vida por mim — um completo estranho. Isso é algum sonho? Fui recolocado no meu lugar sem ter tido tempo de dizer nada a Maximiliano Kolbe. Fui salvo. E devo a ele o fato de poder contar tudo isso”.
O martírio de Kolbe ressoa através das décadas, inspirando não apenas católicos, mas também aqueles fora da esfera religiosa. Eugène Ionesco, dramaturgo romeno e um dos ícones do teatro do absurdo, foi um exemplo notável.
Apesar de ser um agnóstico que, ao longo de sua vida, procurou respostas sobre o eterno, Ionesco encontrou em Kolbe uma fonte de inspiração que transcendeu sua própria crença. Ele escreveu o libreto para a ópera “Maximilien Kolbe”, uma obra musical que explora a profundidade espiritual e o sacrifício do santo.
A ópera de Ionesco, composta por Dominique Probst, é uma reflexão dramática e musical sobre os eventos finais de Kolbe em Auschwitz. A peça é dividida em três atos, que capturam desde a captura do prisioneiro fugitivo até a agonia final de Kolbe no bunker da morte.
A música mistura estilos para refletir a intensidade da situação, e o libreto, apesar das dúvidas de Ionesco sobre sua capacidade de capturar o espírito do santo, revela uma profunda reverência pela vida e sacrifício de Kolbe.
No segundo ato da ópera, Kolbe conforta seus companheiros prisioneiros com palavras de esperança e fé, mesmo enquanto enfrentam a morte iminente. Seu monólogo é um hino à esperança e à certeza de uma vida eterna, uma mensagem que não apenas consolou seus companheiros, mas também continua a inspirar aqueles que conhecem sua história.
No terceiro ato, quando Kolbe finalmente sucumbe à morte, sua influência persiste. O coral infantil canta as bem-aventuranças, enquanto o mundo ao redor permanece indiferente ao sacrifício.
Em tempos de escuridão, o exemplo de São Maximiliano Kolbe nos faz lembrar que a verdadeiro vitória sobre o mal absoluto não se dará por meios políticos, mas pelo sacrifício real da nossa própria vida, quando a luz da eternidade irromperá através das portas da morte: “Pois aquele que quiser salvar a sua vida, a perderá, mas o que perder a sua vida por causa de mim, a encontrará”. (Mt 16, 25)
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Conteúdo editado por: Aline Menezes




