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Querido Olavo, hoje completamos três anos sem você. Decidi antecipar minha coluna porque não poderia deixar esse momento passar em branco.
Estava aqui conversando com o Silvio Grimaldo — que um dia você o chamou de “aluno mais inteligente” — e nos lembrávamos do momento em que recebemos a notícia de sua morte.
Para sua imensa legião de alunos e leitores, aquele 24 de janeiro de 2022 é como o dia do ataque às Torres Gêmeas ou o dia da morte do Ayrton Senna: todo mundo se recordará para sempre da hora, do local e das circunstâncias em que a triste verdade chegou.
Eram sete horas da manhã e quem me deu a notícia foi a Rosângela. Permaneci silencioso por alguns minutos, olhando para o teto, perplexo, sem acreditar, sem nem mesmo chorar.
Lembro-me de que o Lacombe me enviou uma mensagem, convidando-me para participar do programa dele. Logo em seguida, a produtora do programa me ligou; respondi que não tinha condições de falar.
Mas imediatamente me levantei, fui até o computador e escrevi um dos textos mais dolorosos e sinceros da minha vida. Sua morte foi a sua última aula, Olavo. E talvez a mais importante.
Com a morte dos meus pais, eu já aprendera que a saudade, da mesma maneira que o amor, não é um sentimento, mas um modo de existência. A saudade de quem amamos não é algo que se sente, mas algo que se é. Camões revelou a verdadeira natureza ontológica da saudade nos versos imortais de “Sôbolos rios que vão”:
Não é logo a saudade
Das terras onde nasceu
A carne, mas é do Céu,
Daquela santa Cidade,
Donde esta alma descendeu.
Este é um aspecto amplamente ignorado de sua vida e de sua obra, Olavo: você nos ensinou a ter saudade do Céu. Em uma aula antológica do COF, você se lembra das palavras de Jesus no Evangelho de São João: “Vós sois deuses”. Isso é algo mortalmente sério! Jesus está dizendo aqui que todos nós possuímos uma alma imortal.
A consequência da nossa imortalidade reside na espantosa certeza de que uma única alma humana vai durar mais do que toda a história do universo
“As guerras, as fomes, as discussões entre os edifícios”, todos os dramas e tragédias da civilização, todo o poder sobre os reinos deste mundo, constituirão apenas um episódio passageiro diante da eternidade.
Nem todo mundo sabe, Olavo, que você passou os sete primeiros anos de sua vida confinado a uma cama. Todos ao seu redor achavam que aquele menino doente estava condenado à morte prematura. Mas um dia, inexplicavelmente, seus problemas de saúde desapareceram.
Você então saiu para o mundo e sentiu-se absolutamente indefeso diante da sensação de que todos os enganavam, pelo simples fato de que você não possuía malícia alguma.
Daí derivam o seu amor pela verdade, a sua obsessão em compreender a realidade e o lugar central que os conceitos de perdão e milagre ocuparam em seu pensamento.
O Brasil de hoje, Olavo, é aquele menino doente na cama. E você, com o exemplo de sua vida e a imortalidade de sua obra, nos ensinou a arte de levantar e andar, como o ressuscitado Lázaro, mesmo quando todas as esperanças parecem perdidas.
Obrigado por esta lição — meu amigo, meu mestre, meu segundo pai. Obrigado por salvar a minha vida.
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Conteúdo editado por: Aline Menezes




