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Paulo Cruz

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A liberdade é um direito radical. Coluna semanal

Educação

Pé-de-meia ou pé na jaca?

Lula Pé-de-Meia
Lula em evento do programa Pé-de-Meia no Ceará, em agosto de 2024. (Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República)

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“Foi ensinado aos professores que devem ser ʻtolerantesʼ também com os erros e a única nota realmente ʻdemocráticaʼ tornou-se o aprovado […]. A ideia de fundo é que todo trabalho tem algum valor e que não se pode distinguir entre uma categoria de esforço e outra, e assim é descartada qualquer distinção entre quem se esforçou ou não.” (Inger Enkvist, Repensar a educação)

Lula está desesperado. Com a última pesquisa Datafolha, que apontou a queda de sua popularidade a níveis jamais imaginados (por esquerdistas, pelo menos), o presidente apelou para a única coisa que sabe fazer bem: populismo barato – ou melhor, caro, caríssimo para o nosso bolso. Apareceu em rede nacional para anunciar dois programas de transferência de renda, mantendo a tradição petista de dar soluções simples – estúpidas até – para problemas complexos e, com isso, tentar voltar às graças da população mais pobre, reféns preferenciais de seu projeto de poder.

Os dois programas – que já existem, diga-se – foram anunciados naquela linguagem rasteira, de quem quer fingir proximidade com o público-alvo: “Meus amigos e minhas amigas, venho aqui para falar de dois assuntos muito importantes. Uma dupla que não é sertaneja, mas que está mexendo com o Brasil: o Pé-de-Meia e o novo Farmácia Popular”. Ou seja, num ano de imensos desafios econômicos provocados pela condução desastrosa de Fernando Haddad, o governo decide gastar dinheiro como se não houvesse amanhã para melhorar sua popularidade.

“Reduzir a desigualdade social entre os jovens” significa distribuir R$ 6 bilhões a adolescentes que nem sequer precisam tirar notas boas

Começando pelo Farmácia Popular, programa que, inclusive, já sofreu denúncias do Tribunal de Contas da União (TCU) por fraudes, e custará ao orçamento R$ 3,6 bilhões. Óbvio que se trata de um programa necessário, mas que está sendo ofertado sem levar em consideração as consequências dos gastos envolvidos. Como diz o editorial de ontem, dessa Gazeta do Povo: “Com a popularidade em queda – queda livre, alguns haverão de dizer – e a inflação devorando o poder aquisitivo do brasileiro mais pobre [...], o presidente Lula dá mostras de que fará exatamente aquilo que mais se temia: apostar em mais irresponsabilidade econômica para tentar conseguir resultados de curto prazo enquanto sacrifica de vez o médio e longo prazo”. Ou seja, teremos de pagar essa conta uma hora.

O Pé-de-Meia tem, por razões óbvias e já demonstradas por mim em artigo recente, em que comunico a minha desistência de lecionar no ensino público, desastres adicionais. Segundo o site da excrescência, seu objetivo é “democratizar o acesso e reduzir a desigualdade social entre os jovens, além de fomentar a inclusão educacional e estimular a mobilidade social”. O que isso significa no mundo real creio que ninguém saiba, mas, na propaganda, “democratizar o acesso” significa manter o maior número dos 4 milhões de alunos nas salas de aula. Fazendo o quê, não importa. O importante é que, no computo da frequência escolar, o gráfico de algum burocrata apareça verde. Porque, no fim das contas, o que tem ocorrido é que alunos passam de ano e saem da escola sem saber nada.

A Progressão Continuada, que, em teoria, foi extinta no estado de São Paulo em 2007, continua a todo o vapor. A aprovação automática é uma realidade e eu mesmo já vi alunos serem aprovados mesmo não tendo alcançado o rendimento mínimo em praticamente todas as disciplinas. A única maneira de se reprovar no ensino público, em São Paulo, é por faltas; ainda assim, somente se o Conselho Tutelar não encontrá-lo até o fim do ano letivo. Caso o encontre, a qualquer tempo, os infames trabalhos de compensação de ausências resolvem o problema. Não é só uma vergonha, é uma verdadeira tragédia.

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Já “reduzir a desigualdade social entre os jovens” significa distribuir R$ 6 bilhões a adolescentes que nem sequer precisam tirar notas boas. Como diz o presidente: “todo mês, o aluno que comparece às aulas recebe R$ 200. Se fizer o Enem, ganha mais R$ 200, também, num valor total que pode chegar a R$ 9,2 mil”. O rendimento escolar está absolutamente excluído da equação. E Lula comemora a sandice: “E olha que legal: mais de 90% dos jovens que estão no programa passaram de ano. Essa ação extraordinária está ajudando mais de 4 milhões de jovens a permanecerem na escola, melhorando a qualidade do ensino e aumentando a renda da família”. Sim, passaram de ano, mas não foram aprovados, pois aprovação exige mérito; e falar em mérito num país comandado pela esquerda é ofensa. E Lula chama isso de “melhorar a qualidade do ensino”.

Fora todas as implicações que existem em dar dinheiro nas mãos de adolescentes sem qualquer contrapartida, há, obviamente, a possibilidade de que esse dinheiro nem sequer fique com eles, mas seja usado para suprir as necessidades imediatas da família. Num país em que 70% da população ganha até dois salários mínimos, como evitar que isso ocorra? Sem contar que tem aluno gastando o dinheiro do Pé-de-Meia em bets como o Jogo do Tigrinho. Como diz matéria da Agência Pública, “alunos beneficiados pelo Pé-de-Meia estão se viciando e usam o dinheiro para fazer apostas on-line”.

E Lula termina seu discurso naquele costumeiro ufanismo que os populistas adoram usar e abusar: “Depois de dois anos de reconstrução de um país que estava destruído, estamos trabalhando muito pra trazer prosperidade para todo o Brasil, principalmente para quem mais precisa”. Um verdadeiro tapa em nossa cara e uma amostra da irresponsabilidade sádica de um governo que está completamente perdido e condenando a sua população à pobreza, à burrice e à dependência de gente desqualificada para governá-la.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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