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O ataque americano às instalações nucleares iranianas, esperado pelos israelenses desde o início de sua campanha militar contra o Irã, finalmente aconteceu. Na madrugada do dia 21, sábado, no horário dos EUA, um grupo de sete bombardeiros furtivos B-2 Spirit, cada um deles transportando duas bombas antibunker GBU-57, decolou para um voo de 18 horas de duração até a região dos alvos, no Irã.
Poucos minutos antes de os B-2 bombardearem as instalações nucleares de Fordo, um submarino americano lançou mísseis de cruzeiro Tomahawk contra as instalações nucleares de Isfahan, em uma ação diversionária, para atrair a atenção das defesas iranianas para outro ponto do território.
Às 02h10 da manhã do domingo, dia 22, no horário iraniano, as primeiras bombas GBU-57 caíram sobre seus alvos – as instalações nucleares de Fordo –, aquelas que, por estarem localizadas nas profundezas das montanhas iranianas, eram inacessíveis às armas israelenses.
Estima-se que o Irã concentrasse ali cerca de 3.000 centrífugas para enriquecimento de urânio. Foi também em Fordo que a Agência Internacional de Energia Atômica, em março de 2023, informou ter descoberto traços de urânio enriquecido a 83,7% de pureza — muito próximo ao nível de enriquecimento de 90%, necessário para a produção de armas nucleares.
Embora, ao noticiar o ataque, o presidente Trump e o secretário de Defesa Pete Hegseth tenham comemorado o sucesso absoluto da operação ao inviabilizar as instalações nucleares iranianas, ainda é muito cedo para avaliar o real dano provocado pelos ataques. O mais provável é que o programa nuclear, embora severamente afetado, não tenha sido completamente eliminado.
Nos últimos dias, os Estados Unidos vinham concentrando um formidável poder de combate no Oriente Médio. No mar Arábico, que banha o sul da Península Arábica, o Paquistão e a Índia, encontra-se a força-tarefa aeronaval liderada pelo porta-aviões USS Carl Vinson. No Mar Vermelho, estão dois contratorpedeiros de mísseis guiados. Além disso, o mais antigo porta-aviões em operação na marinha americana, o USS Nimitz, acompanhado de seus navios-escolta, deixou o Mar do Sul da China e chegou ao Oriente Médio para se juntar ao Carl Vinson. O próximo a reforçar o grupo será o porta-aviões Gerald Ford, que saiu dos EUA em direção ao Mar Mediterrâneo.
Todas essas capacidades militares visam a dissuadir o Irã de tentar qualquer reação contra alvos americanos na região ou em outras partes do mundo. O presidente Trump, ao anunciar a ação militar, deixou claro que os EUA não desejam uma troca de regime no Irã. Tratou-se de um aceno ao governo do aiatolá Ali Khamenei para que desista de seu programa nuclear e aceite os termos de uma paz que, nesse caso, equivalem a uma rendição. Tal escolha garantiria a manutenção do regime, pelo menos por enquanto. Entretanto, é pouco provável que Teerã opte por esse curso de ação.
O dilema para Teerã é brutal e a reação iraniana precisa ser habilmente calibrada. Uma reação moderada pode ser interpretada como fraqueza, ameaçando a estabilidade interna do regime, já desgastado politicamente. Por outro lado, uma reação mais dura e direta, especialmente contra tropas americanas, pode levar a um confronto aberto, inclusive com intervenção terrestre dos EUA, um cenário potencialmente devastador para o Irã
Com este ataque, os Estados Unidos assumem um risco calculado, mas perigoso. A operação representa mais do que uma ação militar isolada: trata-se de uma aposta estratégica que pode moldar o futuro imediato do Oriente Médio. O mundo, entretanto, já aprendeu duramente que guerras iniciadas com promessas de soluções rápidas e precisas raramente terminam da forma prevista.
Há um velho ditado que diz ser possível saber, no momento em que se iniciam as guerras, como elas começaram; entretanto, é muito difícil prever como elas terminarão. O mundo testemunha um momento decisivo, cujo gatilho foi puxado em 7 de outubro de 2023, com o ataque terrorista do Hamas, uma organização apoiada por Teerã, a Israel. O ataque dos EUA é o mais recente capítulo de uma escalada cujo fim permanece imprevisível. O Hamas abriu a Caixa de Pandora. Neste momento, ninguém sabe ao certo se será possível fechá-la.




