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Paulo Filho

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De volta à Casa Branca

Trump inaugura hoje um novo capítulo para os EUA e o mundo

O presidente dos EUA, Donald Trump, que lançou a memecoin $Trump (Foto: Shawn Thew/EFE/EPA)

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Os olhos de todo o mundo estão hoje voltados para os Estados Unidos, onde, em Washington, com temperaturas congelantes de −12 °C, Donald Trump assume a presidência.

A chegada de um novo inquilino à Casa Branca sempre é um evento importante. Porém, esta posse, em particular, gera expectativas tremendas devido à personalidade de Trump, às ideias que ele defendeu ao longo da campanha eleitoral e ao momento singular em que assume o cargo, caracterizado por um ambiente internacional conflagrado e uma ordem global em rápida transformação.

Trump está com pressa para colocar em prática suas ideias, todas elas alinhadas com seus planos de “fazer a América grande novamente”. Espera-se que, a partir de hoje, ele edite dezenas de Ordens Executivas para regular os mais variados assuntos, desde normas para um controle muito mais rigoroso da imigração para os EUA, até a desregulamentação da área energética, facilitando a exploração de combustíveis fósseis.

Espera-se, ainda, que ele imponha, desde seus primeiros dias, tarifas às importações, tanto do maior competidor, a China, quanto dos vizinhos México e Canadá, adotando a taxação das importações como uma ferramenta básica de sua política comercial.

No campo internacional, sua política externa deverá refletir um nacionalismo exacerbado, baseado na crença de que os Estados Unidos têm o direito de defender seus interesses, ainda que isso signifique desrespeitar normas, regimes ou instituições multilaterais, ou até mesmo sacrificar interesses vitais de aliados. 

Um exemplo claro desse posicionamento foi o episódio envolvendo a Dinamarca, aliada da OTAN, quando Trump manifestou interesse em comprar a Groenlândia, ignorando veementes declarações dinamarquesas de que a ilha não está à venda.

Será uma administração que prestará muita atenção à geopolítica. Isso significa, por exemplo, que o Caribe, a América Central e o Norte da América do Sul receberão uma especial atenção, por conformarem uma região de enorme importância geoestratégica para os americanos. A presença de chineses e russos naquela área vai ser muito vigiada. 

Nesse contexto, espera-se a continuidade das pressões sobre o Canal do Panamá e sobre o regime venezuelano, que tem servido de porta de entrada de interesses russos e chineses na América do Sul.

Por outro lado, os Estados Unidos tendem a reduzir seu envolvimento na questão ucraniana, delegando-a aos europeus, para focar no leste asiático, onde a China ameaça diretamente interesses americanos estabelecidos há longa data.

Trump levará à condução da política externa seu ceticismo em relação a acordos e instituições internacionais, vistas por ele como limitantes da liberdade de ação dos EUA. 

Da mesma forma, demonstrará sua descrença na promoção de valores universais, como democracia e direitos humanos, vistos como pouco relevantes na promoção dos interesses americanos. Nesse sentido, é provável que sua administração abandone alguns organismos multilaterais ou os enfraqueça pela redução de financiamentos.

Em contrapartida, Trump deverá beneficiar e promover lideranças internacionais que compartilhem seus valores e visão de mundo, desde que tais líderes não se opunham aos interesses vistos por Trump como os interesses americanos.

Figuras à direita no espectro político serão favorecidas, enquanto líderes que estiverem em campo ideológico oposto terão pouco espaço para um relacionamento próximo com o presidente americano

Trump está aí. Sua chegada à Casa Branca inaugura um período de grandes incertezas e desafios para a ordem internacional. Se, por um lado, suas promessas de colocar os interesses americanos em primeiro lugar sugerem uma administração assertiva, por outro, levantam dúvidas sobre o futuro de valores e instituições que sustentaram décadas de cooperação global.

Para países como o Brasil, o desafio será não apenas encontrar maneiras de proteger seus interesses em um cenário global mais competitivo, mas também identificar oportunidades que possam surgir em meio a essa mudança de paradigma. 

A experiência e o profissionalismo do Itamaraty serão cruciais, mas será igualmente essencial compreender que a era Trump representa não apenas um teste para a diplomacia, mas para a própria resiliência das relações internacionais em tempos de transformações rápidas e intensas.

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Conteúdo editado por: Aline Menezes

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