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O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates: empresa anunciou nova política de preços para gasolina e diesel, abandonando paridade com mercado internacional.
O presidente da Petrobras Jean Paul Prates.| Foto: Mauricio Pingo/Petrobras

Embora queira ser visto como “pai dos pobres”, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva age mesmo é como pai de alguns empresários escolhidos por ele a dedo – aqueles que podem lhe dar algo em troca, é claro. A Novonor, novo nome da antiga Odebrecht, está afundada em dívidas. Uma saída para ela, de mercado, é permitir a venda de seus 38% na petroquímica Braskem para a empresa privada Unipar. Entretanto, os petistas radicais querem aproveitar a oportunidade para "estatizar" a Braskem, aumentando a participação da Petrobras na empresa para ter mais de 50% do capital. Lula endossa a venda, porque ela vai ajudar seus “amigos do rei” e também vai possibilitar o aumento dos tentáculos do Partido dos Trabalhadores (PT) na economia.

A Braskem é uma petroquímica de atuação global, a joia da coroa da petroquímica brasileira. 38% dela pertence à Novonor, antiga Odebrecht. 36% dela é da Petrobras, que não tem direito, hoje, a comandar as operações. Ao mesmo tempo, a Novonor não consegue quitar suas contas que se agravaram depois da Operação Lava Jato. A Unipar quer comprar os 38% da Novonor e propôs pagar  a dívida de R$ 14 bilhões da antiga Odebrecht com os bancos, que detém as ações da Braskem como garantia, segundo informou o Poder360 no último dia 14.

Os petistas radicais querem aproveitar para "estatizar" a Braskem, aumentando a participação da Petrobras na empresa para ter mais de 50% do capital

“A Unipar se propõe pagar R$ 10 bilhões aos bancos credores e renegociar outros R$ 4 bilhões diretamente com as instituições financeiras, saneando as contas da Novonor”, explicou o noticiário. “Hoje, a Novonor se esforça para recuperar o equilíbrio em suas finanças. Por causa das penas impostas pela Lava Jato, a empresa ficou muito fragilizada. Sem uma injeção de dinheiro como a Unipar propõe, dificilmente teria como voltar a ser algo próximo do que foi no passado”, completa o texto do Poder360.

Aí está a “mágica”: a compra de parte da Braskem pela Unipar pode, indiretamente, patrocinar a volta da Petrobras ao setor químico. Em sua proposta, a Unipar deixou em aberto a negociação dos 36% da Braskem que pertencem à Petrobras. Com o aval de Lula, a saída seria os 36% da Petrobras serem entregues em ativos para a estatal, que poderia voltar a operar diretamente no setor petroquímico. É um jogo de ganha-ganha para Lula, o PT e a família Odebrecht.

Lula age mesmo é como pai de alguns empresários escolhidos por ele a dedo – aqueles que podem lhe dar algo em troca, é claro.

Isso também iria desmembrar a Braskem e evitar que a compra da empresa pela Unipar seja questionada no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Iria evitar a instituição de apontar muita concentração do mercado e deixar o negócio inviabilizado. O desmembramento decorrente da compra da Unipar também tem a ver com a presença do Estado incomodar outras empresas no setor.

Devido à desproporção de tamanho entre Unipar e Braskem, há poucas chances da companhia privada adquirir a Braskem por completo, e como a Petrobras não vai se desfazer de sua parcela, a Unipar teria de fatiar a Braskem e, assim, uma parte voltaria para a Petrobras. “A diferença entre Braskem e Unipar é gritante: em 2021, a primeira registrou receita líquida de R$ 105 bilhões (a primeira acima dos R$ 100 bilhões), com um Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) de R$ 30 bilhões. Já a Unipar – que em 2021 teve um ano que classificou como “excepcional” – teve receita líquida de R$ 6,29 bi, com Ebitda de R$ 3,16 bi”, explicou a Istoé Dinheiro.

Nesse capitalismo de compadrio, com uma eventual estatização da Braskem, os únicos beneficiados serão o PT e a família Odebrecht.

Apesar de tudo isso, essa parece ser a alternativa menos prejudicial aos brasileiros, já que a Petrobras também poderia comprar a parte da Novonor na Braskem e estatizar de vez a empresa. Por pior que pareça, a estatal tem, inclusive, a preferência na negociação. Sobre isso, o presidente da estatal, o ex-senador petista Jean Paul Prates, disse que isso está sendo discutido e que será decidido no devido momento. “Vamos analisar tudo o que está acontecendo, mas não podemos dizer nada porque, neste caso, justamente se presta a muita especulação. Temos mantido uma posição inerte por enquanto, embora internamente a gente esteja trabalhando”, disse ele.

Porém, apesar do que Prates declarou, a âncora da CNN, Raquel Landim, revelou que o assunto não está sendo discutido tecnicamente dentro da Petrobras. “Dentro da empresa, não tem sido tratado no nível de diretoria nem no conselho de administração”, disse ela ao vivo. “As pessoas dentro da empresa só estão ouvindo o que ele [Prates] diz pela imprensa, não está sendo feita uma avaliação estratégica dentro da companhia”, completou a apresentadora. Ao que tudo indica, essa decisão será política. Vale lembrar que se trata de um setor que já deu prejuízo para Petrobras, de modo que é ainda mais absurdo que a área técnica da estatal não esteja participando das discussões. No passado, os investimentos realizados sem análise técnica deram prejuízos milionários à empresa.

Além do mais, a principal beneficiada será a família Odebrecht, que viu seus negócios indo de mal a pior quando a Operação Lava Jato revelou sua ligação com os esquemas de corrupção com o PT, liderado por Lula. O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, também é um inimigo da Lava Jato. Vale lembrar que, em março, jornalistas descobriram que ele estava defendendo, em reuniões fechadas com aliados, que a Diretoria de Governança e Conformidade era um “entulho da Operação Lava Jato”. Essa diretoria nasceu em 2014 para evitar fraudes e desvios de recursos para manter as melhores práticas de gestão. Há um claro conflito de interesses na complexa transação societária entre a Braskem, a Novonor, a Unipar e a Petrobras — se ela for realizada apenas para permitir a volta da Petrobras ao setor químico.

“O que está envolvido aí, no fundo, é o seguinte: a principal força política no Palácio do Planalto chama-se PT”, comentou William Waack sobre a questão. “[O partido] vai permitir que esse mercado continue dividido ou o seu tradicional DNA monopolista fará com que a gente volte a como era antes?”, perguntou ele.

Mais uma vez, é a política passando na frente da razoabilidade econômica e do interesse público. Parece ser mais um capítulo do PT contra a economia popular e o bom senso. Nesse capitalismo de compadrio, com uma eventual estatização da Braskem, os únicos beneficiados serão o PT e a família Odebrecht. E, independente do caminho que a Petrobras irá fazer – se ela vai deixar a Unipar comprar a parte da Novonor para depois receber os ativos da Braskem via Unipar ou se ela vai comprar diretamente a parcela da Novonor –, o resultado dessa história será o Partido dos Trabalhadores aumentando seus tentáculos na economia e no setor petroquímico. Não parece uma transação que pode acabar bem para os brasileiros, nem para a economia de mercado.

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