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É grave a situação vivida pela indústria madeireira do Sul do Brasil, principalmente aqui no meu estado, o Paraná.
Em que pese ter sido solucionada a questão das tarifas dos EUA com relação à celulose, outra parte do setor, que trabalha com molduras, compensados, serrados, portas e pisos de madeira, ainda sofre com uma taxação de 50%.
Para se ter uma ideia, o segmento representa 39% das exportações do Paraná para os EUA e está com pelo menos dez empresas paradas.
Os respectivos funcionários cumprem férias coletivas ou foram dispensados — uma estimativa de cinco mil trabalhadores parados ou com postos já fechados, de acordo com dados do setor.
Em alguns casos, como o das molduras, a situação é ainda mais grave por dois motivos: primeiro, porque quase a totalidade (95%) da produção vai diretamente para os EUA, e não há um substituto viável a curto ou médio prazo.
Além disso, mesmo que se buscasse o convencimento do governo Donald Trump a partir da influência junto a representantes e consumidores nos EUA, isso não resolveria, porque eles têm apenas trocado o fornecedor.
Países exportadores como Chile e Reino Unido enfrentam tarifas de 10%. A própria China, que enfrenta constantes tensões comerciais com os norte-americanos, tem contra si tarifa de 30% — pouco mais da metade da aplicada ao Brasil.
Dados da Federação das Indústrias do Estado do Paraná apontam que nosso estado exportou para os americanos, em 2024, antes do tarifaço, US$ 1,6 bilhão, sendo US$ 627 milhões somente do setor madeireiro, conforme dados da Federação de Agricultura do Estado (FAEP).
O setor madeireiro paranaense reforça a economia de 266 municípios, com cerca de 38 mil empregados no estado e 180 mil em todo o país. Reportagem da Gazeta do Povo mostrou que os três estados do Sul respondem por 90% da produção nacional.
O que temos testemunhado é um cenário de desolação, com contratos cancelados, suspensão de embarques, retenção de contêineres, férias coletivas forçadas e demissões. Alguns grupos diminuíram as operações e já reveem estratégias, e há risco de fechamento de mais unidades, o que significa menos empregos no estado.
Junto à senadora Tereza Cristina e ao corpo técnico da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que presido, temos levado a questão incessantemente ao vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, ao Itamaraty e ao corpo diplomático e de negócios exteriores do governo federal para encontrarmos uma solução.
Como, no caso das molduras, trata-se de um comprador único, mesmo linhas de crédito facilitadas, como as propostas ao governo federal para outros setores, não serão suficientes.
É preciso negociar, e rápido, seja para retirar o setor madeireiro do tarifaço de 50%, seja para, ao menos, oferecer algum tipo de competitividade contra os rivais nas trocas com os EUA.
Já passou da hora de o governo Lula sentar-se à mesa e tratar de questões reais, e não de vender narrativas com base em um encontro de 20 segundos entre o presidente brasileiro e o mandatário norte-americano. É parte do xadrez político, mas as tarifas continuam aí.
A rivalidade ideológica faz parte do jogo político, mas jamais deve interferir quando o assunto é garantir o sustento de mais de 38 mil famílias de trabalhadores do setor de madeira — muito menos de quaisquer outros ligados ao agro, principal locomotiva do país e responsável pela geração de oportunidades e renda nos últimos anos.




