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Pedro Lupion

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Relações Internacionais

Protecionismo dos EUA traz desafios e oportunidades ao Brasil

Donald Trump
(Foto: Will Oliver/EFE)

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Desde a posse do presidente Donald Trump, para seu segundo mandato à frente dos EUA, o mundo tem acompanhado com ansiedade seus movimentos na economia.

Se, nas palavras, a nova gestão fala em anexar o Canadá e a Groenlândia e retomar o Canal do Panamá, nas ações, a história é um pouco diferente.

Conhecidos por serem protecionistas quanto à indústria e a agropecuária estadunidense, o Partido Republicano se sentiu representado por um Trump combativo, ao baixar tarifas de até 25% sobre produtos canadenses e mexicanos, e de 10% aos chineses.

As respostas dos afetados variaram: México e Canadá se sentaram à mesa, renegociaram termos em troca de aumento na segurança das fronteiras, e colocaram panos quentes na pressão americana, ao menos por um mês.

Por outro lado, a resposta chinesa veio com tarifas de 15% para gás natural e carvão, e de 10% para petróleo bruto, equipamentos agrícolas e automóveis, a partir de 10 de fevereiro.

Enquanto isso, o Brasil aguarda a vez de ser chamado à mesa. O presidente Trump já deu sinais, com ameaça de tarifas de até 100% caso o BRICS - grupo que ainda tem a China, a Rússia, a Índia e a África do Sul - decida apoiar outra moeda que não o dólar, ou criar uma unidade própria.

Eles também precisam de nós. Até por isso, apesar da necessidade de nos adaptarmos ao novo momento, não vejo chance para rompimento de relações

A verdade é que, apesar da retórica dura, o objetivo tem sido outro: ameaçar primeiro, para colocar a bola no chão e renegociar termos e acordos.

As ações do presidente Trump mostram que ele deseja colocar os EUA como uma potência exportadora novamente, fortalecer a indústria local e reduzir a entrada de produtos de fora, especialmente da China. Até por isso, iniciaram a disputa tarifária, o que pode abrir boas oportunidades ao Brasil.

O mercado chinês é responsável por absorver quase 52% das nossas exportações de commodities, proteínas, esmagamento de soja e de milho. Toda uma cadeia produtiva que pode ser afetada, positiva ou negativamente, por eventuais melindres dos americanos com os asiáticos.

Por isso, nossos representantes lá fora precisam estar atentos. Dividimos com Pequim e Washington o protagonismo mundial na produção de alimentos. Disputamos mercados no mundo todo, principalmente com os EUA.

Os dois países já estiveram envolvidos em disputas em outros momentos, em casos relacionados a vários produtos como algodão, camarão e até suco de laranja - que, hoje, tem o Brasil como protagonista maior no planeta, ao responder por 80% do produto consumido no mundo.

Uma questão mais recente envolve o etanol de milho dos EUA. Eles pleiteiam maior entrada aqui. Em paralelo, desejamos uma cota maior para o açúcar brasileiro no mercado norte-americano. Essa disputa já dura tanto tempo que, de lá pra cá, o Brasil se tornou grande produtor e exportador de etanol de milho.

Para além das diferenças ideológicas, fica claro que a postura do presidente Trump é de protecionismo de mercado. Eles estão no papel deles, de proteger os seus produtores.

Ao nosso país cabe se organizar de maneira pragmática. Não pode e não deve escolher lados, nem ideologias. Agir de maneira a obter o melhor resultado para nossa economia e auxiliar o grande trabalho de nossos adidos agrícolas e embaixadores - como os que encontrei recentemente em missão na Europa - para chegar a consensos.

Ao longo de 20 anos, importamos mais dos EUA do que exportamos para lá - nosso déficit comercial desde 1997 é de US$ 48,21 bilhões. Por outro lado, no ano passado, exportamos US$ 40,3 bilhões em produtos, e importamos US$ 40,58 bi - uma diferença bem menor. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Brasileiro (MDIC).

Em resumo: eles também precisam de nós. Até por isso, apesar da necessidade de nos adaptarmos ao novo momento, não vejo chance para rompimento de relações. É apenas o protecionismo americano em ação. Não tem doido nessa história.

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