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Bolsonaro ajuda ou atrapalha a causa da anistia?

BOLSONARO ANISTIA
O ex-presidente Jair Bolsonaro faz a "ola" durante manifestação pela anistia no Rio de Janeiro. (Foto: EFE/ Andre Coelho)

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(Opa! Pó pará! Se você leu apenas o título do texto e já ficou todo eriçado, na defensiva, respire fundo. Conte até dez. Lembre-se de que não sou seu inimigo nem sou inimigo de Bolsonaro nem nada do tipo. Lembre-se de que estou aqui para propor uma reflexão e uma conversa. Lembrou? Ótimo. Agora pode continuar a leitura).

Semana passada a cabeleireira Débora Rodrigues começou a ser julgada pelo STF. O primeiro a votar foi o implacável e perverso ministro Alexandre de Moraes, que usou todo o seu estoque de sofismas e malabarismos para defender a tese meio lelé de que Débora, munida de um misterioso batom inflamável, tentou dar um golpe de Estado.

Como pode uma coisa dessas?

Você se revoltou. Eu me revoltei. Qualquer pessoa com meia dúzia de neurônios e um coração não totalmente corroído pela ideologia se revoltou. Como um juiz, e ainda por cima da instância máxima do Judiciário, pode ser tão cruel – e ainda por cima posar de defensor da democracia? Não é possível que alguém em sã consciência pense realmente que Débora é uma golpista de altíssima periculosidade ou algo do tipo. Esse cara não percebe o estrago que ele está causando para a própria Justiça?

Aproveitando que ainda sou razoavelmente livre, estava pensando essas e outras coisas impublicáveis quando apareceu na minha timeline a figura do ex-presidente Jair Bolsonaro convocando as pessoas para a manifestação do próximo dia 6 de abril, na Avenida Paulista. Os organizadores pretendem reunir um milhão de pessoas, a fim de fazer pressão pela aprovação da anistia a gente como Débora Rodrigues.

Se colar, colou

E tudo bem. Bolsonaro está no papel dele. Ele que, não nos esqueçamos, também está sendo perseguido pelo STF e em breve será julgado – e condenado – com base num processo tão cheio de nulidades que me falta o complemento da frase. Além disso, Bolsonaro é uma liderança ainda bastante popular. E, no fundo (cá entre nós), acho que o ex-presidente se sente um pouco culpado pelo destino dos presos do 8 de Janeiro. Afinal, é gente que o apoiava. Talvez no fundo, bem lá no fundo, Bolsonaro reconheça que poderia ter desmobilizado o pessoal e evitado essa palhaçada toda.

Por outro lado, Bolsonaro está longe de ser uma unanimidade. Veja o meu caso: às vezes tenho pena; às vezes tenho raiva. Às vezes acho que Bolsonaro fez o possível, levando em conta suas limitações insuportavelmente humanas; às vezes acho que ele usou Débora Rodrigues & Cia. como bucha de canhão de um golpe do tipo “se colar, colou”. É complicado...

Mais perguntas do que respostas

Foi com base nessa confusão que me peguei perguntando: Bolsonaro ajuda ou atrapalha a causa da anistia? Será que tem gente que deixa de defender a anistia por medo de se passar por bolsonarista? Ou por medo de estar defendendo antes de mais nada a anistia a Bolsonaro, talvez? Será que, mesmo entre a direita mais indignada com a perversidade suprema, há quem ache que Débora merece os 14 anos de cadeia “pra deixar de acreditar em político”, como já vi dizerem por aí?

Já deu para perceber que, para mim, a associação entre a causa nobre da anistia e Bolsonaro é um problema. Mas e se for impossível dissociar uma coisa da outra? Será que a direita brasileira é madura o bastante para enxergar Bolsonaro apenas como uma liderança, alguém capaz de aglutinar uma multidão em prol de uma causa, e não como um beneficiário da anistia? Como você percebe, tenho mais perguntas do que respostas.

Como sou tonto!

E agora é aquela hora em que publico o texto, todo crente de que os leitores não só entenderão a proposta como também me responderão com opiniões articuladas e educadas, sempre partindo da premissa de que o texto é um diálogo civilizado entre escritor e leitor, ambos bem-intencionados. Como sou tonto, meu Deus.

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