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O Peninha sempre foi um chato. Tanto o personagem da Disney quanto o jornalista/ historiador. Mas há chatices inócuas e chatices perversas, como celebrar o assassinato do ativista Charlie Kirk, aquele do “prove que estou errado”. Por causa de seus comentários obscenos, nada menos do que obscenos, Peninha anda sofrendo uma série de boicotes e tal. Mas nada que tire o sono de quem, de acordo com o jornalista Claudio Dantas, tem R$4,7 milhões em projetos com o governo Lula.
Você, contudo, já sabe que às vezes eu gosto de ser “do contra”. Por isso, ao ver todo mundo falando o óbvio sobre esse comentário asqueroso aí do Peninha, fiquei me perguntando aqui se havia um modo de defendê-lo. Sim, defendê-lo! Só pelo exercício intelectual da coisa. E também pela oportunidade de citar a nunca-demais-citada frase de Alan Jacobs, em seu obrigatório, mas ainda inédito no Brasil, “The Year of Our Lord 1943: Christian Humanism in an Age of Crisis” [O ano da Graça de 1943: humanismo cristão num tempo de crise].
Liberdade de expressão?
Pois diz Alan Jacobs que “se tudo é uma questão de opinião, e se cada um tem a sua, resta apenas a força para decidir quem está certo”. Ou seja, quando a verdade é relativizada, só a porrada pode restabelecer a verdade. É uma frase tão boa que explica não só o assassinato de Charlie Kirk como também por que infelizes como Peninha se sentem à vontade para desejar mais e mais violência contra seus adversários ideológicos. Pensando bem, a frase é ótima, excelente e espetacular porque explica ainda o debate sobre a anistia e o espetáculo deprimente que foi o julgamento do Bolsonaro.
De volta à fala repugnante de Peninha, na tentativa de defendê-la alguém pode dizer que ela se enquadra na liberdade de expressão. E esse alguém não estará de todo errado. Afinal, Eduardo Bueno não fez apologia direta ao crime. A rigor, e apesar da sua revolta, que também é minha, trata-se apenas de uma opinião pessoal e de mau gosto, vinda de um sujeito que se orgulha do mau gosto. Além disso, o exagero, a ironia e até a crueldade são ou deveriam ser comuns no debate público. A gente (me incluo) é que anda muito melindrado e é compreensível, já que apenas um lado do espectro político tem suas opiniões censuradas e criminalizadas.
São Peninha
O problema é que, para enquadrar a fala do pobre-diabo no amplo conceito da liberdade de expressão, dar de ombros, deixar pra lá, reduzir o personagem chato à sua insignificância e seguir com a vida... é preciso antes ignorar as circunstâncias em que o piti foi dado, bem como a expressão facial, o tom de voz, o histórico de polêmicas e até o sotaque do sujeito que se faz chamar de Peninha. Mais difícil ainda: é preciso partir do pressuposto de que Eduardo Bueno tinha alguma espécie de boa intenção ao vomitar aquelas estultices todas. Ou melhor, de que houvesse um mínimo de legitimidade moral no que ele disse. Você consegue?
Eu, que me reconheço insuportavelmente humano, não consigo. Mas não tem problema. Porque estava pensando aqui que São Paulo, ninguém menos do que São Paulo, participou da execução de Santo Estevão, o primeiro mártir cristão. São Paulo que depois caiu do cavalo, se converteu e ajudou a disseminar o cristianismo. Colocando as coisas em perspectiva, quem visse o padroeiro dos escritores ali, celebrando a morte de Estevão, jamais imaginaria tudo o que aconteceu depois. Logo depois. E acontece até hoje.
Aonde quero chegar com isso? Bom, sei que é improvável, talvez até improbabilíssimo. Mas a verdade é que gente muito pior do que o Peninha já teve a oportunidade de se arrepender e se salvar. Então.




