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Polzonoff

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“P*tinha do sistema”: como Carlos Bolsonaro sabota o bolsonarismo

CARLOS BOLSONARO
Carlos Bolsonaro: vai um xingamento, uma ofensinha aí? (Foto: EFE/Isaac Fontana)

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Ops! Acaba de aparecer um tuíte de Carlos Bolsonaro na tela. Vamos ver o que ele escreveu, mas já adianto: pelo histórico do Zero-Dois, tire as crianças da sala. Aqui vai: “Os ‘isentões’ e os ‘limpinhos’, aqueles que diziam lutar pela ‘união da direita’, hoje já não querem mais união alguma. Por quê? Porque muitos se revelaram aquilo que sempre foram: p*tinhas do sistema”.

Uau e em tempo! Disfarcei o palavrão porque este é um jornal de família. Mas o asterisco providencial não consegue esconder o fato de que a linguagem chula e os insultos que Carlos Bolsonaro distribui no atacado são prejudiciais ao bolsonarismo. Por quê? Como assim por quê? (E aqui um Carlos Bolsonaro acrescentaria: você é burro?! – e esta é a diferença entre mim e ele). Porque fala apenas para os convertidos e não é capaz de atrair o voto ou mesmo a simpatia de um mísero moderado. E, na boa, o bolsonarismo não está podendo desperdiçar apoio assim, não.

Bagos, s.m. pl.

Pelo contrário! O bolsonarismo precisa muito do apoio dos isentões, limpinhos, centristas e quetais. Mas a linguagem chula de Carlos Bolsonaro só afasta quem é xingado de “p*tinha do sistema”. Da mesmíssima forma, aliás, que o PT afastava e ainda afasta o eleitor comum que era e é xingado de fascista, racista, machista, fanático religioso, etc. Mas dizem que isso é autenticidade, firmeza e mera linguagem enfática, né? Tem gente que acredita... Mas péra lá que Carlos Bolsonaro escreveu mais um tuíte. Vamos ver o que ele tem a dizer agora.

“A Faria Luler se apresenta como elite esclarecida, mas hoje é o maior obstáculo ao desenvolvimento nacional - querem reconhecimento sem nunca ter suado por ele. Não merecem nem o cheiro dos meu (sic) b*gos após uma pelada de futebol!”. Como se percebe, um verdadeiro poeta! Que não sabe concordância, mas um poeta. E um poeta novamente exercitando a questionável arte de ofender quem ele deveria conquistar e ter como aliado num improvável segundo mandato de Jair Bolsonaro. Ou num igualmente improvável mandato do irmão, Flávio.

Redondilha menor

Sem falar que o discurso é sempre o mesmo e se baseia em constranger por meio de indiretas. Não estou te chamando de “isentão” nem de “limpinho” nem de “Faria Luler”, mas se a carapuça serviu... Agora me responda, leitor. Me responda com sinceridade: você conhece alguém que, uma vez xingado de “p*tinha do sistema” ou de alguém que não merece sentir nem o cheiro dos testículos suados do filho de Bolsonaro, tenha se “convertido” ao bolsonarismo ortodoxo pregado por Carluxo (não confundir com cartuxo)? Nem eu.

Até pela qualidade dos termos, dá para ver que tem muito do Olavo de Carvalho nisso . Mas também tem um bocado de... falta de educação mesmo. De incapacidade de dialogar com um mínimo de civilidade. Tem muita mágoa. Ah, mas o outro lado também faz – reclamará alguém. Sim. E é por isso que eles são o “outro lado”. Mas eis que nosso herói acabou de tuitar novamente. Abramos, pois, aspas para ele: “Resumindo: [Mauro] Cid é uma r*mpeira de boina!”. Uma redondilha menor (r*m/pei/ra/de/boina)! Eu não disse que era um poeta?

Nem tão diferente assim

E amanhã, pode apostar!, haverá outro tuíte. E outro e outro. Cada um deles alienando um eleitor que se reconhece moderado, mas não gosta de ser chamado de “isentão”. Até porque não é. Ou um eleitor que bate no peito para dizer que é limpinho mesmo. Ou ainda um eleitor que está prostituto da vida com Bolsonaro & família justamente por ver no uso desse tipo de retórica chula uma das razões para Lula ter voltado ao poder.

O problema, repito, é que a direita bolsonarista está na lona e, se pretende um dia voltar ao poder, vai precisar dos votos dessa gente que não, não é morna – melhor deixar claro antes que alguém venha citar Apocalipse 3:15-16. É apenas uma gente que tem mais o que fazer (inclusive fazer o bem!) do que ficar idolatrando político e hostilizando quem pensa diferente e, muitas vezes, na maioria das vezes, nem tão diferente assim.

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