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Camarada diário,
Antes de mais nada quero lhe pedir desculpa por tê-lo chamado de “querido”, esse termo pequeno-burguês que expressa desejo e posse. Se ainda fosse “querido vestido Chanel”, “querido lenço Hermès” ou “querido tênis amarelo Onitsuka Tiger Mexico 66”, tudo bem. Mas chamar de “querido diário”, sei lá. Entende?
Estive ausente destas páginas porque viajei para o Japão. Viajei mesmo. De primeira classe, porque sou uma primeiríssima dama. Se isso atrapalha a popularidade do meu marido, dane-se. Apesar do que dizem as más línguas, não sou cuidadora dele. Aliás, viajei com uma semana de antecedência porque estava precisando respirar outros ares, visitar outros shoppings e principalmente ficar um pouco longe do Lula, que só sabe falar de ovo de ema e de jabuti jabota.
Nabíbia, Nanínia, Namíbia
Não gostei nada de ele ter me impedido de ir a Nova York. Mas isso nem foi o pior. O pior foi que o Lula teve a pachorra de sugerir que eu fosse para a posse de uma camarada qualquer na Nabíbia, Nanínia, Namíbia. Sei lá como se fala, muito menos onde fica esse lugar onde Judas perdeu as meias, depois de já ter perdido as botas. O Lula ainda tentou me convencer dizendo que a Nabínia é tão limpinha que nem parece a África (disse mesmo!). Mas eu bati o louboutinzinho. Imagina ter que pegar aquele Aerolula caindo aos pedaços para conhecer um lugar que não tem NADA! Ele que mandasse a Anielle.
Diário, eu te daria meu novo batom KissKiss Gold and Diamonds da Guerlain se você me dissesse, SEM PESQUISAR, o nome da capital desse país aí. Nagíbia, Mamímia, sei lá. Mas é pra usar na boca, hein! Não vai usar pra dar golpe de Estado escrevendo “perdeu, mané” na estátua do STF. Seu safadinho.
Paisinho atrasado
Sobre o Japão. Ah, o Japão. Paisinho atrasado, né? Quando me disseram que as mulheres lá são recatadas e que o povo respeita a Tradição, meu lado feminista se eriçou todinho. Epa rei! Sério que as japonesas andam sempre um passo atrás dos homens? Que atraso! Por isso é que os japoneses são daquele jeito. Dizem até que eles recolhem o próprio lixo, respeitam os mais velhos e atravessam a rua na faixa. Que absurdo! Agora calma aí que meu marido está me ligando. (...)
Ai, que saco. Escrevo este diário a caminho de Paris e o Lula atrapalha meus pensamentos e reflexões brilhantes para perguntar se pode comprar umas garrafas de uísque japonês. Compre, oras! Desde que depois imponha sigilo ao cartão corporativo e escove os dentes... Sobre o Lula, aliás, dei uma entrevista à BBC e falei que ele não anda muito bem de saúde, não. Será que eu fiz certo? A Gleisi deve estar braba comigo. Paciência.
Imperatriz do Brasil
Se bem que eu gostaria de ser imperatriz do Brasil e usar uns quimonos de seda. Já me disseram que eu fico linda de quimono. Por falar nisso, até corei quando o Manel Macron me convidou para vir a Paris. Sem o Lula. Tive que inventar uma desculpa, mas ainda bem que eu tenho esse negócio aí do combate à fome pra usar. Não sei por que falam tão mal da fome: além de render votos pro meu marido e de me proporcionar viagens pelo mundo, serve sempre de desculpa irrefutável. Afinal, ninguém vai ter coragem de dizer que é a favor da fome. O que é que eu faria da minha vida se a fome acabasse, não é mesmo?
O Lula ficou lá no Japão com os parça dele. Depois, pelo que ouvi dizer assim por alto, vão pescar no Vietnã. Pescar, firmar acordos pra JBS, apertar a mão de comunista. Dá na mesma. Quando o Lula me pediu autorização pra esse passeio com os amigos, eu disse que tudo bem. Desde que ele desse uma declaração forte e definitiva sobre mim pra imprensa. Algo como “ela vai continuar fazendo o que ela faz, porque a mulher do presidente Lula não nasceu para ser dona de casa”. Gostou? Coisa do Sidônio.
Enquanto isso, eu e o Manel vamos estar juntos combatendo a fome. Não disse de quem.
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