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Caro leitor,
Conversávamos sobre a vitória da Beija Flor no carnaval carioca. O quê? Você acreditou? Dã. Claro que não, né? Por acaso tenho cara de quem acompanha desfile de escola de samba? Além disso, desde quando se fala de outra coisa que não de política neste país?
Pois bem. Conversávamos sobre política, aqui nos assustando com o rumo das coisas, ali rindo de qualquer situação (ou pessoa) que pudesse servir de válvula de escape. Aí alguém falou das eleições de 2026 e não perdi a oportunidade de ser chato e mencionar aquele texto em que pergunto: será que teremos mesmo eleições em 2026?
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Dudu
Teve início, então, uma discussão acalorada sobre a elegibilidade ou não do ex-presidente Jair Bolsonaro. “Só se o Lula e o STF decidirem que ele é o melhor adversário”, analisou um cientista político, daqueles de jaleco branco e tudo. Pensávamos nessa possibilidade remota quando alguém quebrou o silêncio para dizer.
Para dizer que a direita não vai ter Jair Bolsonaro, mas vai ter um Bolsonaro: Eduardo. Dudu, para os íntimos. Ele que está lá nos Estados Unidos fazendo das tripas coração para convencer as autoridades a imporem algum tipo de sanção ao ministro Alexandre de Moraes. “Põe aí: ele que, durante a Copa do Catar, com o país em crise, pessoas em frente aos quartéis e tudo, viajou ao Oriente Médio não para assistir aos jogos do Brasil, e sim para distribuir pen drives contendo informações importantíssimas sobre a situação política...”. Tá posto. Enfim.
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Tchê tchererê tchê tchê
Aí me perguntaram e eu pergunto a vocês: já imaginou ter de votar em Eduardo Bolsonaro para impedir um quarto mandato de Lula? Se não imaginou ainda, aproveite para imaginar agora. Pode fechar os olhos e tudo. Não tem problema. Leve o tempo que quiser e precisar. Eu espero. (...).
Na conversa, todo mundo imaginou e o que se viu foi uma coreografia de cabeças indo de um lado para o outro, de um lado para o outro, e uma profusão de tsc, tsc, tsc, tsc, tsc que não sei interpretar, mas coisa boa não parece ser. Até que alguém começou a entoar os imortais versos “Tchê tchererê tchê tchê/ Tchererê tchê tchê/ Tchererê tchê tchê/ Tchereretchê/ Tchê, tchê, tchê, tchê/ Gusttavo Lima e você”.
Choque de realidade
Quando as gargalhadas cessaram, veio o choque de realidade: e se, em 2026, a direita tiver de escolher entre Eduardo Bolsonaro e Gusttavo Lima para derrotar Lula? “Nah. Podem ficar tranquilos. Isso não vai acontecer”, disse, tentando me convencer e convencer os demais. Se bem que, do jeito que as coisas andam, não duvido de mais nada.
Pedindo desde já desculpas por ter colocado o “tchê tchererê tchê tchê” na sua mente, me despeço. Não sem antes pedir para você rolar mais um pouquinho a tela e conferir o post scriptum de hoje. Um abraço do
Paulo
P.S.
P.S.: Morreu Affonso Romano de Sant’Anna. Uma dessas pessoas que, num momento de crise, Deus colocou providencialmente na minha vida. Nunca me esqueci, e nem poderia, daquela conversa no Café Vilarino, quando ele me contou da experiência de substituir Carlos Drummond de Andrade como uma espécie de “poeta oficial do Brasil”.
Levei muito tempo para entender o peso daquelas palavras, pelas quais sou imensamente grato. Afinal, graças a elas aprendi que nem todo sonho mundano está em linha com nosso propósito de vida. Vida eterna, digo. E aquilo que hoje parece a oportunidade de toda uma vida amanhã pode muito bem se transformar numa daquelas mágoas eternas das quais vertem pus e frustração.
