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Eis como surgiu essa maluquice de, a certa hora esta manhã, desejar e até imaginar o ministro Luiz Fux dando voz de prisão a Alexandre de Moraes. Antes, porém, permita-me dar uma de mãe braba e dizer que, ao declarar a incompetência do STF para conduzir um julgamento político, Fux não fez mais do que a obrigação. E se a gente se empolga (e se empolga!) é porque no meio das almas corrompidas qualquer faísca de luz parece o sol.
Desculpe. É que acordei poeta hoje. Poeta e um bocado louco. Tanto que fui assistindo ao voto de Fux e acompanhando as reações da esquerda e da direita pelas redes sociais. Para aqueles, Fux já virou golpista na Austrália, enquanto para estes “ainda há juízes em Berlim” e coisas do gênero. É bonito ver as pessoas recuperando a esperança na justiça. Mas também é preocupante, porque tem sempre um pessoal que exagera na torcida, né?
“Mas não vai dar em nada, né?”
Tanto que, conversando com um jurista que naquele momento estava todo empolgado com o voto de Fux, expressei meu temor de que as palavras do ministro, deveras fortes, técnicas, demolidoras, uhu!, taca-le pau, Fux Veio!, fossem usadas pelos oportunistas justamente para animar uma plateia desesperada, que se divide entre a esperança frágil num milagre jurídico e a esperança improvável na pressão norte-americana, agora com direito a “uso do poderio econômico e militar” dos EUA.
“Mas é como o gol do Oscar no 7x1. Não vai dar em nada, né?”, perguntou meu lado cínico num momento especialmente empolgante (!) da leitura do voto. Não lembro qual. Ao que o amigo pacientemente respondeu que não. Infelizmente não. Como coerência não é uma característica comumente encontrada em poetas e loucos, emendei perguntando se por acaso Fux não poderia ali, naquela hora, de ofício e de veneta, simplesmente decretar a nulidade do processo todo, lidem com isso, toco y me voy, passar bem e tchau. A resposta foi uma negativa que apagou o fogo-fátuo das minhas ocas esperanças. (Disse que acordei poeta!).
Ofuxcando Moraes
Aí eu vim aqui escrever este texto. O voto de Fux, ao que parece, continua e continua empolgando a massa. Continua ofuxcando Moraes (pescou? pescou?). Então talvez seja melhor apressar a imaginação, antes que ela corra o risco de se tornar realidade: concluído o voto surpreendentemente veemente do emitente e grisalhamente proeminente, além de excelente, ministro Luiz Fux, fez-se silêncio na Corte. Dino estava boquiaberto; Zanin parecia perdido; Cármen Lúcia carmenluciava; e Alexandre de Moraes estava furioso. Como sempre.
Foi então que Fux, antecipando-se ao colega que, pelo olhar psicopata, parecia querer incluí-lo no Inquérito dos Atos Antidemocráticos e, ato contínuo, tascar-lhe uma preventiva daquelas, levantou-se muito calmamente, como quem sabe que tem como aliados a verdade e um porta-aviões norte-americano (talvez), disse: por todos os crimes cometidos no decorrer deste processo político, por toda censura e abuso de autoridade, por toda arrogância e por contribuir decisivamente para o achincalhamento deste Tribunal e a destruição, de fato, da democracia, V. Excelência teje preso!
Poetas e loucos
Não vai acontecer. Claro que não. Nem em mil éons. Eu sei e que pena. [Cruza os braços e faz biquinho]. Mas vai me dizer que não seria no mínimo divertido? Eu, com certeza, engasgaria com a pipoca. O restante dessa história, dessa confusão, com direito a plantão da Globo e tudo, sem falar nos desmaios, nos fogos de artifício, no clima de verão nepalês, no discurso do Lula, nas análises daqui e dali, e principalmente.....................
..................na imagem icônica de um ministro do STF, e justo aquele, usando pulseira prateada de meliante e passeando de Uber Black da PF eu deixo para a sua imaginação. Se é que ao cidadão comum, nem poeta nem louco, ainda é permitido imaginar esse tipo de coisa.




