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Naftalina

Por que a opinião de Marilena Chauí importa?

MARILENA CHAUÍ
Marilena Chauí: imagine chegar aos 84 odiando o homem comum"! (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

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A filósofa Marilena Chauí está de volta às manchetes, causando revolta no leitor que se lembra dela como “a intelectual que odeia a classe média”. E volta reafirmando seu ódio a essa classe social que é a minha e a sua, mas seguramente não é a da filósofa que, com um salário de R$40 mil, provavelmente se considera uma verdadeira aristocrata da intelectualidade brasileira.

Disse mais, Marilena Chauí. Que, por sinal, é autora de um livro de culinária – achei que você fosse gostar de saber. Disse que é marxista convicta e que não quer entrar no século 21. São duas afirmações que não só combinam como também exemplificam a mentalidade dos octogenários intelectuais brasileiros (entre os quais relutantemente dá para incluir até os velhotes da MPB), esses que moldaram gerações de subintelectuais, que por sua vez moldarão gerações e gerações de subsubintelectuais – até que a tragédia seja inevitável.

Pobre filósofa rica!

Mas vamos por partes, como diria a assassina do marido que foi condenada a uma pena menor do que a do ex-presidente Jair Bolsonaro. Sobre o ódio à classe média, acho que o problema é conceitual. “A classe média funciona oprimindo os dominados e bajulando os dominantes. Por isso ela é odiosa”, disse Chauí, que por essa lógica deveria odiar bem mais os ministros do STF e os políticos em geral do que o pequeno empresário, o funcionário público ou o colaborador celetista que paga com dificuldade a prestação do Renegade.

O problema, para Chauí, é que ela é “marxista para valer”, como disse à Folha de S. Paulo. E, por isso, não consegue compreender a vida como uma obra colaborativa. Repare que, para ela, a classe média funciona oprimindo e bajulando, bajulando e oprimindo. Pobre filósofa rica! Que existência desgraçada deve ter tido alguém ao longo de 84 anos para não compreender dinâmicas de classe média que vão muito além da opressão e bajulação. Sim, a opressão e a bajulação fazem parte da classe média, assim como fazem parte da vida dos ricos e dos pobres. Mas há também o amor, o serviço, o senso de responsabilidade. A vocação na maioria das vezes desconhecida e inata para a excelência.

Labirinto de ideias ultrapassadas

Aí está: uma filósofa típica do ambiente universitário brasileiro, na verdade uma repartição burocrática destinada a carimbar carreiras ociosas, bem-remuneradas – e em essência inúteis. Do tipo que não deixa rastro. Uma filósofa que se perdeu num labirinto de ideias ultrapassadas e que agora vem a público confessar que, presa no emaranhado de teias de aranha do seu intelecto carcomido por traças ideológicas, é incapaz de contemplar o século 21. E olha que já se passaram 25 anos, hein!

Que tristeza! Que tristeza deve ser chegar à famosa “idade provecta” sem nenhuma contribuição efetiva para a liberdade, a prosperidade ou a dignidade do país. Sem deixar qualquer legado que não a lealdade a uma ideologia assassina, um livro de culinária e principalmente o ódio ao homem comum, que levanta todos os dias cedo, trabalha, cria os filhos, tenta economizar uns trocados, fica pateticamente feliz com a compra do carro zero ou a vitória do time do coração, ri dos filmes do Leandro Hassum, faz as refeições ao lado de uma reprodução da Santa Ceia...

Continuar sendo

O homem comum, de classe média, cujo ponto alto da vida talvez tenha sido uma viagem à Disney ou à Europa para tentar tirar aquele sujeito da guarda real inglesa, aquele com o chapelão felpudo, do sério – e postar nas redes sociais. Pois é. Marilena Chauí dedicou toda uma vida, 84 anos, a lutar contra esse inimigo. Esse coitado. Contra mim e contra você. E agora octogenária, do alto de toda a “sabedoria” que a filosofia lhe deu, ela vem a público reafirmar suas convicções cheirando à naftalina e babar seu fel contra seus semelhantes, aqueles cuja mera existência lhe soa como ofensa. Uau.

E aí eu volto à pergunta do título: por que a opinião de Marilena Chauí importa? Será que é porque ela tem um diploma? O que confere a Marilena Chauí autoridade para disseminar o ódio pela classe média e para desprezar o modo de vida de alguém? Por que ela seria referência em qualquer outra coisa além da incapacidade de fazer aquelas reflexões que foram tão caras a Ivan Ilitch no fim da vida? A resposta à pergunta inicial, portanto, é esta: a opinião de Marilena Chauí, se importa, é como um alerta do que jamais se tornar, do não ser. E do não continuar sendo.

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