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Lula e Janja em Londres: tem uma surpresinha para os leitores de fé que chegarem ao fim do texto.| Foto: Reprodução/ Twitter

Para ele. Mas não para nós aqui no andar de baixo. Lula chegou chegando, como dizem os jovens. E foi logo comprar alfajores na Argentina, levando a tiracolo sua esposa – troféu de um jogo para mim incompreensível. Lá, agiu como agem aqueles que estão velhos demais para aguentarem certas coisas: falou em golpe e fez caridade com o chapéu alheio. No caso, o chapéu também dos pobres nordestinos que acreditaram que neste momento estariam se fartando de picanha.

Agora mesmo, enquanto escrevo este texto, vejo fotos do casal presidencial em Londres. Eles estão lá para a coroação do Ray Charles III – o mais republicano dos monarcas ingleses. E, sim, eu sei que escrevi errado; foi uma brincadeira, um trocadilho, uma piadinha. Porque ninguém mais aguenta ler sobre Lula & Janja e passar raiva. Em Londres, para o escândalo incompreensível de uma nação que odeia austeridade, simplicidade e discrição, o casal cara-de-pau ficou em hotel de luxo, com diária de R$37 mil. Ou, para citar a sabedoria milenar do filósofo Jean Wyllys, “fascista odeia ostentação”. Né?

Antes disso, eles já tinham ido fazer foto em Washington, prestar reverência a ditador na China e passar vergonha em Portugal e na Espanha. Se eu não fosse uma pessoa estranha, que odeia viajar e sofre até mesmo para sair do próprio bairro, sentiria inveja do passaporte supercarimbado dessa realeza sindical aí. Como sou um semieremita esquisitão, contudo, a verdade é que as viagens de Lula me soam como o castigo que ele merece já nem sei mais por quê. São tantos os motivos. Mas merece.

Dizia eu, porém, que os cinco primeiros meses do governo Lula foram muito bons. E se enfiei um “para ele” logo na primeira frase foi para não assustar o leitor. Só que você há de concordar comigo que não são apenas Lula e Janja que estão felizes e satisfeitos com tudo o que aconteceu nos últimos cinco meses. Toda a esquerda, do Alckmin ao infinito, está alegre, contente e mais saltitante do que aquele minissenador histérico e seu eterno ar de falsa indignação.

Já parou para pensar?

E nós nos revoltamos e tal, mas. Já parou para pensar? Sério: já parou para pensar? Pois então pare agora. Pegue aí na sua memória todos aqueles intelectuais e artistas que lutaram pela revolução e consequente ditadura do proletariado desde a década de 1960. Esses octogenários ridículos da geração “É Proibido Proibir” e “Abaixo a Guitarra Elétrica”, que deram de ombros para a queda do Muro de Berlim, que testemunharam com desdém o colapso da União Soviética. E que hoje defendem a ditadura & censura que lhes interessam.

Perceba que eles estão realizando um sonho de juventude. Graças a Lula e sua bem-sucedida estratégia de cooptação do Judiciário e da imprensa, eles estão vendo a concretização da realidade que, ainda imberbes, idealizaram ali em Ipanema, talvez no Arpoador, entre uma baforada e outra e misturando Marx e Castañeda e o que mais os ajudasse a conquistar as filhinhas-de-papai. Este parágrafo, aliás, responde a uma pergunta retórica feita pelo Roger Moreira, o do Ultraje, no Twitter.

É por isso, e nada além disso, que intelectuais, jornalistas, artistas e comunistas ordinários têm dificuldade para assumir que ajudaram a eleger um governo com aspirações totalitárias: porque esse sempre foi o desejo deles. Desde sempre, essas pessoas usaram a democracia como disfarce para seus anseios totalitários. Com Lula no poder, e ainda mais depois de um processo de martírio político (Lava Jato), eles se sentem mais do que nunca vingados.

Eles sentem prazer em calar seus inimigos. E se regozijam com o fato de “o outro lado” estar sofrendo. Eles fazem brindes à censura, à perseguição aos CACs, às invasões do MST. Eles dançam para celebrar aumento de impostos, pressão sobre o presidente do Banco Central e a aproximação imoral com a China. Eles jogam as mãos para o céu e agradecem a sei lá qual entidade pela existência de um Alexandre de Moraes disposto a sujar seu nome para fazer essa revolução silenciosa.

Adendo

E aqui o texto teria terminado nesse tom algo ressentido de quem observa a realidade ao redor e se sente minúsculo, não, menor ainda, microscópico. De quem se sente perdedor de uma guerra suja e imoral. De quem agora terá de testemunhar calado os saques próprios dos bárbaros vencedores.

Mas acontece que acabei de ouvir uma homilia do padre Paulo Monteiro na qual ele falava sobre a importância de se confiar em Deus. Só confiar. Para meus leitores de fé, esse é um lembrete necessário: por mais que tenhamos medo e não consigamos enxergar, há de haver um propósito nesse caos todo.

Talvez não seja um propósito de nação, e sim de Salvação. Nessa perspectiva, o título desta crônica, outrora irônico, ganha contornos metafísicos. Talvez para nós aqui do andar de baixo tenham sido mesmo muito bons os últimos cinco meses, tantas foram as oportunidades que tivemos para praticarmos a misericórdia e a caridade. Quanto aos meus leitores sem fé, sinto muito. E olha que hoje é só segunda-feira!

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