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Gilmar Mendes sorri pela primeira vez e Alexandre de Moraes conta piadas no Churrascão do Lula.| Foto: Montagem

Por Athayde Petreyze, seu criado-mudo

Desesperado por recuperar o prestígio que só uma imprensa independente é capaz de lhe devolver, e cansado do rapapé sem imaginação dos jornalistas de sempre (um beijo, Reynaldo!), o venerável presidente Lula não hesitou em ligar para a Athayde P13 Produções e contratar este douto colunista social socialista que vos fala para contar os bastidores do Churrascão da República, que celebrou a cassação do deputado Deltan Dallagnol. O concorrido evento bovino-alcooleiro foi realizado na chiquérrima laje niemeyeriana do Palácio do Planalto.

O churrasqueiro

A grelha e os espetos ficaram a cargo do sempre prestativo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que trajava um belo avental vermelho com a estrela do PT na altura da hombridade. Uma pena o Mercado não estar ali para ver o maestro das finanças nacionais manejando o fogo e as facas com toda a experiência de seus dois meses de treinamento intensivo com o ministro e gaúcho assumido Paulo Pimenta.

Axé com consciência social

Assim que os primeiros convidados chegaram, a ministra Margareth Menezes começou a cantar seu axé com consciência social. Munido da primeira das muitas caipirinhas do dia, o ministro Gilmar Mendes foi visto batendo o pezinho ao som da música envolvente e “crítica na medida certa”, nas palavras dele. Especialista em código morse que sou, porém, decifrei a mensagem que o pezinho ritmado do ministro transmitia: “Moro é o próximo”. O que será que ele quer dizer com isso?

Na cozinha...

Assim que chegou, a ministra Simone Tebet se juntou à primeira-dama Janja e à ministra Carmem Lúcia na cozinha, onde ficaram preparando maionese e salada de alface, tomate e cebola. “A Margareth é fogo, hein? Em vez de vir ajudar fica lá cantando”, reclamou uma das mulheres. Não digo qual. Ao me verem ali fazendo este excelente trabalho de reportagem investigativa, porém, elas mudaram de assunto. “Viram o capítulo da novela ontem? Adoro o Toni Ramos. Pena que ele esteja fazendo papel de fascista, né?”, disse a Janja.

Flávio Dino vem aí!

Assim que Flávio Dino chegou ao churrasco, Lula foi informado pela Abin de que precisava de mais carne. Muito mais carne. Gestor hábil que é, o presidencialíssimo consultou Haddad e ali, usando sua Mont Blanc sobre um saco de pão Hermés, assinou um decreto mandando o Exército abater dez cabeças de gado. A imprensa golpista dirá que Flávio Dino comeu um boi inteiro, mas é mentira. Foram dois.

Vossa Majestade

De repente, ouço palmas no recinto. Não só! Ouço também foguetes e o espocar de fuzis – cortesia da ONG antiviolência policial PCC (Paz, Coração e Carinho), que também se prontificou a fazer a segurança do evento democrático. “Olha só quem chegou”, me diz Randolfe Rodrigues, subindo num banquinho para tocar meu ombro. Ao me virar para a esquerda, sempre à esquerda, quase fico cego com o brilho que a aura dourada de Alexandre de Moraes emana. Que homem!

Picanha

“Hei, Petreyze. Diz aí no seu texto que a carne era picanha, senão logo aparece alguém pra dizer que você esqueceu dessa informação óbvia por interesses escusos”, me aconselhou uma fonte anônima. Por falar em fonte anônima, já contei que Zé Dirceu permaneceu o churrasco todo atrás da churrasqueira, só observando? Pois.

Momento de crise

Na cozinha, Janja, Tebet e Carminha mudaram de assunto e agora falam mal, digo, fazem críticas construtivas a Gleisi Hoffmann. “Será que a Marina vem?”, pergunta uma delas bem quando Marina chega e, furiosa, vai até a churrasqueira. “O Lula me prometeu que teria carne vegana!”, diz ela, soltando fogo pelas ventas, indo embora e criando uma crise política no governo.

Supremas gargalhadas

Eduardo Appio, Cristiano Zanin e Mas-Será-o-Benedito Gonçalves escutavam atentamente o ministro Alexandre de Moraes. “Aí a Tabata disse: por que vocês não indicam uma mulher negra para o STF? Hahahahahahahahahaha”. As gargalhadas assustaram o cãozinho Resistência que, juntamente com um dogue alemão de olhar parvo e um pinscher invocado, esperava para roer os ossos da festança.

O ponto da carne

Haddad errou o ponto da carne. Errou feio. “Não tem problema, cara. A carne mal passada é uma ameaça à democracia”, disse Gilmar Mendes, a fala um tanto quanto embolada, mas sorrindo pela primeira vez em 67 anos. A caipirinha estava boa mesmo. Chamado a julgar o ponto da carne, Eduardo Appio não hesitou em dizer que a picanha estava per-fei-ta.

De olhinhos bem fechados

Margareth Menezes começou a cantar uma versão de Que País É Este. Equilibrando precariamente o copo de cerveja, de olhinhos fechados e expressão de enlevo, Toffoli cantava o refrão com a indignação mais sincera que o Zé Dirceu lhe ensinou.

“Missão dada...”

Entreouvido na mesa onde Alexandre de Moraes continua seduzindo a plateia com seu humor cáustico, mas em conformidade com o Estado Democrático de Direito: “Cassei mesmo. E agora ele vai ter que recorrer ao STF. Ao STF! Hahahahahahahaha”. Por precaução, todo mundo riu. Até eu.

“Ô, Lula, que churrasco é esse que não tem lagosta? Cuidado que eu te prendo de novo, hein?”, diz o ministro, todo empolgado. Por via das dúvidas, Lula pede encarecidamente ao ministro Benedito Gonçalves, que pouco depois volta com uma lagosta em cada uma das mãos. “Missão dada é missão cumprida”, cochicha ele, repetindo seu bordão preferido.

Munheca

Depois de muita insistência dos convidados, Lula imita a munheca dramática do chef turco Salt Bae e faz uma piada com cervídeos que não reproduzo aqui porque não.

Evidências

Aos poucos a animação se desfaz. Toffoli canta “Evidências”. Dino, muitos e muitos (e muitos) quilos de comunismo concentrado, pede que o ajudem a levantar. De bucho cheio, Alexandre de Moraes me olha como se fosse mandar me prender a qualquer momento. Eu, aliás, estou quieto num canto, bloquinho na mão, tentando pensar numa forma de incluir o ex-presidente Jair Bolsonaro neste churrasco sem atrair a fúria da direita mal-humorada.

Gilmar Mendes, que exagerou na caipirinha, dorme numa poltrona Sérgio Rodrigues milagrosamente salva da ira golpista do 8/1. Zé Dirceu só observa. E enquanto as mulheres lavam a louça, Haddad separa os ossos a serem disputados pelo vira-lata Resistência, o dogue alemão Parvo e o pinscher Serelepe.

Athayde Petreyze é colunista social socialista, caçador de nazistas, consultor de diversidade, sommelier de gravata borboleta e mixologista forense. Formado em Direito em Harvard e em Esquerdo em Dravrah, todos os anos ele é forte concorrente ao Prêmio Nobel da Paz. Os direitos de sua autobiografia “O Caminho da Borboleta Verde-Amarela: Memórias de um Fascista Arrependido” acabam de ser comprados pela Netflix. Na adaptação, Petreyze será interpretado por Seu Jorge.

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