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Caro leitor,
Teremos carta nesta semana?, me pergunta meu amigo Giorgio. Sim, teremos. Aliás, estamos tendo. Dã. E teremos pedido de desculpas também, porque nos últimos 15 dias foi impossível escrever esta missiva que tanta satisfação me dá. Resultado: os assuntos se acumularam e já nem me lembro mais do que conversávamos. A tia Joana melhorou? Como foi o casamento da Lucicreide? E o Toninho? Continua bebendo muito, aquele safado?
Assim, sem querer desperdiçar os últimos dias da Semana Santa e o domingo de Páscoa recitando a velha e cansada ladainha de que Alexandre de Moraes é isso, Lula é aquilo e Bolsonaro... Bolsonaro não! Não se pode falar um “a” do Bolsonaro. Sem querer desperdiçar a carta com assuntos óbvios, achei por bem lhe perguntar quem quer a pacificação do Brasil?
Eu quero! Quero muito
Eu quero! Quero muito. Quero tanto que às vezes até sonho em abrir o aplicativo da Gazeta do Povo e me deparar com a manchetona: BRASIL FINALMENTE PACIFICADO. Mas me responda com sinceridade: você quer a pacificação do país? Será que os políticos e a tal da sociedade civil organizada querem? O curioso é que, se me fizesse essa pergunta há um mês, responderia que sim, com certeza.
Hoje, porém, me sobram dúvidas que, expostas à realidade, se transformam numa certeza quase contrária: poucos são os que querem a pacificação do Brasil. E as justificativas para esse não-querer são várias. Aqui um diz que a pacificação significa a vitória da esquerda; ali outro diz que não existe pacificação sem o colapso do Sistema - uiuiui; há ainda quem diga só haverá pacificação depois que os ministros Fulano, Beltrano e Cicrano pagarem por seus crimes. E sempre tem um discípulo de Olavo de Carvalho para dizer que pacificação é o piiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.
Absurdo!, inaceitável!, inadmissível!
Mas a verdade, a verdade verdadeira e incômoda, é que muita gente despreza a ideia de um Brasil pacificado porque prospera com o clima de beligerância que tomou conta do país. E não me refiro aqui apenas à prosperidade financeira. Muita gente prospera “intelectualmente” num mercado de ideias conflagrado, porque na guerra predominam os clichês, os bordões, os tique-taques e tudo aquilo que é mais rasteiro. Num mercado de ideias conflagrado como o nosso, e por mais contraintuitivo que isso possa parecer, prospera a burrice, enquanto num ambiente de paz, ainda que relativa, para prosperar o sujeito precisa de um mínimo (um mínimo!) de inteligência e sofisticação.
Sem falar na prosperidade do ego. Posso estar enganado e, se for o caso, me corrijam (com carinho), mas me parece que muita gente se sente bem, se sente melhor, se sente maior do que os outros só, apenas e tão-somente na presença de um inimigo claro. E como se sentiriam esses num ambiente de paz, sem debates, sem a possibilidade de humilhar o outro e sem a metralhadora que alterna rounds de absurdo!, inaceitável! e inadmissível!?
Um tiquinho-inho
Algo me diz que, em paz, a vida de muita gente perde o sentido – daí o desinteresse pela pacificação do Brasil. Além disso, e pedindo desde já desculpas pela obviedade necessária, é muito mais fácil conseguir votos e vender livros, cursos ou palestras a quem está revoltado ou entrincheirado na manutenção do poder. Que lástima, não? E tem mais! Queria terminar a carta reafirmando meu compromisso com a pacificação (nem que seja um tiquinho-inho) do Brasil, mas aí me dei conta de que essa simples reafirmação pode ser vista como uma declaração de guerra. Tá dureza.
Fico por aqui, citando Lucas 9:25 com a esperança de que você tenha usado o tempo da Quaresma para se converter verdadeiramente. E que essa conversão de alguma forma signifique que não, você não está disposto a perder a sua alma para ganhar o mundo.
Um abraço do
Paulo
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