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Brasil do Norte, Brasil do Sul

Um país para chamar de seu: a perigosa tolice separatista de Paulo Bilynskyj

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Para Paulo Bilynskyj, se a gente dividir o Brasil, tudo se resolve. (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados + ChatGPT)

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O deputado Paulo Bilynskyj acha uma boa ideia dividir o Brasil. Até aí, nada de novo. Afinal, desde os anos 1980 me lembro de ver gente defendendo essa ideia esdrúxula de um Brasil dividido entre um sul supostamente (e bota supostamente nisso!) próspero e um “resto” praticamente silvícola. Que a ideia, ligeiramente modificada, tenha saído da boca de um deputado de “direita” em pleno 2025, porém, isso só mostra que nem uma improbabilíssima vitória de Bolsonaro em 2026 nos tiraria desse lamaçal.

Antes, porém, de explicar o perigo e a estupidez da ideia de Bilynskyj, permita-se entrar na seara da sucessão presidencial. É que o simples ato de o deputado vir a público defender essa ideia estapafúrdia e criminosa mostra que, sem nada nem ninguém que funcione como amálgama, a direita está esfacelada, totalmente sem identidade e, pior, ocupada pelo que há de pior na política: essa gente que mistura ignorância, agressividade, arrivismo, voluntarismo, oportunismo, lealdade a não-se-sabe-o-quê e vergonha-alheia. E o Brasil? Ah, o Brasil a gente vê depois.

Aliado crítico

Repare que eu disse “na política”, e não “na direita”. Aliás, semana passada um amigo me disse que meus textos andam críticos demais à direita. “Estamos sendo exterminados, cara!”. Fiquei pensando se ele tinha razão e tem. Este é o meu dilema atual, aliás: tentar um improbabilíssimo diálogo com os esquerdistas, na esperança de convencê-los ou “convertê-los”; ou criticar respeitosamente a direita, na esperança de que ela se demonstre disposta a reconhecer seus erros, cogite mudanças de rota ou pelo menos embase suas ideias em algo que vá além do “porque sim”, “porque não”, “porque o Bolsonaro quer” ou “porque é o melhor para 2026”?

O termo para isso talvez seja “aliado crítico”. Taí uma figura que falta à direita e que hoje (só por hoje) estou disposto a interpretar e apanhar para dizer que o separatismo é uma das causas mais estúpidas que um político “conservador” pode defender. Ah, já disse? Pois não tem problema. Repito: o separatismo é uma das causas mais estúpidas que um político conservador pode defender. Porque pressupõe tantas coisas erradas que é até difícil elencar num texto curto. Pressupõe incapacidade de conviver com as diferenças, desunião, falta de solidariedade, uma evidente autoimagem supremacista em vários sentidos (não necessariamente racial), falta de cultura, etc.

Sem falar no olhar de curtíssimo prazo e, no caso da fala de Bilynskyj, na redução de todo um futuro que se esparrama pelos séculos... a essa disputazinha aí entre Lula e Bolsonaro.

É raro, mas acontece

Claro que nem todo movimento separatista é, em si, errado. Porque há países que nasceram de movimentos históricos que obrigaram a convivência, num mesmo território, entre povos totalmente diferentes, inclusive no idioma. Nesses casos, a separação foi ou é inevitável. Outra ressalva importante é que nem todo separatismo é violento como foi a Guerra da Secessão nos Estados Unidos. Recentemente, por exemplo, a antiga Tchecoslováquia optou por um “divórcio de veludo” para virar República Tcheca de um lado e Eslováquia de outro. É raro, mas acontece.

O mais comum, porém, é que ideias separatistas como a do deputado Paulo Bilynskyj pressuponham banhos de sangue. Fratricídios. Irmão matando irmão. Foi o que aconteceu nos Bálcãs nos anos 1990, quando vizinhos de longa data se tornaram inimigos mortais. É esse tipo de custo humano que a retórica separatista, ainda que dita em tom bravateiro, assim à toa, para lacrar nas redes sociais e conquistar o voto de um ou outro incauto, sempre carrega consigo.

Acertei?

Peço desculpas aos eventuais fãs do desbocado deputado, mas é burrice. Do tipo que, infelizmente, caracteriza uma parcela da direita que não gosta de ser chamada de chucra, mas é chucra. Uma parcela que respeito e cuja existência me esforço para compreender, mas que me recuso a alimentar e cujas opiniões não estou disposto a validar em troca da uns poucos aplausos. Uma direita que não enxerga a vida para além de Bolsonaro e do que ele representa. A mesma que prega que bandido bom é bandido morto e que volta e meia propõe projetos que impedem a distribuição de alimentos a mendigos. Uma direita que curte, sim, uma censurazinha e uma ditadurazinha – desde que “conservadoras”. Que, ao pedir ao interlocutor que prove seu erro, nunca está realmente disposta a se deixar convencer de que está errada. Essa direita que não me representa e quero crer que não represente meu leitor típico. Acertei?

Como ia dizendo, porém, a ideia de um Brasil do Norte, de esquerda e lulista, e um Brasil do Sul, de direita e bolsonarista, é uma ideia tola e míope, típica de alguém incapaz de enxergar a dignidade intrínseca àqueles que dele discordam e que não atendeu para uma obviedade assustadora: o Brasil continuará existindo para muito além de termos todos nos tornado pó. Alguém alheio à mais elementar das tradições. Mais do que isso: alguém incapaz de entender o que fez e faz esta nação chamada Brasil, forjada com o suor e sangue de gerações preocupadas e ocupadas em construir um país unido, fraterno e próspero – e não uma “unidade politicamente homogênea”, como quer o deputado Bilynskyj, talvez na expectativa de ser um peixão num aquário menor.

Unanimidade burra

O separatismo é a saída dos perdedores. É o sonho dos intolerantes. É o parque de diversões dos que, na privacidade de suas mentes pervertidas, gostam de se vestir de tiranos. É o delírio dos cruzados de sofá. É a revolução dos medíocres. É a solução dos que não veem mal algum em ver irmão matando irmão por um suposto bem maior. E, no caso da direita e especificamente de Paulo Bilynskyj, é a estratégia dos que abdicaram do convívio entre os diferentes e que agora ficam aí, imaginando um território marcado pela homogeneidade, pela concordância servil e pela unanimidade – aquela que, todo mundo sabe, é burra.

Por fim, é a confissão de que a direita, ou melhor, parte da direita não tem absolutamente nada de melhor a oferecer em comparação à esquerda. Uma direita cuja ideia de liberdade é “liberdade para ser de direita” e cujo sonho inconfesso é transformar o Brasil, ou melhor, o Brasil do Sul numa Coreia do Norte verde-amarela. Uma direita que não admite discordância e que, em vez do diálogo, prefere um cercadinho onde todos seguem um líder infalível e incontestável. Líder esse que hoje seria Bolsonaro, mas não se engane: no futuro Bilynskyj acha que é ele próprio. Por fim, uma direita que não entende nem quer entender o Brasil. E que, por isso mesmo, não merece governá-lo.

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