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Lula: “Você vai voltar. Eu já voltei e agora você vai voltar. E, juntos, nós vamos mudar esse país”| Foto: Reprodução/ Twitter

“Você vai voltar. Eu já voltei e agora você vai voltar. E, juntos, nós vamos mudar esse país”. Lula é quem diz isso enquanto acaricia uma imagem de Cristo crucificado. O vídeo, com direito a pianinho sentimentaloide, marca d´água de jornal e tudo, circulou discretamente pelas redes sociais como esforço de propaganda do Partido depois dos atos de vandalismo, terrorismo ou golpismo (chame como quiser) do último dia 8 de janeiro.

Ao fazer circular as imagens, o Ministério da Propaganda Petista (uma espécie de PAC informal que conta com o apoio de jornais e emissoras de rádio e TV) pretendia ressaltar a religiosidade de Lula. O homem incapaz de fazer mal a uma mosca, imagina!, mas cujo governo, logo nas primeiras semanas, deixou claro seu caráter abortista. Isso sem falar na relação clara entre Lula e ditaduras que perseguem cristãos pelo mundo afora.

A cena despertou em mim a única coisa que o noticiário tem despertado ultimamente: indignação. Revolta. Raiva impotente. (E olhe que, por enquanto, eu ainda tenho este espacinho aqui para escrever e, assim, desopilar um pouquinho o fígado cansado de tanta sujeira política). Aquela sensação incômoda e permanente de que vivo num mundo, ou ao menos num país, que se guia por valores totalmente opostos ao que considero belo & moral.

Pena

Confesso que pretendia hoje chafurdar nessa sensação, com alguma sorte fazendo com que minha revoltinha desse as mãos à revoltinha do leitor e, assim, saíssemos os dois alegres e saltitantes, sabendo que não caminhamos sozinhos pelos lamaçais do Reino da Indignação. Mas no meio do texto havia um sacerdote, havia um sacerdote no meio do texto. E foi graças a ele, o padre Jorge Ramos, que minha indignação deu lugar a um sentimento diferente: piedade.

Taí. Da mesma forma que sentia (e ainda sinto) pena de Bolsonaro, sinto pena de Lula. E sugiro que você, trocando a indignação estéril pelo amor vivo, sinta também. Não me refiro, aqui, à pena que, nascida de uma sensação de superioridade, humilha; estou falando da pena genuína de quem reconhece as próprias falhas num ser humano tão distante. Afinal, se Lula é quem é e promove os valores que promove e mente como se não houvesse amanhã e engana e ludibria e seduz, é porque nós, por palavras, atos e omissões (mas não votos, espero), de alguma forma demos a ele esse poder.

Lula é quem é porque, ao longo de sua vida, nunca se deparou com um professor ou um padre capaz de dizer a ele que desejar se igualar a Deus é o maior dos pecados. Pelo contrário, aposto minha vasta cabeleira como Lula é daqueles homens que, ao longo da vida, só encontraram pessoas que disseram “você está certo!” e “vai lá, muda o mundo!” e “tenho certeza de que, se alguém consegue, esse alguém é você, Lula!”.

De modo que agora, com quase 80 anos, é improvável que Lula busque a Salvação que lhe é de direito. Infelizmente. Me diz se isso não é algo digno do mais sincero compadecimento cristão! Ah, se ao menos Lula desse ouvidos aos que querem seu verdadeiro bem, e não às Janjas, Dirceus e Randolfes da vida. Se ao menos ele parasse de fato para escutar o que o Cristo, aquele mesmo que prefere os pecadores (Mateus 9:13), tem a lhe oferecer, pedindo em troca apenas uma vida de retidão e humildade.

Mas não. Talvez seja tarde demais para Lula tentar se livrar das algemas do poder que, se por um lado o faz parecer todo pimpão, mandando aqui e desmandando ali, por outro o torna escravo da vontade alheia. Da vontade dos intelectuais e dos artistas. Da vontade dos juízes e dos líderes dos movimentos sociais. Da vontade de todo tipo de depravado moral que vê no Estado uma forma de satisfazer seus prazeres mais imediatos. Sempre à custa da própria alma.

Indignação

Por falar em escravidão, da mesma forma que Lula é cativo da política, talvez nós tenhamos nos tornado escravos da revolta, da raiva impotente, da indignação permanente. Do frenesi que é essa rebeldia constante “contra tudo o que está aí”. Nos acostumamos a acordar e, logo cedo, ao "folhear" os sites de notícias, sentir o fel queimando a garganta, as pupilas se dilatando e o coração batendo mais forte pelo prazer inconfessável de, cotidianamente, se insurgir contra o que é sempre absurdo e inaceitável.

Talvez tenhamos acreditado um pouquinho demais nos falsos profetas de uma liberdade que, como bem aponta meu amigo César Miranda, resumindo com maestria o argumento de Georges Bernanos, no fundo é apenas a liberdade para pecar. Para errar sabendo-se que se está cometendo um erro - e há erro maior do que esse? Para subjugar o próximo, tendo na ponta da língua uma justificativa política para isso.

Não sei você, mas quero mais da vida do que passar raiva toda vez que ouço Lula mentir ou falar alguma estupidez soprada em seus ouvidos pelos íncubos do PCdoB e súcubos do PSOL. Chega desse prazerzinho sádico de dizer baixinho “eu estava certo” ou então “faz o L, seu petista burro!”. Pode não ser hoje nem amanhã. Pode demorar. Mas quero e vou me livrar desse vício na ira pretensamente justa para apreciar mais o que há de certo. De belo. De livre. De divino no mundo.

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