

Dica a quem vai a um desfile: preste atenção na roupa, não na modelo.
Como condiz a um sujeito criado no Cajuru-Zona Leste, o Bronx curitibano, onde as crianças não crescem, sobrevivem, não manjo nada desse negócio de moda. O máximo que permito me aproximar desse tal de mundo fashion é ir de vez em quando a lojas de artigos esportivos conferir os novos modelos de camisas de futebol.
Modelos os quais, ressalte-se, nunca entram neste shape torneado pela Ambev. Talvez as empresas de materiais esportivos não saibam que todo torcedor que se preze gosta de molhar o bico numa cervejinha. E que esse aperitivo causa uma leve, bem de leve, muito leve mesmo, quase imperceptível, um nadica de nada de expansão do abdomên. Ou, como preferem os cientistas, pança mesmo.
Voltemos ao foco. Até porque de camisas de futebol não adianta discutir – nunca me servirão mesmo. Antes, como diria o filólogo (não tem erro de digitação, não, é filólogo mesmo, não filósofo – se bem que tal termo também caíria bem no caso) Mumu da Mangueira, desce uma âmpola de diurético aqui na mesa pra eu contar a história de como interagi com o mundo da moda. Copos cheios? Vamos lá.
Desrespeitando a velha máxima do amigo André Pugliesi de que com o desconhecido não se brinca, resolvi expandir minha experiência com a moda para além das camisas de futebol. Sim, rapaziada, fiquei olho no olho, cara a cara com o tal do universo de glamour e estilo. Ou desfile de moda mesmo, pra quem não tem entrosamento, não sabe fazer aquela tabelinha um-dois na pequena área com o linguajar do hight society.
E vou falar um negócio pra vocês, que são meus chegados: se tomarmos de parâmetro que a cara da moda é o semblante das modelos que vi desfilando, ou a dita-cuja é muito mal-humorada, ou sofre de uma terrível dor de barriga. Porque vai ser carrancuda assim lá na p…ista de um desfile.
Sei não… Fiquei com a impressão de que todas aquelas meninas brigaram com os namorados antes do desfile. Sei não…
Mas antes que minha indelicadeza – ou bruteza, que é mais condizente ao meu Cajuru way of life – se expanda sobre a vida alheia daquelas pequenas (no sentido figurado, obviamente, porque do alto de meu 1,80 metro eu teria que olhar pra cima pra trocar uma idéia com elas), recebi a devida explicação de por que aquelas meninas estavam tão sisudas. A elas – às explicações, não às meninas, porque seria assédio.
Segundo me explicaram a Larissa Jedyn, repórter aqui do Viver Bem, e a produtora de moda Andréa Oliveira, que estavam lá e me ciceronearam no desfile, a cara feia das meninas não é fome. Mesmo elas tendo aquele corpinho de reco-reco de escola de samba de tão magras. Mas não é o caso, insistem minhas guias. A explicação é de que a imagem dessas moças não pode se sobressair à das roupas que usam.
Ou seja, por mais que o sorriso da modelo combine com o tom de amarelo da vestimenta que ela usa, isso tiraria toda a atenção do público para a roupa. Aí, ninguém comentaria as tendências e todo aquele blá-blá-blá que essa moçada descolada, de cabelo de franjinha e tênis All Star que leva o ofício de estilista na carteira de trabalho curte falar. Sacou?
Portanto, se algum dia de sua estadia aqui no planeta azul da cor do mar você decidir ir a um desfile de moda, não faça como eu – um sujeito de alma empedernida. Não fique notando o rosto das moçoilas na pista, o semblante carregado, a cara de quem comeu e não gostou – mesmo que não tenha comido nada. Preste atenção nas roupas, nas tendências, no estilo, no glamour, no frisson, no… no… no… Bom, nisso tudo aí – o vocabulário que conheço do mundo da moda vai até aqui.
Já se você um dia resolver incursionar aqui pras bandas do Cajuru-Zona Leste faça o contrário. Preste atenção na cara da rapaziada. Porque aqui, chefia, cara feia não é moda, não. É perigo mesmo. E dos grandes.



