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debate band paraná
| Foto: Reprodução/ Band Paraná

Digamos que você seja um eleitor paranaense interessado em a) reunir informações sobre os vários (pré-) candidatos ao governo do estado em 2022 para decidir o seu voto; b) conhecer os vários novos nomes que se apresentam ao cargo máximo do Executivo estadual; ou ainda c) simplesmente assistir o primeiro debate eleitoral na televisão, pois, ao contrário da maioria da população, você considera esse o jeito mais divertido de gastar sua noite de domingo.

Em qualquer uma dessas alternativas ou outras aproximadas (dever de ofício, digamos), você decidiu sintonizar a TV Bandeirantes às 21 horas do dia 7 de agosto de 2022 e dispender mais de duas horas e meia da sua vida para compor o seleto grupo dos cidadãos que assistiram o primeiro debate dos (pré-) candidatos ao governo do Paraná em 2022.

Parabéns! Se você faz parte deste grupo, garantiu assunto suficiente para pelo menos duas rodadas de cafezinho com os amigos. Ou o mínimo para discorrer com propriedade sobre o estado atual da fauna política do estado.

Contudo, se você não conseguiu assistir o programa ou tinha algo melhor para fazer, faço aqui um resumo do que aprendi sobre os (pré-) candidatos ao governo do Paraná em 2022 assistindo o debate. Assim você garante ao menos um ou outro comentário na roda de cafezinho ou não se sentirá por fora caso circule algum meme alusivo ao evento nas redes sociais.

Governador não participou 

Não foi nenhuma novidade, afinal a notícia já tinha corrido na última quinta-feira (4), mas o atual governador e (pré-) candidato à reeleição, Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), não participou do debate. Ele alegou outro compromisso de agenda e também desconforto com o debate se realizar antes da data final para registro das candidaturas (por isso todos os candidatos ainda precisam ser nomeados como “pré-candidatos”). Seja como for, não apareceu. E como sói acontecer quando (pré-) candidatos são convidados a debater e não comparecem ao debate, lá estava a cadeira vazia para lembrar a todos de sua ausência.

Mas mesmo que não houvesse cadeira vazia, seria impossível não notar a ausência de Ratinho Junior. Isso porque, como era de se esperar, ele virou o alvo fácil dos demais debatedores. Bater em candidato ausente no debate é como bater pênalti sem goleiro, muito fácil e pouco desafiador. Aguardemos as próximas pesquisas para saber o quanto as críticas de todos os lados afetaram a campanha do atual governador.

Dificuldade de se apresentar 

Os formatos dos debates de televisão podem variar um pouco de eleição para eleição ou conforme o realizador. Mas uma coisa é certa: sempre haverá um bloco para apresentação de cada (pré-) candidato participante. O que se espera disso? Não existe uma fórmula, claro, mas suponho que a pessoa dizer seu nome, profissão, local de nascimento e estado civil sejam boas informações iniciais para se apresentar ao eleitor. Afinal, o que conhecemos sobre (pré-) candidatos como Joni Correia (DC), Viviane Motta (PCB) ou Professor Ivan (PSTU)?

Infelizmente, seja por nervosismo, seja por puro despreparo, nem todos nossos (pré-) candidatos sucederam em passar essas informações básicas ao espectador do debate. Nesse ponto, destaque para a (pré-) candidatada do Psol, Professora Angela. Vestindo uma camiseta com os dizeres “feminista e antifascista”, ela ao menos comunicava com clareza uma bandeira e posicionamento político, coisa que nem todos os concorrentes dela conseguiram fazer por igual (se sustentava o decalque da camiseta com o discurso é outra história).

O mais conhecido entre os (pré-) candidatos, Roberto Requião (PT) presumiu que o eleitor já o conhecia bem – afinal, ele governou o Paraná por um total de 12 anos – e sequer considerou se apresentar. Desde sua primeira intervenção, usou o tempo para criticar Ratinho Junior, a quem se refere como “Rrrrrato” (os R adicionais enfatizam a pronúncia marcada de Requião).

Inexperiência gritante 

A Band Paraná convidou todos os nove (pré-) candidatos ao governo a participar do debate. Com a ausência de Ratinho Junior, participaram Roberto Requião (PT), Ricardo Gomyde (PDT), Joni Correia (DC), Professora Angela (Psol), Solange Ferreira (PMN), Viviane Motta (PCB), Professor Ivan (PSTU) e Adriano Teixeira (PCO). De todos, somente Requião e Gomyde já tiveram mandatos públicos. Os demais, marinheiros de primeira viagem. E que deixaram transparecer sua inexperiência política a cada pergunta ou resposta.

Foi comum ver os (pré-) candidatos recorrendo frequentemente à famosa “colinha” para formular as perguntas mais simples aos adversários ou abandonar o “olho no olho” com o eleitor para ler algo que estivesse previamente preparado. E quando não recorriam ao material de apoio, facilmente se perdiam no raciocínio, buscando socorro em bandeiras rudimentares (“pela educação pública de qualidade”, “vou fazer o que não foi feito”) ou repetindo lugares-comuns (“candidato da família”, “vou escutar o povo”, “governo do trabalhador” etc.).

No que depender da capacidade de oratória, vai ser difícil algum (pré-) candidato novato chamar a atenção do eleitor.

Ninguém quer pedágio 

Pelo que se viu neste primeiro debate, a renovação do contrato do pedágio será um dos temas quentes das eleições no estado. Mas tire o cavalinho da chuva se você acha que se apresentaram ideias de modelos diferentes, propostas inovadoras, sugestões de barateamento da tarifa ou afins. O que os candidatos querem mesmo é acabar com o pedágio. Se não acabar, fazer um “pedágio público”. Ninguém, porém, disse como pretende fazer isso considerando que a maior parte das rodovias nos lotes previstos para concessão é federal. 

O grau de desconexão das propostas com a realidade foi tamanho que foi preciso que Requião, candidato do PT (um dos que defende um “pedágio público”), lembrasse que, talvez, quem sabe, veja bem, a extinção dessa receita pudesse ter algum impacto sobre a arrecadação do estado, impactando em outros serviços. Mas isso é bobagem. Afinal, "o pedágio é mau e abaixo o pedágio!"

A maioria quer armar a população 

A flexibilização do acesso a armas de fogo foi uma das bandeiras mais conhecidas do então candidato à presidência da República Jair Bolsonaro em 2018. Bolsonaro verbalizou (e, de algum modo, popularizou) o tema do armamento, até então restrito a círculos políticos da direita.

Assim, não é de se surpreender que os dois candidatos mais à direita no primeiro debate para o governo do Paraná em 2022, Joni Correia (DC) e Solange Ferreira (PMN), defendessem a mesma ideia. A novidade foi ver o tema armamento ganhando relevância também no discurso entre os (pré-) candidatos de esquerda, especialmente Adriano Teixeira (PCO) e Professor Ivan (PSTU). Os dois marxistas-leninistas são pela extinção da Polícia Militar e distribuição de armas à população. Ivan usou o termo “milícia popular” para se referir aos grupos de guerrilha que um eventual governo do PSTU formaria caso chegasse ao governo. Já Teixeira (PCO) entende que armar as mulheres é a melhor forma de reduzir o número de feminicídios no Paraná.

Esquerda continua presa em discurso datado 

Em dado momento, o (pré-) candidato Joni Correia (DC) destacou a maioria dos candidatos de esquerda no debate, colocando-se como representante da direita na discussão. De fato, houve no debate uma predominância de (pré-) candidatos de esquerda. Alguns, como pode se deduzir, de linhagens bem radicais.

A profusão de candidatos de esquerda se explica mais pela concentração dos partidos de direita e centro em uma única candidatura – no caso, de Ratinho Junior (PSD) - do que por uma eventual popularidade das denominações socialistas no Paraná. A realidade é que a esquerda se dividiu no primeiro turno, enquanto a direita parece mais unida.

Como no debate televisivo o tempo é dividido igualitariamente entre os participantes, não importando o tamanho e relevância dos partidos, o que o espectador viu foi uma predominância de ideias e propostas marcadamente à esquerda, com repetição de termos que compõem o discurso dos militantes desses partidos desde 1964.

É um discurso que prima pela centralização do estado nas relações sociais, pela defesa de determinadas categorias sociais (os “trabalhadores”, os “estudantes”, a “população LGBTQIA+”, os “negros”, os “quilombolas”, os “indígenas”, o “pequeno produtor” e até as “mulheres”) e pelo combate às elites (os “ricos”, o “agronegócio”, as “multinacionais”). Tudo entre aspas, porque correspondem a uma retórica mais específica do que ampla.

Assim, o espectador mais desavisado pode ter se assustado com o tanto de propostas envolvendo desapropriação de bens privados, criação de empregos públicos, aumento de salário mínimo e de benefícios sociais às expensas do erário. Nenhum desses (pré-) candidatos quis falar sobre possíveis aumentos da carga tributária que essas medidas poderiam trazer, desarranjo fiscal e outros problemas mais comezinhos.

É um discurso conhecido e repetido há décadas. A novidade está na adoção da linguagem neutra. Se há quatro ou oito anos a esquerda incorporava o “todos e todas” em suas saudações, em 2022 ela incluiu também o “todes” em seu vernáculo. Todes são iguais, mas uns são mais iguais do que outres.

Piores momentos 

Agora, se as ideias, os discursos e as propostas dos (pré-) candidatos não foram suficientes para convencer o espectador a assistir ao debate, que seja então pelas inevitáveis escorregadas dos nobres postulantes ao cargo máximo do Palácio Iguaçu.

Cito de memória, parafraseando, porque já dei minha contribuição ao espírito cívico em mais de duas horas acompanhando o espetáculo eleitoral. Rever seria masoquismo.

Adriano Teixeira (PCO), ao citar o programa de governo do partido, falou em “programa de luto”, ao invés de “luta”.

O mesmo Teixeira, questionado sobre “o golpe que Bolsonaro quer dar”, primeiro respondeu que “o PCO não vê nenhum golpe” acontecendo. Depois voltou atrás, falando que o “golpe começou em 2016” e que, agora, estaria em sua quarta fase. Haja golpe!

Joni Correia (DC), “acusado” de ser bolsonarista, respondeu que ficava feliz com a comparação com Bolsonaro, e que se estavam achando-o parecido com o presidente, é porque ele estava dizendo algo certo. Mais tarde, lembrou que seu partido tem candidato próprio a presidente, Eymael. E quem dizia que ele era bolsonarista estava enganado.

Professor Ivan (PSTU) abusou das anotações para não só para responder, mas também para perguntar. A ponto de gastar segundos preciosos do tempo destinado à formulação da pergunta até encontrar o papel certo. Ele também se perdeu algumas vezes na leitura, pulando uma linha do texto ou travando em alguma palavra específica.

Perguntada sobre o que seu partido propunha para combater o feminicídio no estado, a candidata Professora Angela (Psol), envergando a camiseta “feminista e antifascista”, não deu uma resposta objetiva. Recorreu a propostas vagas de melhorias de programas sociais.

A mesma Professora Angela, quando perguntada sobre os altos índices do trabalho informal no Brasil, respondeu “lamentar o empreendedorismo”.

Solange Ferreira (PMN) quis emplacar o tema litoral no debate. Mas não lembrava o nome da PR-407, rodovia estadual que faz a ligação entre a BR-277 e Pontal do Paraná. Travou em “Pontal do Paraná” e não conseguiu concluir a pergunta.

Em sua apresentação, Solange ainda disse “chegou a hora da mulher governar o Paraná”. A primeira governadora mulher do estado foi Cida Borghetti (PP), que assumiu o Palácio Iguaçu por oito meses em 2018, quando o ex-governador Beto Richa (PSDB) renunciou para disputar a eleição para o Senado.

Viviane Motta (PCB) admitiu no início do debate que não tem a expectativa de que a eleição, e, por extensão, sua candidatura, resolva “os problemas da classe trabalhadora”. “É preciso colocar no debate eleitoral o quanto o capitalismo é um desastre para os trabalhadores e trabalhadoras”. Prioridades.

Já Roberto Requião (PT) encarnou o “Requião Paz e Amor” tentando amealhar simpatia de todas as legendas de esquerda. À candidata do Psol, convidou para compor seu governo. Ao candidato do PCO, disse ter “o maior prazer” em fazer uma pergunta ao “companheiro”. A única rusga foi dirigida a Joni Correia (DC), que perguntou ao ex-governador “quem enganou mais o paranaense com o pedágio, o senhor ou Ratinho Junior?”. Ao seu velho estilo, Requião respondeu: “pergunta malandra e mal intencionada”.

Correção

A versão original do texto afirmava erroneamente que o candidato Ricardo Gomyde "saudou a inexistente 'Universidade Estadual do Paraná'". A Universidade Estadual do Paraná (Unespar) foi fundada em 2001, em Paranavaí. O parágrafo com a informação errada e a menção à declaração do candidato foi removido na versão atualizada do texto a partir de apontamento feito por leitor.

Corrigido em 15/08/2022 às 15:21
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