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Manifestante do MST em frente ao Ministério da Fazenda, em Brasília.
Manifestante do MST em frente ao Ministério da Fazenda, em Brasília.| Foto: EFE

Aparentemente, o tal “mercado” ainda não sabe o que sente em relação ao novo velho governo do PT. Várias vezes por semana o governo dá declarações, toma decisões e implanta medidas que afetam a economia, na maioria das vezes de forma negativa. A reação do mercado é quase sempre paradoxal e confusa. Isso, para mim, que não sou profissional do mercado mas acompanho a política e a economia com certa atenção, é um mistério.

O mercado financeiro é composto por pessoas extremamente inteligentes e preparadas, educadas nas melhores escolas brasileiras e estrangeiras, especializadas em uma missão arriscada e difícil, mas muito recompensadora: investir o dinheiro dos outros.

Para cumprir sua missão, essas pessoas precisam estar sempre bem-informadas sobre o que acontece no país. E é aqui que começa o problema.

Um número incompreensível desses profissionais demonstrou simpatia ou apoio aberto à candidatura presidencial do PT. Foi difícil entender como executivos do mercado financeiro, em sã consciência e minimamente informados, puderam fazer uma opção como essa. Mas fizeram.

Algumas dessas personalidades vieram a público recentemente, após as eleições, para se declarar decepcionadas ou enganadas, e dizer que não apoiam mais as políticas petistas.  Um arrependimento verdadeiro exige mais do que isso; além de reconhecer o erro, é preciso pedir desculpas a todos aqueles que agora vão pagar a fatura desse equívoco: nós, os cidadãos, trabalhadores e eleitores.

Um número incompreensível desses profissionais demonstrou simpatia ou apoio aberto à candidatura presidencial do PT. Foi difícil entender como executivos do mercado financeiro, em sã consciência e minimamente informados, puderam fazer uma opção como essa

O que mais surpreende é a quantidade de pessoas do chamado “mercado” que ainda nutre a expectativa de que alguma proposta lógica e minimamente razoável seja produzida na “área econômica” do governo. Mas as ideias econômicas do PT são o resultado do cruzamento das ideias de Karl Marx - o revolucionário que foi sustentado a vida inteira por um amigo que era herdeiro milionário (Engels) - com as ideias de Lorde Keynes, o economista que acreditava na ficção do Estado grande e interventor.

Para essa escola de pensamento, se o governo contratar duas equipes de operários, uma para cavar buracos e a outra para tapar os buracos que a primeira equipe cavou, o resultado será desenvolvimento e progresso.

Use seu bom senso e pense sobre isso.

O governo brasileiro é ocupado por pessoas que não sabem – ou fingem não saber - a diferença entre gasto e investimento, um conceito de compreensão muito fácil. Gastos são as despesas periódicas que você faz para manter as coisas funcionando, como as contas de água e de luz, ou a mensalidade da escola das crianças. Investimento é quando você faz uma despesa para adquirir um bem durável, como uma casa, um carro ou, no caso do governo, uma máquina, uma represa ou um viaduto.

O pagamento de salários de servidores, por exemplo, por mais relevante que seja, é um gasto, não investimento – não importa quantas vezes o governo repita o contrário.

O PT jamais entenderá o conceito de responsabilidade fiscal porque tem um entendimento errado dos fundamentos da economia. Qualquer tipo de controle de gastos do governo será, para eles, apenas uma camisa de força impedindo a realização de seus sonhos interventores, paternalistas e patrimonialistas.

Isso vale para a política monetária. O controle da inflação é feito ajustando-se a taxa de juros. Funciona assim: quando o Banco Central detecta a ameaça de aumento da inflação, ele aumenta os juros, o que impede a subida da inflação porque desaquece a economia. Juros altos podem ser um problema, mas inflação alta é uma catástrofe. Obviamente, o PT não entende isso, e abriu guerra contra o Banco Central para forçar a redução dos juros a qualquer custo.

Qualquer tipo de controle de gastos do governo será, para eles, apenas uma camisa de força impedindo a realização de seus sonhos interventores, paternalistas e patrimonialistas

O governo petista apresentou um tal arcabouço fiscal que vai substituir o antigo teto de gastos. O mecanismo do teto de gastos garantia que o governo só poderia gastar em um ano o que gastou no ano anterior, corrigido pela inflação. Já o arcabouço fiscal diz que os gastos do governo podem subir sempre que arrecadação subir, com crescimento limitado a 2%. O “arcabouço” se revela, na verdade, um piso de gastos: mesmo nos anos em que arrecadação não subir, ainda assim o gasto do governo subirá 0.6%. É um desastre anunciado, porque além de garantir a subida permanente dos gastos, produzirá no governo uma obsessão pelo aumento da arrecadação de impostos.

Mais uma vez, inacreditavelmente, o mercado recebeu bem o tal arcabouço fiscal, que foi apresentado apenas em um Powerpoint - mais um pioneirismo mundial - sem qualquer texto que o sustentasse. Foi preciso uma semana para o mercado perceber o significado da proposta petista e reagir de forma apropriada – e negativa.

Agora o governo anuncia a indicação do braço direito do ministro da fazenda para a diretoria de política monetária, a mais importante do Banco Central. Vejam: não é o presidente do Banco Central que escolhe os diretores; eles são indicados pelo governo e aprovados pelo Congresso.

Mais uma vez o mercado reage favoravelmente. Mais uma vez meu espanto é enorme.

Se o indicado é o braço direito do Ministério da Fazenda - ou seria melhor dizer braço esquerdo? - é óbvio que a intenção do governo com essa indicação é a pior possível (considerando-se o ponto de vista do cidadão, do mercado e da economia).

Dois dias após o anúncio da indicação o indicado comparece a uma feira do MST (você leu corretamente: o movimento que vive de invadir propriedades alheias tem permissão para fazer uma feira). No evento, o indicado para a diretoria de política monetária do Banco Central tira uma foto abraçado com os principais líderes esquerdistas radicais do MST.

Alô mercado, tem alguém aí? Tem alguém prestando atenção?

Conteúdo editado por:Jônatas Dias Lima
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