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Recentemente me veio à lembrança a guerra que o estado de São Paulo travou contra uma ditadura em 1932.
Para entender o que realmente aconteceu em São Paulo em 1932 é preciso disposição para superar a narrativa distribuída pela mídia e pelo sistema educacional sobre a “Revolução Constitucionalista”. A verdade sobre 1932 é um problema para todos os que trabalham para a estrutura de poder centralizada, antifederativa, corrupta e patrimonialista que tenta dominar o país.
São muitas as histórias de heroísmo de pessoas humildes que se destacaram em combate, como conta o excelente livro Heróis Desconhecidos: Revolução constitucionalista de 1932, de Maria Aparecida Nogueira Coupé e Edson José Galvão Nogueira. São histórias que os brasileiros não estão acostumados a ouvir, e que descrevem o comportamento de pessoas comuns em situações terríveis, combatendo em trincheiras, defendendo cidades e sacrificando a vida para impedir a passagem do inimigo. Só que os inimigos também eram brasileiros.
A verdade sobre o que aconteceu em São Paulo em 1932 é simples: o mais rico estado da federação pegou em armas para travar uma guerra contra o governo federal. Cidadãos de todas as classes se alistaram para o combate. A eles se juntaram alguns militares e as forças policiais do Estado. Foi uma guerra real, travada em solo brasileiro, entre brasileiros, com muitos mortos e feridos.
Uma mentira contada frequentemente, inclusive em canais oficiais, é que São Paulo queria se separar do Brasil. Essa narrativa transforma Getúlio em um herói que teria impedido a fragmentação do território nacional. Mas São Paulo nunca quis se separar. A motivação da guerra contra os soldados do ditador foi a liberdade
Qual foi a causa do confronto que levou brasileiros a lutar contra irmãos? A resposta também é simples: tirania. Dois anos antes, em 1930, o candidato derrotado na eleição para Presidência da República, Getúlio Vargas, liderou um golpe de Estado e tomou o poder. Esse golpe ficou conhecido como Revolução de 1930. Entre inúmeras medidas de força, Getúlio destituiu todos os governadores e prefeitos e os substituiu por pessoas de sua confiança. Getúlio havia prometido convocar uma Assembleia Constituinte, providência que ele adiaria até 1933. Getúlio era efetivamente um ditador e sua vontade era a lei no país. Em 1932 a revolta explode em São Paulo.
O marxismo que se tornou hegemônico na academia, principalmente no estudo da história, atribui a revolta aos interesses econômicos do estado de São Paulo. Basta ler os relatos sobre a guerra para entender a motivação principal dos homens e mulheres que combateram: eles lutaram por liberdade, por uma Constituição e para se livrar da opressão do ditador. É evidente que interesses econômicos estavam envolvidos; ele sempre estão. São Paulo já era a locomotiva do país. Ficar sob o domínio do ditador, baseado no Rio de Janeiro, era duplamente ultrajante. Uma mentira contada frequentemente, inclusive em canais oficiais, é que São Paulo queria se separar do Brasil. Essa narrativa transforma Getúlio em um herói que teria impedido a fragmentação do território nacional. Mas São Paulo nunca quis se separar. A motivação da guerra contra os soldados do ditador foi a liberdade.
Um dos melhores livros sobre a guerra foi escrito pelo general Euclydes Figueiredo, pai do futuro general João Baptista Figueiredo, o último presidente do regime militar de 1964. O general Euclydes se juntaria à rebelião, pagando um alto preço pessoal pela decisão de se opor ao ditador Vargas. O general escreveu um excelente relato da guerra; o livro tem o modesto título de Contribuição Para a História da Revolução Constitucionalista de 1932. Deveria ser leitura obrigatória em todas as escolas e no Congresso Nacional. Ele precisa ser reeditado.
Uma das homenagens que mais me honram é a Medalha M.M.D.C. da Sociedade Veteranos da Revolução Constitucionalista 1932, que recebi em 2024.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos




