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Sou de direita, e daí? A terrível escolha entre ideias e dinheiro
| Foto: Unsplash

Nunca se falou tanto de política no Brasil. É o único assunto que interessa às pessoas que me param em ruas, restaurantes e aeroportos. Nunca vi nada parecido. Agora mesmo, um dos porteiros da rua acaba de me perguntar sobre a reforma tributária.

A aprovação dessa “reforma” – entre aspas porque, como não reduz impostos, só serve ao Estado – foi um exemplo da escolha que os políticos precisam fazer: ou seguem convicções ou se rendem ao “pragmatismo”. O pragmatismo, no caso da reforma, significou bilhões de reais de emendas liberadas pelo governo.

Bilhões de reais.

Mas a questão vai além de dinheiro. Como devem agir parlamentares que se dizem “de direita” diante de projetos de um governo de esquerda?

Para responder essa pergunta, antes precisamos responder duas outras.

Primeiro: o que significa ser de direita? Depois: é possível a alguém que se diz de direita apoiar iniciativas de esquerda?

Ser de direita significa, antes de tudo, não ser de esquerda. É preciso rejeitar o conjunto de ideias do esquerdismo (marxismo, comunismo, socialismo e “progressismo”). No Brasil, isso não é pouca coisa. Muitas dessas ideias se tornaram parte do chamado senso comum. Isso é resultado da hegemonia que a esquerda atingiu na cultura, na mídia, no jornalismo, nos sistemas de ensino público e privado, no sistema de justiça e, cada vez mais, no mundo corporativo.

Uma das bandeiras essenciais da esquerda é a coletivização, que vem da ideia de que a propriedade privada é um erro, e que ninguém deve ser dono de nada, ou que todo mundo deve ser dono de tudo “coletivamente”, o que dá no mesmo. É daí que surge a eterna defesa de uma tal “reforma agrária”, que vai desapropriar e dividir os “grandes latifúndios” e “dar a cada brasileiro um lote” – uma ideia infantil, anacrônica e que viola o direito natural à propriedade. Ninguém que se diz “de direita” pode ser a favor disso.

Isso é resultado da hegemonia que a esquerda atingiu na cultura, na mídia, no jornalismo, nos sistemas de ensino público e privado, no sistema de justiça e, cada vez mais, no mundo corporativo

O fato de alguém não ter alguma coisa – terra, por exemplo – não cria no Estado ou na sociedade a obrigação de dar àquela pessoa essa coisa que ela não tem. Quem é “de Direita” sabe muito bem que, para que o Estado possa dar uma coisa a alguém, ele primeiro tem que tomar essa coisa de outra pessoa. Tudo que o Estado te dá foi, antes, tirado de alguém. Os burocratas usam um nome técnico para isso – “desapropriação” – que não altera a imoralidade do ato.

A moral é o campo de ação dos conservadores e liberais que formam a Direita. Ao contrário do que muitos pensam, moral não diz respeito apenas à “pauta de costumes”. A moral tem muito a dizer sobre combate ao crime, cobrança de impostos, privatizações e sobre a intromissão do Estado na economia. Antes de ser o primeiro economista da história, o escocês Adam Smith foi um filósofo moral.

E assim chegamos à segunda pergunta: é possível que um parlamentar de direita apoie iniciativas de um governo de esquerda? A resposta é: depende. Se a iniciativa do governo é ideologicamente enviesada – se inclui, por exemplo, demonização da propriedade privada, aumento da extorsão tributária, criminalização da opinião, uso político da polícia, ataques à liberdade econômica, estímulo à dependência de “benefícios” estatais e glamorização do crime e do uso de drogas - a resposta é, inequivocamente, não.

Vejam o caso da “reforma tributária”. Os benefícios gerados pelo dinheiro das emendas parlamentares, liberadas pelo governo, durarão pouco tempo. Os prejuízos causados por um sistema tributário centralizador, confuso, ideologicamente carregado e potencialmente extorsivo podem durar gerações.

Essa foi a escolha que alguns parlamentares acabaram de fazer – e por isso estão sendo chamados de “direita fake”.

A alcunha não é de todo injusta.

O Senado é nossa última esperança.

Conteúdo editado por:Jônatas Dias Lima
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