
Ainda por conta do Prêmio Camões, concedido a Dalton Trevisan, o professor Afronsius fez questão de citar a revista Joaquim no dedo de prosa junto à cerca (viva) da mansão da Vila Piroquinha.
– Importante, também, foi a edição fac-similar dos volumes 1 a 21, dentro da coleção Brasil Diferente, lançada em 2001 pela Imprensa Oficial do Estado, quando Miguel Sanches Netto era diretor da IO. Sem ela, Joaquim corria o risco de virar uma lenda.
– De fato. O acesso à publicação, que começou a circular em 1946, era restrito, algo como redescobrir o caminho das Índias. Ou achar uma agulha no palheiro – concordou Natureza Morta.
Sob a direção de Dalton Trevisan, Antônio P. Walger e Erasmo Piloto, o primeiro número de Joaquim – Joaquim “em homenagem a todos os Joaquins do Brasil” – já traz um manifesto provocativo: “Manifesto para não ser lido”.
A dos olhos doces
E aquele que se tornaria o Vampiro de Curitiba ataca de “Eucaris – a dos olhos doces”, conto ilustrado por Poty. Com direito à frase “dois ou três fantasmas passeiam também ao luar”.
O solitário da Vila Piroquinha citou alguns dos colaboradores: além de Poty (Potyguara Lazzarotto), marcam presença Antonio Cândido, Mário de Andrade, Otto Maria Carpeaux, Carlos Drummond de Andrade, Wilson Martins, Temístocles Linhares, Candido Portinari, Di Cavalcanti, Vinicius de Moraes, Sérgio Milliet e Heitor dos Prazeres. Entre outros. A fina flor.
Muito além da Rua XV
Defendendo a evolução, Joaquim era implacável, principalmente com o provincianismo curitibano e o paranismo. As artes em geral, pregava, deveriam ir “além da Rua XV”. A revista fez isso, indo muito além do tradicional ponto de encontro da cidade, para o cafezinho e o bate-papo. Logo alcançou repercussão nacional – basta ver a lista de colaboradores, principalmente do eixo Rio – São Paulo. É, já existia o tal eixo Rio – São Paulo.
Em vida, autor póstumo
Um bom exemplo da cruzada macunaímica desenvolvida por Joaquim teve como alvo Monteiro Lobato. O escritor paulista, autor de “Urupês”, é bombardeado naquilo que a revista igualmente fustigava no paranismo: o autor dava mais atenção “às paisagens do que aos homens” e usava “artificialismos quando pretende descrever os seres humanos”.
Decretou Dalton:
– O sr. Monteiro Lobato, ainda em vida, é um autor póstumo. Um Cornélio Pires passado a limpo. Representa embora hoje, no Brasil, o tipo mais sórdido de escritor: o do que traiu. A traição foi a si mesmo, aos outros e a seu tempo.
Professor Afronsius retomou o fôlego e aproveitou para recomendar, também, a leitura de “Joaquim – Dalton Trevisan (en)contra o paranismo”, livro do jornalista Luiz Claudio Soares de Oliveira, lançado em 2009 pela Travessa dos Editores, Curitiba.
Nele, Luiz Claudio ressalta que, ainda no rescaldo da Segunda Guerra, “o mundo precisava ser repensado e reconstruído. E Joaquim ajudava a, principalmente, se repensar o mundo”.
Encerrando o papo (“não teria sido uma tertúlia?”, provocou Beronha), a dupla deixou a sugestão:
– Não seria o caso… ou melhor, já que, no caso, ser o caso sempre vai ser, não seria, então, a oportunidade providenciar mais uma reimpressão do Joaquim?
Afinal, quem chegou agora também precisa repensar e reconstruir o mundo.
ENQUANTO ISSO…




