
Ouça este conteúdo
Temos orgulho de comparar o nosso estado do Paraná de uma maneira favorável em relação a outros estados da Federação e, principalmente, em relação a Brasília. Em particular, acreditamos que somos em média mais honestos e íntegros, e que nossas instituições são melhores que as de Brasília. Escândalos como o do mensalão e do petrolão nos causam horror e repúdio. Curitiba e o Paraná não foram a terra da Lava Jato?
Apesar desse sentimento, é necessário lembrar que o Paraná teve a sua cota de escândalos de corrupção. Um dos mais graves voltou à tona nesta semana, quando foi noticiado que Abib Miguel, ex-diretor-geral da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná, celebrou acordo com o Ministério Público Estadual no qual se comprometeu a devolver R$ 258 milhões aos cofres públicos. Bibinho teria desviado tais montantes por meio de centenas de servidores fantasmas nomeados em atos oficiais que não eram publicados, o que levou o escândalo a ser conhecido como o esquema dos “Diários Secretos”.
Apesar do elevado montante cuja devolução foi obtida, o acordo é uma meia vitória para o MPE, já que Bibinho se livra da pena de prisão que lhe foi imposta nas condenações recorridas. Dentro, porém, do ambiente hostil gerado por Brasília contra o combate à corrupção, é possível de que se trate da melhor vitória possível no atual momento.
Precisamos retomar a agenda anticorrupção de baixo para cima, e o Paraná é o estado ideal para essa tarefa
Outro escândalo de corrupção recente vem a nossa memória sempre que percorremos as estradas paranaenses. Durante 30 anos, os paranaenses pagaram caro por um pedágio sem que a maioria das obras prometidas fosse entregue. Em uma derivação das investigações da Lava Jato, foi descoberto que concessionárias pagaram subornos a agentes do DER/PR para que as obras fossem retiradas da lista de obrigações das empresas. Posteriormente, em decorrência das investigações, algumas concessionárias celebraram acordo de leniência com o Ministério Público, reduziram o preço do pedágio e fizeram várias obras faltantes como forma de compensação. O Trevo Cataratas, na saída de Cascavel para Foz do Iguaçu, é um dos exemplos das obras realizadas devido ao acordo de leniência.
Também não devem ser esquecidos os sucessivos escândalos de corrupção que marcaram as prefeituras de Londrina e de Maringá na época das gestões de Antônio Belinati e Jairo Gianotto. Como se não bastasse, nomes paranaenses estavam envolvidos nos escândalos de corrupção de Brasília, como os de Alberto Youssef, Paulo Roberto Costa, José Janene e José Borba.
Os exemplos negativos são vários a demonstrar que devemos repudiar a corrupção em Brasília, mas sem esquecer de também cuidar da coisa pública em nosso estado. Em todo o país, há, porém, certa letargia e desânimo em relação ao tema, em virtude da anulação injustificada das grandes operações contra a corrupção.
O desafio apenas aumenta a nossa responsabilidade. Precisamos retomar a agenda anticorrupção de baixo para cima, e o Paraná é o estado ideal para essa tarefa. Se bem sucedidos, poderemos ensinar ao país uma lição e fazer um contraponto à sujeira em Brasília. Um passo necessário seria a criação de uma agência estadual anticorrupção, para prevenir e investigar ilícitos administrativos e que tivesse autonomia e recursos suficientes para essa missão. Essa seria uma tarefa apropriada para um próximo governo estadual. Outros países adotaram de maneira exitosa a estratégia da criação de agências anticorrupção para reduzir a incidência desse tipo de crime. Não precisamos esperar Brasília para retomar a agenda anticorrupção, pois de lá, por ora, nada virá. O Paraná precisa ser diferenciado.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos




