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Thiago Braga

Thiago Braga

Entender a história da guerra é entender a história dos homens. Uma nova coluna todo domingo.

Higiene medieval

Buquês de casamento e o fedor das noivas medievais

O mito do buquê contra o fedor é puro lixo moderno. Na real, os medievais sabiam se lavar muito melhor do que certos tiktokers de hoje. (Foto: Imagem criada utilizando Chatgpt/Gazeta do Povo)

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Para fechar nossa saga em defesa dos pobres medievais, hoje vamos falar sobre um dos mitos mais fedorentos sobre a Idade Média: “os casamentos eram realizados em junho, pois maio era o mês em que as noivas tomavam mais banho. E como o fedorzinho já começava a aparecer, inventaram o buquê de flores. Assim, a noiva disfarçaria o cheirinho de um mês sem banho.”

Sabe qual é o único problema desse argumento? É que ele é uma besteira total!

Casamentos eram realizados em junho porque o pessoal lá gostava de casar em junho: era uma época de clima mais agradável, especialmente para a agricultura, e estava associada à deusa da fertilidade romana Juno — uma tradição herdada do Império Romano.

Eu falo, e eu provo. Olha só este artigo aqui, escrito pela medievalista Melissa Snell, autora de múltiplos artigos especializados, enterrando essa baboseira: “Casamentos e higiene na Idade Média” (Middle Ages Weddings and Hygiene).

Já na introdução do artigo, a professora descreve essa desinformação exatamente como vemos nesses vídeos nojentos do TikTok: “A maioria das pessoas se casava em junho porque tomavam seu banho anual em maio e ainda cheiravam muito bem em junho. No entanto, elas estavam começando a cheirar mal, então as noivas carregavam um buquê de flores para esconder o odor corporal. Daí o costume hoje de carregar um buquê ao se casar.”

Viu? Uma especialista no assunto, que conhece esses absurdos sobre os medievais e os expõe de maneira bem clara.

Olha a conclusão dela sobre essa besteira: “Em suma, havia inúmeras oportunidades para as pessoas medievais limparem seus corpos. Assim, a perspectiva de passar um mês inteiro sem se lavar, e então aparecer em seu casamento com um buquê de flores para esconder seu fedor, não é algo que uma noiva medieval provavelmente consideraria mais do que uma noiva moderna.”

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Então, vamos parar com essa besteira do buquezinho também. Nem no casamento os tiktokers deixam as noivas em paz

Encerrando nossa odisseia para fazer justiça à higiene medieval, deixo aqui as conclusões do medievalista Albrecht Klassen, no seu artigo publicado em 2017, “Vida cotidiana e cultural no final da Idade Média: a evidência do Tacuinum Sanitatis” (Everyday Life and Culture in the Late Middle Ages: The Evidence of the Tacuinum Sanitatis).

Falando especificamente da vida nas idades medievais, na página 227, ele afirma: “Podemos estar certos de que tomar banhos regulares, lavar-se, mudar de roupas, ficar envergonhado por ser visto nu por outros etc. já era muito espalhado na maior parte, padronizado em monastérios, em habitações urbanas, castelos e palácios.”

Podem ter certeza: tem muito tiktoker hoje que se preocupa menos com a higiene do que os medievais de mil anos atrás.

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