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Fidel não disse isso, mas disse isso.
Fidel não disse isso, mas disse isso.| Foto: wikimedia commons

Você já deve ter ouvido essa pirraça de "comunisteens" de que a culpa por tudo de ruim que aconteceu com Cuba é do embargo americano: os americanos não queriam um país socialista como seu vizinho e fariam de tudo para acabar com a revolução dos trabalhadores. Mas isso é tão verdadeiro quanto a ideia de que o comunismo vai colocar os trabalhadores no poder!

Vamos começar pelo começo: A Revolução Cubana não foi uma revolução comunista como aconteceu na USSR, China, Camboja, Vietnã... Ela foi uma revolução pra tirar um ditador maldito do poder: e aí, palmas pra Fidel e seu turma! Ditadura tem que cair mesmo: nem de direita, nem de esquerda, é tudo o mesmo cocô! Mais aí, poucos anos depois de chegar ao poder, o governo de Fidel vira um governo comunista. Portanto a revolução nunca consistiu em o povo escolher a política comunista: isso nunca foi colocado por Fidel em suas campanhas e discursos, antes e nos primeiros anos de governo. Inclusive, Fidel esteve nos Estados Unidos em 1959 e participou de várias entrevistas, e disse que não era comunista, e não concordava com o comunismo.

Então, não se tratou de um ideal comunista que queria o fim do capitalismo em Cuba, e colocar o proletariado no poder. O objetivo da revolução era simples: tirar um ditador corrupto do poder e fazer Cuba progredir democraticamente, e o povo apoiou. Nos meses anteriores à Revolução, os EUA estavam meio desconfiados de Fidel, porque o achavam radical; mas, como ele estava ficando muito popular, resolveram investir na revolução democrática de Fidel e retiraram o seu apoio a Fulgêncio. O homi meteu o rabinho entre as pernas e fugiu de Cuba! Pronto, agora Cuba e Estados Unidos podiam recomeçar uma nova e linda história de amor, certo? Errado! Estados Unidos e Cuba mal chegaram na lua de mel e estavam se divorciando, meus amigos!

Quatro artigos muito bons ajudam a gente a entender bem esse barraco. O primeiro é o “Reivindicações certificadas dos Estados Unidos contra Cuba”, do professor Timothy Ashby; outro é “Interpretando a reação americana à Revolução Cubana”, do professor Jules Benjamin; e o terceiro e o quarto são os “Sanções econômicas americanas contra Cuba” e “Raiva, anti-americanismo e a quebra nas relações cubano-americanas”, ambos do professor William M. Leogrande. Esses artigos são importantes porque eles se complementam e cada um traz algumas informações que os outros não abordam, e aí com o conjunto podemos entender a geopolítica dessa relação esquisita. Aliás, se quiser assistir a um documentário completo repleto de estudos relevantes sobre esse assunto, é só clicar aqui e assistir no meu canal Brasão de Armas.

Como Fidel Castro estava ficando muito popular, os EUA resolveram investir na sua revolução democrática e retiraram o seu apoio a Fulgêncio

Esses quatro estudos têm em detalhe muito importante em comum: Fidel e seus mínions são os responsáveis por começarem essa treta, e já nos primeiros meses de governo! O professor Timothy Ashby, na página 414 do seu artigo mencionado, mostra o alcance colossal das expropriações que Cuba fez contra as empresas americanas: “Entre 1959 e 1961, o governo cubano nacionalizou quase todos os ativos de propriedade dos EUA na ilha. Tais propriedades incluíram 90% de toda a eletricidade gerada em Cuba, todo o sistema telefônico, a maior parte da indústria de mineração, refinarias de petróleo, fábricas, armazéns e mais de dois milhões de acres de terra, incluindo até 80% das ricas terras açucareiras tradicionais. Ativos expropriados também incluíam hotéis, propriedades comerciais, residências particulares, obras de arte, apólices de seguro, contas bancárias e navios. Como as entidades corporativas e privadas americanas controlavam dois terços da economia cubana, esta foi a maior tomada não remunerada de propriedade americana por um governo estrangeiro na história. Essas nacionalizações foram a principal causa do embargo dos EUA que permaneceu em vigor por quase meio século.”

Então aqui o autor deixa claro que as nacionalizações não remuneradas das empresas americanas feitas por Cuba foram a principal causa do embargo. Lembrando que, como o professor disse, essa foi a maior expropriação da história dos Estados Unidos. Então, quem começou partindo pro ataque nessa treta foi Cuba e seu ditador Fidelito: e como será que os Estados Unidos responderam hein? Na cabeça dos passapanistas de Cuba, foi mais ou menos assim... Mas na cabeça de quem entende mesmo do assunto foi bem diferente. O professor Ashby, na mesma página, diz que “notavelmente, a resposta inicial dos EUA foi cooperadora, conforme notificação enviada pelo próprio embaixador americano em Cuba Philip Bonsal, dizendo nesse documento que os Estados Unidos compreendiam e simpatizavam com os objetivos cubanos de trazer melhorias à qualidade de vida dos cidadãos através das nacionalizações, mas que Cuba precisava fazer pronta e justa compensação para os cidadãos americanos que tiveram suas propriedades expropriadas.”

Esse mesmo otimismo inicial é confirmado pelo estudo do professor Jules Benjamin, principalmente entre 1958 e 1959, quando o governo americano resolveu apostar na diplomacia com o novo governo cubano, que eles pagariam o que deviam e ficariam pianinho. Mas o que você acha? Será que os Estados Unidos podiam confiar que o governo cubano pagaria os devidos valores pelas nacionalizações? Na próxima coluna eu te conto.

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