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Thiago Braga

Thiago Braga

Entender a história da guerra é entender a história dos homens. Uma nova coluna todo domingo.

Violência política

“Fascista”: a imputação de crime que deve ser um crime

Tyler Robinson, acusado de matar Charlie Kirk, deixou mensagens e nota confessando: “Tive a oportunidade de eliminá-lo e fiz isso”. (Foto: Gabinete do Governo de Utah/EFE/EPA; Gage Skidmore/Wikimedia Commons)

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Se não bastassem as guerras demoníacas que temos visto nos últimos anos, o assassinato de Charlie Kirk é uma das cenas mais chocantes que já presenciei na minha vida.

Ele estava em um evento pacífico e plural, conversando e debatendo assuntos com estudantes no campus da Universidade de Utah, e fazia isso pacificamente por todo o país: montava uma tenda com autorização das universidades e colocava microfones para quem quisesse dialogar. Isso torna o contexto do crime ainda mais macabro: ele estava dentro de uma universidade conversando com estudantes e teve sua morte friamente planejada e executada ali.

O assassino, Tyler Robinson (22), usou um rifle com mira telescópica para matar Kirk. Em uma das balas encontradas com o rapaz estava escrito: “Pega essa, fascista!”. De acordo com o promotor do condado de Utah, Jeff Gray, seus pais relataram que ele estava apoiando discursos e se alinhando cada vez mais à “esquerda radical”.

Para o espanto de ninguém: lamentavelmente, esse discurso “antifascista” tem sido um dos slogans para grupos radicais atacarem seus oponentes políticos. A tática de desumanização tem sido uma arma nas mãos de pessoas que não ficam apenas no discurso, mas partem para o ataque também.

Essa tática da esquerda radical é antiga. Iniciou no berço de um dos regimes mais brutais da história humana: a União Soviética. “Fascista”, palavra que muitos atribuem à extrema-direita, era o termo de abuso preferido, utilizado especialmente por Lenin e Stálin para classificar seus inimigos.

Se uma pessoa fosse considerada “fascista” pelo regime, mesmo que fosse um comunista contrário ao terror vermelho, seus bens seriam tomados, ele seria preso e/ou executado. A maior prova disso é o que ficou conhecido como “O Grande Terror” de 1937-1938: entre 700 mil e 1 milhão de pessoas foram executadas por desvio ideológico, contrarrevolução e fascismo.

Porém, a esmagadora maioria dos estudiosos, russos e ocidentais, após vasculharem os arquivos secretos soviéticos depois da queda do regime, concluiu que a maioria das vítimas eram comunistas que se opunham às políticas desumanas de Stálin, como Zinoviev, Kamenev e Bukharin. Bastou o regime classificar esses “inimigos” como “contrarrevolucionários fascistas” para terem sinal verde para executá-los às centenas de milhares.

Historiadores soviéticos mostraram ao mundo o perigo dessa estigmatização e abuso ideológico. Um exemplo notável vem de um dos responsáveis por liberar milhões de documentos secretos soviéticos ao mundo: o professor Dmitri Volkogonov.

Em sua biografia de Stálin (p. 75), ele afirma que “Stálin, que mandara milhões de pessoas para a morte ou para os campos de trabalho pela mais tênue suspeita de impureza ideológica, demonstrava uma excepcional falta de escrúpulo ao confraternizar com o fascismo.”

Aliás, verdade inconveniente: o professor nos lembra que os que mais chamavam os outros de fascistas foram os que se tornaram grandes amigos dos fascistas durante um terço da Segunda Guerra Mundial.

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O modus operandi da extrema-esquerda, ontem e hoje, é o mesmo: desumanizar o inimigo com o que há de pior, e o termo “fascismo” tem servido a esse propósito de forma descarada

Muitos alunos e professores em universidades públicas aqui no Brasil usam a mesma tática em algumas ocasiões.

Já ouvi o grito: “Recua, fascista! Recua!”. Fora o fato de muitos deles serem apenas pessoas mimadas e não saberem sequer o que significa a palavra fascismo, isso revela como o espaço público está contaminado por essa criminalização discursiva perigosa, e isso precisa ser combatido pela lei.

Ora, todos concordamos que o fascismo e o nazismo são corretamente criminalizados em nossa sociedade, e não deve haver espaço para a mínima apologia a esses regimes. Da mesma forma, se o fascismo é considerado um crime, chamar alguém de fascista deve ser igualmente considerado um crime, pelo terror histórico que esse termo causou a milhões de pessoas — tanto por aqueles que agiram em seu nome quanto por aqueles que sofreram por ele.

O peso histórico dessas palavras deve ser levado muito a sério pela legislação de qualquer país democrático, e as pessoas precisam ser responsabilizadas legalmente pelo uso irresponsável que fazem delas ao desumanizar outros.

Não se trata de meros xingamentos ou ataques verbais, que fazem parte da liberdade de expressão em nossa sociedade. Porém, termos como “fascista” extrapolam os limites aceitáveis.

Pessoas são desumanizadas nas redes sociais com esses termos criminosos. Portanto, o uso e abuso de termos criminosos e a incitação à violência física contra outras pessoas devem ser criminalizados para o bem da própria sociedade ocidental.

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