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Thiago Braga

Thiago Braga

Entender a história da guerra é entender a história dos homens. Uma nova coluna todo domingo.

Guerra cultural

TikTokers contra a Idade Média

A onda de difamação movida por tiktokers contra os medievais atende a uma agenda progressista que se vale do sensacionalismo para alcançar seus objetivos políticos. (Foto: Thiago Braga com ChatGPT)

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Tenho certeza de que o leitor já se deparou com aqueles vídeos curtos do TikTok ou Reels sobre a Idade Média, que vêm inundando os feeds dos amantes de história. Segundo esses conteúdos, os medievais tomavam banho uma vez por ano, jogavam fezes e urina pela janela de casa, e as noivas se casavam em junho porque, em geral, tomavam banho em maio — ou seja, estariam menos “fedidas”.

Para aquelas mais "malcheirosas", o tradicional buquê de flores foi inventado para aliviar um pouco o cheiro ruim que começava a aparecer. Aliás, se você acha que o leque, símbolo de elegância, foi criado para a nobreza se abanar do calor, está enganado: de acordo com esses vídeos, ele teria sido criado para esconder o mau hálito e os dentes podres das mulheres europeias. Duvida? Pode perguntar a qualquer um desses tiktokers — eles juram que era assim mesmo!

Tal combo de besteiras (besteira, aliás, é um eufemismo aqui na impossibilidade de sujeitar o leitor a palavras mais sujas que descreveriam o que é dito nesses vídeos) parece ter sido tirado direto de um dos filmes do Monty Python, excelentes em sátiras, por sinal.

Essa campanha de difamação contra os medievais me levou a fazer um vídeo no meu canal, Brasão de Armas, em que exponho tamanha difamação e desinformação contra os povos europeus. Felizmente, o vídeo teve um grande alcance, e tenho certeza de que ajudou muitas pessoas a tirar essa mancha injusta do dia a dia daquelas pessoas.

O ataque à Idade Média europeia é algo antigo: surgiu com o Iluminismo e o Renascimento, e sua necessidade de destacar o período em que viviam. O que viera antes deles e depois do Império Romano foi jogado na lata do lixo, quase literalmente.

Claro que os avanços científicos e tecnológicos a partir do século XVI foram notáveis, mas curiosamente, no quesito higiene, estes, sim, eram piores que na Idade Média. Mas falaremos sobre isso posteriormente.

O demérito aos europeus medievais vem com uma valorização (ou supervalorização) de outros povos: muçulmanos, africanos e asiáticos. De repente, eles eram o que havia de mais sofisticado no mundo, e os europeus eram apenas brutos incapazes de enterrar suas próprias fezes.

Fica claro assim que a perpetuação preconceituosa contra os medievais faz parte de uma agenda ideológica progressista que precisa empreender uma guerra cultural para cooptar mentes a suas pautas políticas, através do apelo ao sensacionalismo

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Ora, os povos árabes, asiáticos e africanos antigos podem e merecem ser destacados em seus avanços culturais e tecnológicos, mas isso não é suficiente; é preciso fazer uma comparação com um povo específico: a desvalorização do branco europeu.

As mulheres muçulmanas e africanas da nobreza eram lindas e vaidosas, usavam joias, e perfumes; já a rainha Isabel de Castela se orgulhava de ter tomado apenas um banho na vida... Essas mentiras geram polarização e mais ódio, que podem gerar mais preconceitos de todos os lados.

Tal preconceito, como disse, é antigo e não encontra apoio nos estudos e obras especializados no assunto nos últimos cem anos (pelo menos). Essa noção da “terrível” falta de higiene europeia e todas as outras abomináveis práticas têm sido rejeitadas contundentemente como desinformação e falsificação da história medieval. Não deixe de ler a próxima coluna, que virá fresquinha e cheirosinha para vocês...

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