Unidos pelo Amor

Ohana: família, empatia e muito amor em uma ­comunidade no Facebook

14/12/2022 18:05
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Cris e o filho Bernardo: a maternidade despertou o desejo de reunir mães para troca de informações e acolhimento. | Divulgação

Você sabe o que significa Ohana?
Ohana tem origem no Havaí. A palavra do idioma havaiano significa família, que na cultura dos nativos do arquipélago inclui parentes de sangue ou adotados. Nesse conceito de família, os membros estão ligados e devem cooperar entre si.
Essa definição não poderia ser mais perfeita para representar o grupo Ohana, onde a parentalidade é levada muito a sério. Tanto é, que este grupo está no time de comunidades escolhidas para serem aceleradas pelo Facebook em 2022.
Apesar de não ter mais crianças pequenas, adoro acompanhar as conversas que acontecem na Ohana, principalmente quando vejo uma mãe sendo abraçada virtualmente e acolhida nas suas inseguranças e medos que normalmente chegam junto com o tão sonhado filho.
Quando resolvi escrever sobre a Ohana, fiz um post lá perguntando para as meninas qual era a parte mais legal de participar da comunidade e se a mesma já as tinha ajudado ou acolhido em algum momento. Confesso que as respostas deixaram meu coração quentinho e com mais fé ainda na força das comunidades digitais.
Uma das respostas representou bem o espírito de Ohana:
“A parte mais legal é a segurança que temos em saber que as informações, por mais que se leve em consideração a experiência pessoal, não deixam de lado a evidência científica e as recomendações dos órgãos competentes. O grupo me ensinou a ‘colocar meu achismo e meu julgamento no bolso’ e procurar um olhar além do que meus olhos podem enxergar dentro de qualquer situação. A sensibilidade que vejo nas moderadoras em acolher e orientar é contagiante. Sempre me senti acolhida por aqui e o motivo é um só, saber que por mais que eu precise ouvir coisas que me sejam incômodas, isso será feito com muito respeito e empatia”, comentou Monalisa Silva, uma das integrantes da comunidade.
A comunidade liderada por Cris reúne mais de 16 mil mulheres no Facebook.
A comunidade liderada por Cris reúne mais de 16 mil mulheres no Facebook.
E quem começou toda essa história de acolhimento na internet foi a Cris Vasconcelos, uma paulistana que com o nascimento do seu filho se incomodou com algumas frases prontas que ouvia por aí.
“Dizem que, quando nasce um bebê, nasce uma mãe. E que, ao nascer uma mãe, nasce uma culpa. Mas, em 2016, com o nascimento do Bernardo, nada disso fez sentido. Com aquele pacotinho de amor, chorão e tão doce, não vieram o saber supremo, o instinto que não falha. Não cumpriu-se o mito da mãe que nasce plena, pronta”, me confessou Cris em nossa conversa.
Cris e o filho Bernardo: a maternidade despertou o desejo de reunir mães para troca de informações e acolhimento.
Cris e o filho Bernardo: a maternidade despertou o desejo de reunir mães para troca de informações e acolhimento.
E, no misto de sentimentos e demandas que é ter um filho, Cristiane Vasconcelos passou a procurar ajuda em grupos de Facebook. Em pouco tempo, aquelas mulheres desconhecidas, mas com tanto em comum, tornaram-se um alento para os momentos mais complexos. Sua participação era tão assídua, que logo foi convidada para administrar e moderar algumas comunidades.
Apesar de encontrar algum refúgio nos grupos, havia uma inquietação dentro desta mãe que foi crescendo e ganhando forma, ainda que tenha levado uns anos para que a coragem fosse suficiente para o primeiro passo. Mas ele veio, tão forte, que trouxe de cara uma equipe com doze moderadoras.
Em novembro de 2019 nascia a Ohana! Uma comunidade voltada ao acolhimento responsável, embasado em evidências científicas. Aos poucos, mais e mais famílias foram chegando e ficando. Até que, em meados de 2020, foi necessária uma reestruturação. O time de moderadoras passou a receber uma formação, de modo a estarem capacitadas para o acolhimento das famílias.
Nesta mesma época, a comunidade passou a participar dos programas do Facebook, até que em outubro de 2022, dentre quatro mil comunidades inscritas, Ohana foi uma das onze contempladas com o programa de aceleração e, hoje, este sonho ganha asas e a possibilidade de abraçar muitas famílias.
Encontro entre Mônica e Cris Vasconcelos, durante evento da Meta em São Paulo.
Encontro entre Mônica e Cris Vasconcelos, durante evento da Meta em São Paulo.
A Comunidade Ohana hoje conta com 16.700 membros no Facebook, além de 4.900 no Instagram. São pessoas acompanhadas de perto, por um time criteriosamente treinado, multidisciplinar e empático.
O início da jornada materna de Cristiane não foi muito gentil, sendo até bastante conturbado. Mas para uma mulher que sonha e persevera em seu sonho, a dor tornou-se cura - não somente para si, mas para dezenas de milhares de famílias ao redor do mundo.
Atualmente, a “Cris da Ohana” reuniu um time de mulheres também sonhadoras e perseverantes, para que não falte acolhimento e informações de qualidade - da gestação à adolescência. Porque família, é crescer junto - com amor e responsabilidade. Isso é Ohana.
E histórias não faltam nessa comunidade incrível...
“Dentre tantas histórias que tivemos ao longo destes anos, a Maria Isabel do Amaral sempre me chamou atenção. Nascida e criada em Luanda, em um cenário onde filhos são educados com base na imposição e sem diálogo, foi na chegada do seu terceiro filho que ela resolveu se reinventar. Acompanhei sua quarta gestação e a chegada de sua caçula. Hoje temos quatro anos de aprendizado juntas, eu no Brasil e ela em Angola. Sempre acompanhando o desenvolvimento de seus filhos, sanando dúvidas. Já nos tratamos por comadres e só espero um dia poder encontrá-la pessoalmente”, me contou a Cris muito emocionada.
Outra história que motiva Cristiane é a da amiga Tahyta Passos, que já fazia parte de seu círculo de amizades antes da maternidade. “Quando soube da gestação dela eu parabenizei e me coloquei à disposição. Mas como eu faço com todas as gestantes conhecidas, não costumo chamar para minha comunidade. Me coloco à disposição e busco não invadir suas escolhas. Foi logo após o nascimento da Sofia, que ela me procurou e pediu para conversar. Me falou sobre seus desafios e eu me vi em muitos deles, e foi naquele momento que eu pude ser o amparo que não tive. Através dela eu pude curar muitas das minhas dores. Hoje, além da nossa amizade fortalecida, ganhei uma incentivadora e constantemente recebo novos membros falando coisas do tipo: ‘foi uma moça no consultório que me convidou’, ‘foi uma moça no mercado’.  Já cogitei até cartão de visita para ela distribuir”, conta Cris.
Segundo Thayta, a comunidade foi de grande importância em sua vida após a maternidade. “Graças a Ohana, eu pude encontrar afeto e informações para tornar meu maternar mais leve. Eu tive depressão pós-parto, problema com amamentação, chegava a ter três crises de ansiedade por dia e vivia a insegurança de achar que não estava sendo suficiente para minha filha. Na Ohana fui acolhida, minha dor foi validada, recebi informação com qualidade e empatia e eu pude buscar o meu tratamento com segurança. Literalmente salvaram a minha vida pois durante a depressão pós-parto, eu cogitei tirar a minha vida muitas vezes. Hoje indico para todas as mulheres que vejo na rua, literalmente”, disse.
Eu poderia conversar com a Cristiane por dias, pois histórias assim me fazem acreditar cada vez mais no poder das conexões e elas acontecem com muita força em comunidades digitais.