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Allan Costa

Allan Costa

Allan Costa é empreendedor, investidor-anjo, mentor, escritor, motociclista e palestrante em dois TEDx e em mais de 100 eventos por ano. Co-fundador do AAA Inovação, da Curitiba Angels e Diretor de Inovação da ISH Tecnologia. Mestre pela FGV e pela Lancaster University (UK), e AMP pela Harvard Business School.

Transformação

Tecnologia: aliada ou vilã?

12/05/2020 13:00
Nos últimos anos, não tem sido raro
ver chamadas de textos, artigos ou matérias com premissas como: “A tecnologia é
uma ameaça à democracia?”; “Como a tecnologia pode ser prejudicial às
crianças”; “Como as grandes empresas de tecnologia controlam você”.
Como seres humanos, amamos
narrativas. Yuval Noah Harari defende extraordinariamente bem este ponto no seu
livro “21 Lições para o Século XXI”. Criamos narrativas e histórias para tentar
compreender melhor o caótico mundo no qual estamos inseridos.
E, assim como em (quase) toda
história, é natural que tenhamos heróis e vilões. Desde que a tecnologia
invadiu de vez nossas vidas, se tornou comum que especialistas, jornalistas e
outros profissionais começassem a tentar encaixá-la em uma dessas “caixinhas”.
Os smartphones? Tiram a concentração das crianças. Os vídeos no
YouTube? Uma terrível influência. Videogames? Deixam as crianças violentas.
Redes sociais? Não vale a pena nem mencionar!
Como quase tudo na vida, a resposta aqui não é (ou pelo menos não deveria ser) binária. Gosto de comparar essas narrativas em torno da tecnologia com as narrativas envolvendo o sal. É… o sal.
Durante anos, o sal foi declarado
como um vilão. Estaria relacionado a diversas doenças, sendo declarado o “vilão
da vez”. Algum tempo depois, descobertas científicas demonstraram que não era
bem assim… O sal passou, então, a não ser tão vilão. Décadas depois, a
narrativa voltou para o ponto inicial, e assim sucessivamente.
O exemplo do sal é simplista, mas
ilustra muito bem a narrativa da tecnologia. A tecnologia já foi salvadora da
humanidade… Maior vilã… Responsável por salvar a vida de milhões de pessoas…
Uma influência terrível para nossas crianças. Essas “acusações” variam de
tempos em tempos, dependendo do veículo, dos especialistas ou do dispositivo em
questão, mas sempre estão presentes.
No final das contas, ela não é nada disso. Ou então tudo isso ao mesmo tempo.
Se uma pessoa ingerir quantidades
absurdas de sal todos os dias, é natural que, uma hora, a conta vai chegar. Com
a tecnologia, a história é a mesma. Como mencionei acima, não existe uma
resposta binária e nossa tentativa de encaixar algo tão complexo e amplo como a
tecnologia (e sua variações) em caixinhas pré-definidas de “heroína” ou “vilã”
só nos deixa ainda mais perdidos sobre o tema.
A tecnologia é, de fato, transformadora. Imagine uma pandemia, como a do novo coronavírus, acontecendo há 100 anos, quando não havia tanta tecnologia médica, de trabalho e de informação como temos hoje.
Na verdade, ela aconteceu. A gripe
espanhola, que durou entre 1918 e 1920, infectou 500 milhões de pessoas no
mundo inteiro (mais ou menos 1/3 da população mundial). Estimativas sugerem que
ela tenha matado aproximadamente 50 milhões de pessoas. E, bem ou mal, aquela
crise foi superada, mas com as tecnologias disponíveis à época.
Em histórias envolvidas em
narrativas, o ceticismo é uma benção. Toda vez que alguém tentar encaixar a
tecnologia em uma “caixinha”, em um “lado da história”, dê um passo atrás.
A tecnologia não é heroína. Nem vilã.
Ela é apenas… a tecnologia. O que fazemos com ela é que define os resultados
finais, para o bem ou para o mal. Acima de qualquer narrativa.

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