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Ventos dificultam escoamento e colaboram com o represamento na lagoa dos Patos
Ventos dificultam escoamento e colaboram com o represamento na lagoa dos Patos| Foto: Divulgação/Defesa Civil RS

O nível da água no canal de São Gonçalo, que liga a lagoa Mirim à lagoa dos Patos no Rio Grande do Sul, atingiu volume histórico na noite de domingo (12). Às 19h chegou aos 2,88 metros alcançando a mesma marca das cheias de 1941. O recorde no nível do Guaíba durante o maior desastre climático do Rio Grande do Sul, no século 20, também foi superado em decorrências das tempestades na capital do estado, Porto Alegre.

Com a continuidade das chuvas no estado e a mudança nos ventos, o nível da água na lagoa dos Patos voltou a subir e, sem força, para o escoamento em direção ao canal para o mar, o risco de enchente se estende pelos próximos dias. No fim da tarde desta segunda-feira (13), o nível da lagoa dos Patos era de quase 2,40 metros, acima da cota de inundação, cenário de alerta máximo com tendência de subida do índice.

A lagoa dos Patos é uma laguna pela sua conexão com o Oceano Atlântico e recebe águas pluviais de metade do estado e das chuvas intensas no centro-norte do Rio Grande do Sul, que provocam as cheias do Guaíba e da lagoa dos Patos.

O fluxo de água fica represado nos chamados Molhes da Barra, na lagoa dos Patos, uma obra construída há mais de 100 anos com pedras em quatro quilômetros de extensão, que formam uma espécie de canal protegendo a saída dos navios. Na região, está um dos portos mais importantes do Brasil: o de Rio Grande. Para que a água escoa da lagoa para o mar há um canal estreito de cerca de 800 metros de largura que não tem dado conta, com celeridade, do volume recebido pela laguna durante a tragédia climática no RS.

Segundo os principais serviços meteorológico do país, a vazão cada vez maior sobre a lagoa, a variação dos ventos e a mudança na maré oceânica mantém o cenário de inundação, com volume em alta de forma gradativa e preocupante.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) informou que o potencial perigo às chuvas intensas termina na noite desta segunda, com precipitação se mantendo na terça-feira (14). Mas, o risco de inundação segue elevado ao longo da semana.

Alargamento de canal entre lagoa dos Patos e Atlântico necessita de estudos

E o que dizem especialistas sobre sugestões ventiladas nas redes sociais sobre o possível alargamento do canal para dar vazão à água?

Em nota técnica, o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS ) afirmou que uma passagem na faixa de areia que separa a lagoa dos Patos do Oceano Atlântico, como forma de acelerar a redução do nível da água, tanto da lagoa quanto de rios como o Guaíba, necessita de estudos e avalições intensas de impacto, que não pode ser feita sem uma ampla análise, sob risco de outros agravamentos.

“A obra exige estudos detalhados, com uma visão multidisciplinar e interdisciplinar para avaliar os impactos positivos e negativos. Sem tais estudos, há pouca garantia de que uma obra desse tipo garantiria um rebaixamento significativo do nível d'água no Guaíba e na lagoa dos Patos, que é governado por múltiplos fatores”, alerta.

O IPH avalia que, “tecnicamente, a abertura de uma nova barra envolve riscos elevados”, como a erosão das praias, a salinização do Guaíba e da lagoa do Casamento em Viamão, além de “efeitos negativos sobre o ambiente, à sociedade e à economia, afetando navegabilidade e a produção agrícola”.

Para os pesquisadores da UFRGS, é preciso considerar que o sistema teria elevados custos de implantação e manutenção, com uma operação complexa. “Uma obra desse tipo, sem as considerações necessárias, pode causar danos irreversíveis”, reforçou.

Questinado pela Gazeta do Povo sobre o estudo de viabilidade do alargamento do canal, o governo do Rio Grande do Sul não se manifestou até a publicação da reportagem. O espaço segue aberto.

Vento sul contribui para o represamento e aumenta risco de inundações

Enquanto o nível de inundação da lagoa dos Patos e no Guaíba segue subindo, a meteorologista gaúcha Natalia Pereira afirma que o vento sul representa o pior cenário no represamento da água. “Ele segura a água dentro da lagoa dos Patos, faz com que todas as áreas que são ribeirinhas da cidade acabem sendo inundadas”, esclarece.

Em nota, o governo do estado afirmou nesta segunda que nas últimas 24 horas foram registrados volumes significativos de precipitação na serra gaúcha, com acumulados próximos aos 80 milímetros nos vales. “Em função dos altos volumes das últimas 48 horas, praticamente todos os grandes rios do estado apresentam tendência de elevação, em cotas de inundação severa nas bacias dos rios Caí e Taquari, e posteriormente chegando no Jacuí, sendo que as cidades nos deltas das respectivas bacias estão com a permanência da cheia”, detalha.

Os rios Gravataí e Sinos continuam em elevação com a descida das águas para a confluência que ocorre no delta do Jacuí com o Guaíba. “No Guaíba se projeta uma nova elevação significativa dos níveis, que ainda se encontram elevados, com tendência de se elevar para valores próximos dos 5,5 metros nesta terça-feira, conforme a chegada da vazão pelos rios contribuintes”, prevê.

Segundo o governo do Rio Grande do Sul, a lagoa dos Patos apresenta níveis elevados e com tendências de retomar a elevação nos pontos monitorados das regiões costeiras ao longo da semana. Alertas de evacuação de áreas próximas são emitidos desde a sexta-feira (10).

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