Tudo o que poderia ter dado errado para a indústria de trigo nos últimos meses acabou, de fato, acontecendo: o clima derrubou a safra brasileira, em quantidade e qualidade; nosso “fornecedor emergencial”, a Argentina, amarga uma crise econômica profunda, que só piorou com a quebra climática da colheita de grãos, em que apenas o trigo se salvou, tornando-se uma ‘moeda’ altamente valorizada; e, por fim, a disparada do dólar em meio à indefinição política no Brasil. Em resumo, um pesadelo para quem depende de importações.
E se falta trigo no mercado, é bom se preparar: farinha, bolo, biscoito e, é claro, o pãozinho francês – tudo vai ficar mais caro.
“A situação é seríssima, nos últimos 10 ou 20 anos nunca se chegou a esse nível de stress”, diz Daniel Kümmel, diretor do sindicato da indústria do trigo no Paraná (Sinditrigo-PR). “Tivemos uma perda de qualidade de produto em torno de 40% por causa de seca, geadas e outros fatores climáticos. Estamos praticamente sem estoque de passagem, já importamos muito, da Argentina principalmente. Historicamente [os moinhos paranaenses] não importavam mais, mas tiveram voltaram a comprar por necessidade.”
O cenário, segundo Kümmel, fez com que os preços explodissem na Argentina, passando de US$ 190 por tonelada para US$ 260/(t). “E fez com que a paridade subisse aqui também. Um lote nacional ainda disponível, hoje, por menos de R$ 1 mil você não compra. E subiu partindo de R$ 700”, salienta o presidente do Sinditrigo-PR. “E ainda não refletiu 100% nos preços de repasse [ao consumidor], estamos falando num aumento na ordem de 40% da matéria-prima. A tendência é que, recebendo esse custo, cada moinho tenha seu próprio repasse. O consumidor final sentirá os valores.” Até a colheita mais forte da nova safra, a estimativa é de que a indústria paranaense ainda necessite de 500 mil a 700 mil toneladas de trigo (e mais da metade será importada da Argentina).
Se o cenário é esse no Paraná, que responde por 50% da produção nacional, em outras praças a situação é ainda mais grave. Em São Paulo, por exemplo, que produz aproximadamente 260 mil toneladas de trigo, mas consome 1,8 milhão de toneladas, o sinal de alerta foi ligado.
Lá, os moinhos também têm recorrido à Argentina. “A produção de trigo no país vizinho foi relativamente grande, mas a Argentina comercializou boa parte dos seus estoques para outros países, o que acabou reduzindo o volume disponível para as indústrias brasileiras. Além disso, diante da crise no país e da alta do dólar, os produtores seguraram seus estoques esperando o melhor momento para comercializar”, afirma o presidente do sindicato da indústria do trigo no em São Paulo (Sindustrigo), Christian Saigh.
Segundo dados da Argentrigo, os “Hermanos” possuem ainda um estoque estimado em 6 milhões de toneladas, que serão comercializados com o Brasil. “De acordo com os dados repassados pelos moinhos, o estoque de maio, que conta com trigo nacional, ainda atende a demanda do mercado, mas acreditamos que a partir de julho toda moagem no país será feita com trigo internacional”, frisa Saigh. “O trigo representa cerca de 80% dos custos de produção da indústria moageira e, neste ano, o grão já registrou aumento de 55% aos moinhos do estado [Em São Paulo]. O Brasil está em um momento importante de retomada do consumo e esse repasse poderá prejudicar esse movimento, devido ao aumento em produtos como biscoitos, massas e o pãozinho.”
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