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Solo arenoso e temperaturas de 40 grãos pareciam improdutivos até a chegada da soja Doko | Hugo Harada/ Gazeta Do Povo
Solo arenoso e temperaturas de 40 grãos pareciam improdutivos até a chegada da soja Doko| Foto: Hugo Harada/ Gazeta Do Povo

Depois de tomar conta do Sul, a soja se adaptou ao calor e logo encontrou uma vastidão de terras disponíveis na região central do Brasil: o Cerrado, hoje responsável por 59% do plantio (com 18 milhões de hectares) e 65% da produção nacional (ou 59 milhões de toneladas). E é nessa região de nove estados (Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Distrito Federal, Tocantins, Maranhão, Piauí e Bahia) que a oleaginosa deve avançar com mais força.

Pesquisas da Embrapa Cerrado abriram caminho. A variedade Doko, lançada duas décadas e meia atrás pela estatal, provou que a planta de clima temperado tinha condições de crescer e carregar vagens em solo arenoso e sob calor de 40 graus. Os resultados surpreenderam logo nos primeiros anos, conforme o pesquisador aposentado responsável pela seleção da Doko, Plínio de Mello. Nos laboratórios da Embrapa Soja, em Londrina (PR), o melhorista conhecido como “pai da soja”, Romeu Kiihl, ampliou o leque de sementes adaptadas.

Em uma década, as novas variedades conferiram ao Cerrado a responsabilidade de colher metade da safra brasileira de soja. O índice de 51% foi atingido ainda em 1997/98, quando a região ultrapassou a marca de 15 milhões de toneladas, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Nos últimos 15 anos, a abertura de novas áreas e os avanços tecnológicos multiplicaram a produção por 3,5. A Embrapa já lançou 50 variedades destinadas à região.

O Cerrado eleva a média brasileira de produtividade. Antes da expansão da oleaginosa na região, o Brasil colhia de 25 a 40 sacas (60 kg) por hectare de Minas Gerais para baixo. Hoje as marcas da região, entre 50 e 60 sc/ha, aproximam a média nacional dos 50 sc/ha, compara o analista da Embrapa Cerrado José Maria Camargos.

As duas regiões do Cerrado que mais expandem a produção de soja ficam em Mato Grosso (Norte e Nordeste) e no Matopiba (polo de produção de abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). As estimativas locais são de que, somente nessas fronteiras, há mais de 10 milhões de hectares sem restrições ambientais para a abertura de novas lavouras. Trata-se de áreas onde o corte da vegetação é permitido ou de pastagens degradadas.

Império do Sul

O fato de a soja ser vocação do Cerrado não diminui seu potencial em zonas tradicionais. A demanda internacional ainda tem muita força e não há outra fonte de proteína tão barata e com tanta disponibilidade, analisa o presidente da Coamo – maior cooperativa de produção da América Latina, com sede em Campo Mourão (PR), que se formou a partir da produção de soja–, José Aroldo Gallassini.

“Com produção de 12 milhões de toneladas [e consumo estimado em 85,9 milhões nesta temporada], a China vai ser sempre um comprador”, prevê. Gallassini conta que, em 1970, quando a Coamo nasceu, a região Centro-Oeste do Paraná não transparecia ter vocação para pecuária. A escolha pelos grãos se baseou nisso, relata.

Hoje, com a produção de frangos e de leite crescendo, o executivo não descarta investimentos nesta área. “Só Deus sabe.” Por enquanto, com a cooperativa faturando mais de R$ 8 bilhões ao ano, soja, milho e trigo seguem no comando. A empresa expande sua atuação rumo ao Cerrado, com sete unidades em Mato Grosso do Sul (há 50 no PR e 5 em SC).

A Região Sul detinha a liderança na soja até a década de 1990. Perdeu a posição quando Mato Grosso ultrapassava os 20% da colheita nacional. Nesta temporada, o estado do Centro-Oeste alcançaria o volume total dos três estados sulistas se Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul não tivessem reduzido o milho em 11%, para 1,9 milhão de hectares, reafirmando sua aposta na oleaginosa.

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