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Livro da semana – Longa jornada noite adentro
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Reprodução/internet
Eugene O´Neill: o drama da família norte-americana.

Eugene O´Neill nunca viu a sua peça mais famosa ser montada. Ele escreveu Longa jornada noite adentro em 1941 e deixou numa gaveta. Disse que ainda havia personagens na peça que estavam vivos e pediu para que só fosse encenada 50 anos após a sua morte.

Seu desejo não foi respeitado. A peça foi encenada em 1956, apenas três anos depois de ele ter morrido. Descobriu-se, na verdade, que apenas uma personagem ainda estava viva quando ele escreveu. Era Edmund, seu alter ego.

A peça representa de maneira trágica a história da família de O´Neill. Alguns nomes são trocados. Outros permanecem os mesmos. Eugene, o nome do autor, mostrando a verve trágica dele, é usado como nome de um outro filho da família, morto ainda criança.

O´Neill era de uma segunda geração de dramaturgos modernos. O início dos anos 1900 tinha visto a cena virar de cabeça para baixo (às vezes, literalmente…)

Artaud mandava personagens entrarem rolando em cena. Brecht queria que o espectador tivesse estranhamento com a cena. Beckett escrevia diálogos absolutamente estranhos.

Depois disso, veio a geração que pôde aproveitar as técnicas da vanguarda e usá-las em peças menos radicais. O´Neill estava aí, com seu temperamento romântico, pronto para fazer a mistura.

Seu talento, quando ele escreveu a peça, já estava mais do que demonstrado, inclusive por um prêmio Nobel recebido em 1936. Mas a peça que o pôs no cânone ainda ninguém conhecia.

Longa jornada note adentro mostra um dia na vida da família. São quatro pessoas. Pai, mãe, dois filhos. E alguns personagens menores.

A família é o que hoje se chama de “disfuncional”. Um pai sovina, uma mãe viciada em heroína, um filho mais velho que só quer saber da boa vida e um mais novo que é… bom, É Eugene O´Neill.

A ação se passa em 1912. O título seria melhor traduzido por algo como “Longa jornada de um dia até chegar a noite”, ou algo assim. Porque se passa desde manhã cedo até a madrugada.

É o dia em que a família descobre que o filho mais novo (O´Neill, portanto) está com tuberculose. Na época, uma doença muito pior do que soa hoje.

E o pouco equilíbrio que ainda há na família desaba.

A história é terrível, claustrofóbica, os vícios de cada um se repetem à exaustão, como se o autor quisesse nos cansar. E, no fim, você não consegue gostar de nenhuma daquelas pessoas inteiramente. Todos são, de um jeito ou de outro, maus com os outros.

Mas você não consegue deixar de sentir uma certa tristeza também por saber que aquele sofrimento todo é involuntário.

No fundo, é uma peça romântica (até tuberculose tem!) escrita com técnica do se´culo 20, o que talvez ajude a explicar o seu sucesso (o século 20 continuou coalhado de fãs do romantismo, apesar de tudo, não?)

E pode-se entender porque O´Neill não queria que o vissem como ele mesmo se representou. É tudo triste, muito triste. Mesmo para um romântico.

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