O governo apresenta suas armas
Discurso reticente, novidade inconsistente
E a liberdade cai por terra
Aos pés de um filme de Godard.
Os anúncios feitos pelo Presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, indicam que o pior da política (em tempo de paz) está por vir.
Na percepção usual, a política é o domínio da dissimulação, da traição, dos conchavos, das artimanhas, da imposição e do abuso que dobra as regras. O objetivo? Manter-se no Poder. Sim, embora a política não seja só isso, nos últimos tempos ela se resumiu a esse “xadrez” de articulações para a manutenção da posse do Poder.
Estratégias de Cunha
Armas de ataque 1: apoiar-se no clamor público contra Dilma (e o PT) para: a) impedir a votação de projetos importantes para o ajuste fiscal e tornar o Executivo ainda mais fragilizado; b) prometer aos seus aliados, caso se torne o futuro Presidente (ou o Primeiro Ministro, num pretenso parlamentarismo), que poderá haver uma “partilha do Poder” que os beneficie.
O que se espera do ataque: a) o ajuste fiscal proposto por Dilma transfere o arrocho para a sociedade; o Governo continua grande e fisiológico. Caso ele não seja aprovado, Dilma, para não ver a economia em situação ainda pior, terá que diminuir a estrutura administrativa, perdendo seu poder de barganha (nomeações de aliados em troca de apoio no Legislativo); b) quanto mais frágil se torna o Governo, mais Cunha se fortalece, reunindo em torno de si aqueles que querem partilhar o espólio do PT.
Mas, a recente delação contra Cunha acuou-o. Ninguém sabe ao certo de onde veio o golpe, mas, é certo que Dilma voltou ao tabuleiro.
Ataque 2:
A delação pode derrubar Cunha? Se a resposta for afirmativa, seu plano político será antecipado. A anunciada “ruptura” com o PT pode ser um sinal. O que vem por aí: a) mais investigações e constrangimentos contra o Governo; b) aumento de gastos públicos, com a aprovação de reajustes a servidores, etc.; c) abertura do processo de impeachment.
Estratégias de Dilma
Armas: distribuição de cargos, de apoios políticos e de orçamento para aliados.
Defesa/Contra-ataque: as armas de Dilma não vêm conseguindo isolar Cunha na Câmara. Mas, caso a percepção dos deputados que apoiam Cunha seja de que ele não conseguirá finalizar seu ataque no tempo certo, é provável que muitos sejam “perdoados” por Dilma e premiados com uma “fatia” do Governo.
Corrida contra o tempo.
O recesso parlamentar será o tempo que os jogadores terão para reposicionar suas peças. A grande questão é: de que lado o PMDB está? Dilma só tem a perder com tal indefinição. De um lado, Cunha e Renan a ameaçam. De outro, Temer a afaga, garantindo espaço no Governo. Quem tem em casa um desconhecido (aliado/inimigo?) pode ser desalojado a qualquer momento.
Mas, para Cunha, a indefinição também é ruim. Sem a certeza de que sua estratégia funcionará, ele poderá se isolar na Câmara.
É provável que ambos forcem uma definição do PMDB. Dilma, caso perca o PMDB, tentará socorrer-se dos partidos nanicos. Caso seja Cunha o derrotado, tentará migrar de partido para reconstruir suas forças na oposição.
O PMDB está com a balança e os pesos nas mãos. Mas, isso não significa que ele se definirá neste momento. Pode ser que a destruição recíproca faça surgir, no próprio PMDB, uma terceira força, crescendo nas/contra as entranhas do Leviatã.
Nada disso tem a ver com reformas para país, ou, com a retomada da estabilidade política e econômica. É que, neste momento, a inevitabilidade da política assume o primeiro plano, para nos manter ainda mais apreensivos.
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