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Verão nada doce
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Publicado originalmente no caderno Verão da Gazeta do Povo do último sábado (22).

Felipe Lima / Gazeta do Povo

Foi tudo muito natural. Certa noite, numa balada no Litoral, trocaram olhares. Mas acabou que não rolou nada aquela noite. Pelo adiantado da hora, ela tinha de ir embora, já que a amiga que daria carona de volta estava um tanto o quanto indisposta.

A coisa ficou por aí. Até o outro final de semana, quando se reencontraram na areia da praia.

Esperto, ele sacou que era hora de investir. O destino não havia posto aquela moça tão bonita no caminho dele novamente à toa. Foi até o ambulante que vendia de doces, pediu uma caneta emprestada e escreveu um bilhetinho para um menino que estava na areia entregar a ela.

Para dar um sabor ao flerte, enviou algumas balas de banana de Antonina junto com o bilhete, que dizia: “Ao vir para a praia, não sabia que encontraria algo ainda mais doce do que bala de banana”.

Ela abriu o bilhetinho, riu e ficou à procura do autor do mimo. Percebeu que o rapaz que sorria e acenava para ela era o mesmo com quem havia trocado olhares dias antes. Ficou extasiada.

Ele se aproximou, disse algumas gentilezas a ela, que riu daquele jeito de quem fica sem jeito: com o rosto de lado, olhando para o chão e uma sensação estranha de boa correndo pelo corpo.

Acabou que daquele bate-papo começou o relacionamento. Ele todo atencioso, cortês, educado. E além de tudo bonito. Um cara exatamente do jeito que ela sempre procurou.

A cada dia surgia uma nova jura de amor. Uma mais apaixonada do que a outra. O coração dela não se aguentava.

Até que percebeu que ele passou a ficar estranho a cada ligação no celular, a cada saída no barzinho. Já não era tão gentil como antes. Os carinhos foram se tornando ações mecânicas. Nem a porta do carro abria mais para ela. Ele estava diferente.

Um dia ela disse que iria visitar umas primas em outro balneário. Ele falou que preferia ficar, havia combinado um futebolzinho na areia com os amigos. Ela não se opôs. Afinal, ele também precisava se divertir.

Mas eis que quando estava saindo de casa, uma das primas liga dizendo que tiveram que ir a Curitiba de última hora. A mãe delas havia passado mal. Ficou preocupado com a tia, mas as primas logo a tranquilizaram: fora apenas um susto, a pressão alta já estabilizada. Mas, por via das dúvidas, melhor levá-la para mais exames.

Já recomposta do susto, decidiu ir até a praia vê-lo jogar futebol. Mas acabou vendo muito mais do que queria: o próprio namorado, aquele sujeito tão delicado e doce, tirando o papel de uma bala de banana e colocando todo carinhoso na boca de outra moça.

Ali havia acabado o namoro e, por consequência, a temporada de verão. Fez as malas, pegou o carro e subiu a serra no mesmo instante. Aos prantos, decidiu não olhar mais na cara daquele sujeitinho. E nunca mais comer bala de banana.

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