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E é tudo verdade
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Não se trata de privilégio de boteco, por supuesto, já que mancadas acontecem até na Academia Brasileira de Letras, ou no STF, mas o cliente de bar, não raras vezes, é fulminado por comentários que chegam a causar engulho mental.

Dois casos recentes, anotados com precisão de relógio suíço pelo amigo Júlio.

Dois fregueses chegam ao boteco conversando animadamente:

– Não sabia que você nasceu em Santa Catarina…

– Sim, Santa Catarina.

– Ah, então você é barriga d’água

– Não, você deve ter querido dizer barriga verde.

E tratou de esclarecer a origem de barriga verde. O regimento de Infantaria de Linha da Ilha de Santa Catarina, com base em Florianópolis, usava uma larga faixa verde como um cinturão, sob o dólmã do fardamento. O regimento fez história pela bravura, disciplina e honradez. Os soldados que usavam essa faixa tiveram importante papel inclusive na Guerra da Cisplatina, daí barriga verde passar a identificar os catarinenses.

Já no meio do caminho, uma pedra

Quase ao mesmo tempo, outros dois fregueses discutiam. O primeiro afirmava com a convicção dos que falam com o dom da verdade, ou latifundiários da verdade.

– A pedra no meio do caminho é poesia de Fernando Pessoa!

– Não, não é do Fernando Pessoa!

– Claro que é, não discuta comigo! Fernando Pessoaaaa…

Um terceiro cliente, já no limite da explosão, pediu a palavra e tascou, na íntegra, a poesia da discórdia:

No Meio do Caminho

No meio do caminho tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

Tinha uma pedra

No meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

Na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

Tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra.

Ato seguinte, anunciou o autor:

– Carlos Drummond de Andrade.

A dupla – ou parelha, como diz o Beronha – bateu em retirada. Em silêncio.

ENQUANTO ISSO…

24 fevereiro

 

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