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 | Ricardo Humberto/Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: Ricardo Humberto/Especial para a Gazeta do Povo

Eu sou professor de português. Essa definição, ela é no fundo correta. Por mais que eu fique dizendo que eu sou professor aí de linguística histórica, ou de história da língua portuguesa, no fundo é isso que eu sou.

Por que que eu estou dizendo isso?

Então, eu estou dizendo isso pra meio que abrir a porta pro que eu quero focar hoje. Aqui.

Todo professor de português, ele sabe que a língua, ela muda sem parar. Ele possui necessariamente o conhecimento disso e a noção de que é inútil ficar batendo de frente aí com toda e qualquer coisa que ele ache feia, esquisita, exagerada, na variedade oral da língua portuguesa do seu tempo.

O que que eu quero dizer?

O que eu quero dizer é que as coisas vêm e vão. São consideradas feias ou bonitas. Mas a permanência de um fenômeno na língua, ela vai ser determinada, a longo prazo, por elementos que meio que ninguém domina. Ou controla.

Então tem muitas coisas que elas me incomodam também, que nem todo mundo. Um professor, ou cronista, ele é gente! Mas eu não vou aí ficar focando nessas coisas. Porque eu possuo noção que elas são ossos do ofício, fatos da vida.

Por exemplo:

Se as pessoas, elas hoje em dia parecem sempre obrigadas a retomar um sujeito verbal sintagmático com um pronominal coladinho no verbo (ou topicalizar aí esse sujeito), o cronista, ele não pode reclamar. Não tem direito!

O que que eu estou focando?

Eu estou focando o fato de que ver as pessoas organizarem toda e qualquer exposição em torno de perguntas retóricas, uma atrás da outra, é uma coisa que não pode, aí, me irritar.

Então a mesma coisa vale pra quando as pessoas ficam metendo vários entões no discurso (escrito e principalmente falado), em lugares em que eles não explicam e não possuem nada pra conectar. Esses entões, eles estão ali meio que só fingindo que articulam o texto, e tendem a aparecer justo quando as frases NÃO estão se articulando aí de verdade.

Então até essa coisa de as pessoas, elas ficarem o tempo todo semeando as frases com uma palavrinha aí que ela simula aí uma espécie aí de informalidade, de improviso, num texto aí que no fundo ele devia era parecer construído, na ideia que eu possuo do que é um texto (mesmo oral) apresentável, então isso ele não pode aí me irritar.

Ok?

Eu tenho que focar em outras coisas! Não nesse súbito amor pelas focas que as pessoas aí andam tendo. Focando isso, focando aquilo. Uma focação sem tamanho, meu!

Quando o Sandro, meu primo, possuiu o bom humor mal-humorado de sempre pra me avisar que possuía agora por aí essa moda nova de possuir sempre um “aí” na frase, eu possuí que reconhecer tanto que ele continuava o mesmo cara que possuía um belo ouvido atento, quanto que eu não possuía o menor direito de reclamar!

(Tipo o que que cês possuem contra o maldito do verbo TER!)

Então, o que que eu quero com esse texto todo?

O pobrezinho de mim, ele só possuía aí que focar isso, então.

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