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Banda das mais importantes na transformação do rock em fenômeno de massa no Brasil, a Legião Urbana continua na pauta de Dado. Em entrevista, o guitarrista fala da importância do ex-grupo, de problemas com o herdeiro de Renato Russo e a gravadora e das demos esquecidas.

A Legião Urbana fez parte de uma cena muito importante para a formação da indústria cultural brasileira. Isso era perceptível para vocês na época?

As coisas estavam acontecendo, e a gente percebia, sim. Mesmo fora do eixo cultural do país, em Brasília, sabíamos o que rolava no Rio e em São Paulo. Daí veio a redemocratização do Brasil, a gente finalmente tinha voz, condições de se expressar e se entender como agentes culturais. E o rock, que vinha com força, acabou sendo esse caminho e ajudou a fomentar a indústria fonográfica. A gente era só uma peça do mecanismo, mas tínhamos essa vontade de mexer na ordem vigente e estabelecer uma nova sociedade. Paradoxalmente, hoje vivemos uma liberdade plena sendo ultrarreacionários.

Acha que fariam o mesmo sucesso hoje?

Não dá para comparar dois momentos tão diferentes. Na época, você tinha uma banda, entrava numa gravadora que ia promover ou não o seu disco no rádio e na TV e, se desse certo, isto impulsionaria a sua carreira. Hoje, o veículo é a internet, e os filtros são outros. Pensando bem, é provável que a gente hoje acabasse dentro de um nicho específico. Não acredito mais em fenômenos de massa como antes.

Mas na época vocês eram quase uma religião...

É, talvez fosse o caso de abrir uma igreja, que é um negócio legal, não paga imposto (risos). Como eu disse, éramos mais uma peça de um grande mecanismo e, por alguma razão, nos sobressaímos. Claro que, 30 anos depois do lançamento do nosso primeiro disco (Legião Urbana, de 1985), perceber que o nosso repertório ainda toca as pessoas é impressionante. Ver crianças de 12, 13 anos acompanhar nossa música me deixa chocado (risos). Para mim, só magia explica.

Como está a Legião hoje?

Eu e o Marcelo Bonfá (baterista e cofundador) voltamos a ser legalmente parte de quem fez a banda (até o ano passado, uma ordem judicial impedia que os ex-integrantes usassem o nome do grupo). Isso é um passo, mas ainda há a questão com o herdeiro (Giuliano Manfredini, filho de Renato Russo), coisas relacionadas à marca (que ainda pertence à Giuliano), enfim. Musicalmente, o principal problema é que a EMI, nossa antiga gravadora, foi comprada pela Universal, que não têm dinâmica para trabalhar o repertório antigo, tipo lançar uma reedição do primeiro disco com as demos feitas antes da gravação.

Ainda há material no baú da Legião, então?

Sim, há esses outtakes (sobras de estúdio) que dariam um belo disco na linha do Anthology, do Beatles (1995). Com um mínimo de trabalho que deve dar, vai vender algumas boas cópias num momento em que não se vende nada. Mas é tão complicada a relação com o herdeiro e com a gravadora que eu tenho uma preguiça enorme de lidar com tudo isso.

Como você avalia hoje a perda de Renato Russo?

Foi uma tragédia, a gente nunca acreditava que aquele dia chegaria. Ele deixou um legado incrível como compositor, cantor e intérprete. Era um artista fora do comum, o tipo de cara que faz muita falta, principalmente nos dias de hoje.

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