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Banda de Alex Kapranos (deitado) em meio aos irmãos Russel e Ron Mael, que já transitaram pelo glam e passaram pela new wave: química funcionou. | Divulgação
Banda de Alex Kapranos (deitado) em meio aos irmãos Russel e Ron Mael, que já transitaram pelo glam e passaram pela new wave: química funcionou.| Foto: Divulgação

No meio da década passada, o Franz Ferdinand jogou uma pitada de dance music ao pós-punk e se sobressaiu no meio daquele indie rock que, com The Killers e Arctic Monkeys como pontas de lança, começava a se tornar insosso. O álbum homônimo dos escoceses, lançado em 2004, venceu o tempo e se tornou quase emblemático, com músicas como “Take me Out” e “This Fire”. Isso no tempo em que a internet já era capaz de criar singles efêmeros e turbinar o consumo faixa a faixa.

Os discos seguintes, You Could Have It So Much Better (2005) e Tonight: Franz Ferdinand (2009), seguiram o mesmo rumo, com um pouco mais de peso aqui, uma pegada eletrônica ali. O último lançamento, Right Thoughts, Right Words, Right Action (2013), aconteceu em meio a boatos sobre o fim do grupo. E trouxe um interessante paradoxo entre a produção voltada à música eletrônica (Alexis Taylor e Joe Goddar, do Hot Chip; e o DJ Todd Terje) e faixas com crueza elegante, quase punk, como “Bullet”. Tá, mas e daí?

Daí que o Franz Ferdinand não acabou, mas continuou a carreira (se reinventou?) de maneira inusitada: compôs um disco em parceria com a Sparks, excêntrico duo norte-americano formado em Los Angeles na década de 1970.

Na verdade, as bandas já estavam trocando figurinhas desde a época em que o Franz Ferdinand cantava “Walk Away”, mas só agora um registro oficial foi lançado. F.F.S, pois, tem 16 músicas e é um baita disco.

Reprodução

Alex Kapranos, o barítono do Franz, começa a cantar em uma base de piano em “Johnny Desilusional”. Mas aí Russel Mael, do Sparks, faz em falsete o verso seguinte enquanto uma batida à Giorgio Moroder nos pega pelos dois braços e faz a música alcançar outro lugar, diferente de qualquer outro que ambas as bandas tenham trilhado.

Disco

F.F.S

Domino Records (Sony Music).

R$ 29,90. Rock.

A Sparks, formada pelos irmãos Russel e Ron, orbitou tanto o glam rock, no início da carreira, quanto a new wave e o art rock, mais recentemente – eles se vestem com roupas de brechó e, no palco, tem algo de O Gordo e O Magro. É da primeira fase da banda, por exemplo, “Call Girl”, que alia o equilíbrio entre sintetizadores e guitarras a um refrão simplesmente delicioso.

A química entre a eficiência pop dos escoceses e a loucurinha dos americanos é o grande trunfo do disco – exceto pela faixa “Piss Off”, dividida em partes claramente reconhecíveis, com peso iguais para lá e para cá. “Little Guys From the Suburbs” desvirtua um pouco esse blend, já que é uma balada lenta com letra comicamente existencialista (“Não há heróis nesta vida/ Eu roubei do banco de Jean Paul Sartre”); enquanto “Sõ Desu Ne” revisita Kraftwerk e Devo, antigas influências do Sparks, e a irônica “Collaborations Don’t Work” começa lo-fi até encontrar um caminho orquestrado que resvala em Queen. “Mozart não precisou de um Haydn para projetar/ Warhol não precisou perguntar para De Kooning sobre arte”, canta Kapranos.

Pode ser projeto de um disco só. Ou não, vai saber. Mas ouvir F.F.S, colisão entre quem estava meio à toa e quem nunca foi unanimidade, apesar da influência, é como ir para um show de indie rock lá por 2005 a bordo de um Mustang setentão: divertido.

Confira o clipe de “Johnny Delusional”, do F.F.S.:

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